Fui “pautado” para escrever sobre o dia das mães, em sintonia com as comemorações do fim de semana.
Dona Lourdes, minha mãe, renderia um livro.
Mulher determinada, inteligente, otimista, disciplinada, vencedora, dedicada.
Professora da rede estadual, chegou a ter que fazer parte do caminho para chegar no trabalho à cavalo. Não precisa dizer que ficava lá no fim do mundo.
Depois, veio mais para perto da cidade.
Eu nasci quando era professora da escola do Caverazinho, na época interior de Araranguá. Longe do “centro”.
Hoje, o Caverazinho é logo ali, praticamente na frente da Unisul, no outro lado da rodovia.
A mãe teve participação muito forte na minha formação, e definição de princípios.
Mas, não tenho dúvida nenhuma que a maior contribuição foi quando me pegou pela mão e fomos na rádio Araranguá.
Foi na “cara e na coragem”. Não conhecia o gerente e ninguém da radio. Mas, via que o seu filho ficava todos os dias grudado num aparelho de rádio ao lado da pia da cozinha, gostava de ouvir os noticiários, e ficava “imitando" os apresentadores/locutores e repórteres.
Foi um tiro certeiro. Ali começou o caminho que sigo até hoje.
Foi minha primeira carteira assinada. Faz 47 anos.
Comecei como auxiliar na secretaria, operador de áudio e redator. Mas, já fiz de tudo no rádio.
Trabalhei também com televisão, trabalho com jornal impresso, portal, tenho blog. Mas, rádio é paixão.
Enfrentou dificuldades, passou por fases delicadas, teve que se reinventar quando chegou a televisão.
Na época, chegou a ter decretada a sua pena de morte.
A televisão passou a fazer muito do que era feito pelo rádio (como a novela), com uma vantagem “mortal”. Alem da “voz”, tinha imagem.
Mas, o rádio ficou melhor. Mais dinâmico, focado na informação, no instantâneo, e na prestação de serviço.
Em Araranguá, trabalhei (e aprendi muito) com Antônio Rosa, Valdeci Gonçalves, Enio Quirino Nunes, Edson Cardoso, Vilmar Silva, João Batista.
Em Criciúma, encontrei de novo o Antônio Rosa, e tive parceiros como João Sônego, Milioli Neto, Aderbal Machado, Clésio Burigo, Adilamar Rocha, Paulo de Lima, Pedro Barcelos, Darcioni Silva, Antonio Luiz, Mario Lima, João Nassif.
Em 1992, Pedro Barcelos, gerente da rádio Eldorado, me chamou para apresentar com ele o “jornal falado” da manhã. Poucos dias depois, ele deixou só para mim. E estou no horário até hoje.
Acordo todos os dias às 4h30, mas sempre com satisfação e prazer. Porque adoro o que faço.
Isso me priva de muitas coisas. Praticamente não vou a compromissos à noite durante a semana. Os meus amigos me cobram.
“Por que tão cedo? Tu só vai pro ar às 7h!”, dizem.
Mas, é o compromisso de procurar entregar o melhor.
O ouvinte quer que eu conte o que tem de mais importante até aquele momento, o que vai ter durante o dia, como ficaram as pendências de ontem, e tudo o mais.
Para isso, eu leio os jornais, acesso aos blogs e portais, leio “trocentas" mensagens de wathsap, e-mails, facebook, e vejo noticiário de televisão e rádio.
Tudo isso, além da produção feita no dia anterior.
Por sinal, não é incomum acabar ignorando tudo o que foi preparado no dia anterior e tratar de pautas mais importantes que surgiram na noite ou madrugada.
Rádio é ótimo porque não tem monotonia. Sem chance de colocar no automático. Cada dia é um capitulo novo.
Quando estava na rádio Araranguá, guri ainda, de família humilde, estudava à noite porque tinha que trabalhar para ajudar em casa, mas não me fazia de rogado. Sonhava em um dia ter a minha própria rádio. Consegui. Com muito trabalho, desafios, riscos, subidas e descidas.
Mas, o inicio foi lá em julho de 1974, quando a Dona Lourdes decidiu subir as escadas da rádio Araranguá e convencer o “seu" Adulci Vieira, o gerente, a me dar emprego. Com o argumento que eu era adorava radio, era inteligente, e “sabia datilografia”.
O resto foi comigo. Mas, foi ela quem me colocou em campo para jogar.
Por isso, além da vida, da formação, dos princípios éticos e morais, devo à minha mãe tudo que tenho.
No seu dia, muito obrigado.