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A culpa é só do Doriva?

O técnico caiu, o diretor caiu, mas os problemas do Tigre não estão resolvidos

Por Denis Luciano 04/03/2019 - 23:30 Atualizado em 04/03/2019 - 23:38

É fato que o time do Criciúma foi extremamente mal montado para 2019. Poucas contratações, muitas de origem e qualidade imensamente duvidosas, em nome de uma economia que se impõe. Afinal, o presidente Jaime Dal Farra já deu claríssimas mostras da sua dificuldade para investir. Ele vai mantendo a ordem do dia com a esperança de fazer alguma venda que outra e, em paralelo, tentando o tiro na lua de dar certo com um time barato e chegar assim a algum lugar.

Eis uma opção de enorme risco esta assumida por Dal Farra. E o primeiro pára-choques dessa escolha suicida é o treinador. Afinal, é no futebol que está o produto. Em nenhum outro lugar. E produto duvidoso vira um triturador de treinadores.

Assim tem sido desde o início. Como Roberto Cavalo veio no vácuo da gestão Angeloni, e Dal Farra não poderia baixar tanto o investimento repentinamente, foi ele o treinador que mais sobreviveu nessa esmagadora de técnicos que virou a rotina tricolor. As circunstâncias da saída de Cavalo - algumas não esclarecidas, todos lembram - começaram a ditar um novo ritmo do Criciúma: do clube que se diz sem dono no seu marketing (hoje é o discurso vigente) mas que adota procedimentos de "empresa 100% privada", com dono. 

Assim, o investimento foi minguando, as apostas se proliferando dentro e fora de campo e de dois anos para cá o Criciúma vem dessa coleção de insucessos. No campo onde melhor o Tigre de Dal Farra joga é aquele que mais deveria encorajar o investimento que não vem: o das vendas. O presidente fez alguns e bons negócios. Daí, outra situação que dificulta a apresentação plural, aberta e transparente do Criciúma, afinal as transações do Tigre são envolvidas em segredos mercadológicos oriundos da iniciativa 100% privada. De novo, nesse Criciúma que já vendeu Roger Guedes, vendeu Gustavo e vai revendê-lo, passou Dodi adiante e alguns alguns, esse Criciúma até arrecada, mas difícil saber precisamente quanto.

Isso não importaria, se o investimento fosse compatível. Longe de acusar, não é o nosso propósito, mas apenas alertar para a dificuldade que o próprio Criciúma impõe ao pedido de proximidade com o torcedor. Ele quer ser próximo, mas não o é no essencial.

Logo, dar um time ao futuro treinador será necessário, senão vem aí mais um bombeiro como Argel, ou mais um corajoso como Mazola e Doriva, sem citar os mais antigos. A cada queda de treinador estão mais claras as razões das saidas de Lisca e Newton Drummond, afinal capacidade não lhes falta. Talvez tenha batido o pavor de alguns procedimentos aqui vistos e que precisam, com extrema urgência, ser atualizados e profissionalizados. Em nome da saúde do Criciúma enquanto instituição e do investimento de Jaime Dal Farra enquanto catalisador dessa busca desesperada por um futuro melhor.

As contratações deste ano? Elas derrubariam qualquer treinador. A vítima da vez foi Doriva. Isso não o redime de responsabilidades, naturalmente. Ele errou, e bastante. Culminou inventando Ceará em uma função que está longe de ser a sua contra o Marcílio Dias. Teimou em três atacantes em um elenco que mal tem dois. Teimou em esvaziar um meio de campo onde - receita básica da bola - deve ser povoado quando se trata de times limitados. Faltou ao Doriva a humildade de entender que está em um clube que monta um time para não cair à Série C do Brasileiro. E esse erro de cálculo do Doriva, somado à baixa qualidade do grupo a ele entregue, fizeram uma receita fatal e previsível: ele cairia cedo ou tarde.

Se caiu tarde? Não, afinal, quem em sã consciência acreditava no Criciúma campeão catarinense? Sinceramente? Ninguém. O time que entrou em campo veio para voltas por cima - que o diga o Maicon -, para tentar revelar - que o digam as lutas de Julimar e Reinaldo para ter as múltiplas chances que Bortoluzos da vida tiveram -, e veio para não dar vexame. E olha, está dando os seus vexames. Houve instantes em que Doriva tirou leite de pedra. E penso que, no fim das contas, ele está até aliviado com a demissão. A trapalhada de sábado, ao bater boca com um torcedor alegando que por conta de um copo arremessado, foi a linha final de uma história escrita por linhas tortas desde o princípio.

Doriva saiu quase que sem chegar. E de novo o Criciúma perdeu um tempo que não tem. Faltam menos de dois meses para a Série B e montar um time com a mínima condição de não fazer feio demais deve ser a grande prioridade agora. Que a coragem de demitir técnico e diretor executivo - mantendo Ricardo Rocha que não captou um sócio sequer e que para cá trouxe jogadores de qualidade bem duvidosa -, que essa coragem potencialize Dal Farra a fazer o que deve agora: investir. Senão... que venha o próximo treinador a ser demitido.

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