“Brasília, Brasília”, gritou um animado grupo vestindo azul e vermelho. “Não, não, Brasília não. Lá só tem ladrão”, respondeu às gargalhadas a festiva galera de verde e amarelo que compartilhava aquela limpa calçada de São Petersburgo em uma noite clara da “semana branca” russa.
“É que, em russo, Brasil eles falam Brasília”, explica o empresário Maurício Nassif, agente Fifa que curte nas cidades da Rússia a sua sexta Copa do Mundo. “Os mexicanos e os argentinos são com quem a gente mais faz festa aqui”, adianta o ex-diretor de futebol do Criciúma, Lesbon Aguiar, um de tantos que compartilha as emoções do Mundial.
A Rússia é um país gigantesco. Com seus 17 milhões de quilômetros quadrados, servem dois Brasis dentro dela, que se esparrama do leste europeu aos confins asiáticos, na costa do Japão. São 20 mil quilômetros de fronteiras com 14 países. “Tudo é grandioso, organizado e limpo. É um povo muito educado”, atesta o advogado Francisco Balthazar. “A educação é, certamente, herança do antigo regime. Foram 70 anos de investimentos pesados”, afirma, lembrando que a Rússia atual é um capitalismo de 30 anos, ante sete décadas de socialismo.
No podcast, o bate papo do Jornal das Nove da última segunda-feira, 18, com Albert Zilli e Chico Balthazar.
“Poydite v pantomimu”
O idioma deles beira o inalcançável para o falante do português. Foneticamente, “dobroye utro” é “bom dia”. E “skol´ko eto stoit?” é o necessário “quanto custa”, para saber quanto pagar pela comida, água e, claro, pela “kholodnoye pivo”, a cerveja gelada.
“Pouquíssima gente fala inglês aqui”, refere o advogado Alberto Zilli dos Santos, diretor jurídico do Criciúma e que está na Rússia desde a abertura da Copa. “Um em cada dez russos arrisca no inglês”, apostava, antes de partir para a Rússia, o criciumense Jorge Davi, que se mistura aos 23 amigos da Confraria da Máquina. Eles embarcaram essa semana e a conta mudou. Para menos. “Muito menos gente fala inglês”, ressalta Jorge. Problemas? “Que nada”, diz Albert. “Vai na mímica”, completa. Ou, em russo, “poydite v pantomimu”, ajuda o Google Tradutor.
“A gente fala em português, o aplicativo traduz para o russo. O taxista ouve. Responde em russo, o tradutor passa para o português e assim conversamos, nos divertimos e aprendemos”. É assim, segundo Maurício Nassif, que vão sendo os dias inesquecíveis na Rússia.
No podcast abaixo, a entrevista da última terça-feira com Lesbon Aguiar, mais um dos muitos criciumenses na Rússia.
Krome togo, Braziliya!
“Pra cima deles, Brasil!”. O título acima, em russo, carregava a torcida mais vibrante dos russos antes de a bola rolar. Porém, a Copa começou e eles sentiram que podem ir mais longe. “Os russos são apaixonados pelo futebol brasileiro”, observa o empresário Maurício Nassif. “Eles amam o Brasil”, reforça o advogado Albert Zilli dos Santos.
“Mas acontece que, com a Rússia ganhando, agora eles acreditam”, detalha Nassif. “Nos falam até em uma semifinal, uma final contra o Brasil”, complementa. Na Copa vista das confortáveis cadeiras das arenas – os brasileiros já conheceram as de Rostov e São Petersburgo, e quarta estarão na Arena Spartak, em Moscou –, há algumas certezas em comum. “Não jogamos nada na estreia”, lamenta Lesbon Aguiar. “Mas é bom começar na crescente”, atenua Cláudio Gomes. “O árbitro nos prejudicou”, lembra Albert, sobre o 1 a 1 com a Suíça.
O bate papo com Maurício Nassif no Jornal das Nove de quarta-feira você confere no podcast abaixo:
Emoção sem igual
Se a banalização dos hinos executados em quaisquer jogos de futebol no Brasil tira um pouco do encanto cívico, na Copa do Mundo é diferente. “O futebol é uma parte da festa”, pondera Jorge Davi. “Mas quando o hino toca, a emoção bate”, afirma Albert. “Nos emocionamos todos”, disse. “Toca profundo na alma, e não se sente isso todo dia”, refere.
E parece que essa emoção não perde validade mesmo com vários carimbos no passaporte. Maurício Nassif que o diga. Está em sua sexta Copa. “De 94 para cá só não fui na da África do Sul, minha esposa estava grávida”, revela. “Estados Unidos, França, Alemanha, Japão, Coréia do Sul, maravilhosas. A pior de todas foi a do Brasil”, avalia. “A Rússia se preparou muito bem”, comenta, referindo uma das tantas vantagens oferecidas aos visitantes. “O mais importante aqui nem é o ingresso, é o fan id”. Trata-se da credencial que cada torcedor carrega. “Com ela, andamos de graça qualquer dia, qualquer hora, no metrô, no ônibus”, explica.
No Jornal das Nove de quinta-feira a conversa foi com Cláudio Gomes direto da Rússia. Confira:
Leia a matéria completa nas páginas 28 e 29 do jornal A Tribuna hoje.