Na sua reserva costumeira, Antenor Angeloni não pisava no Centro de Treinamentos do Criciúma desde 2015. E olha que, durante seu quarto e último mandato iniciado em 2010, o ex-presidente poucas vezes apareceu lá pelo bairro Cristo Redentor. Não por nada, mas é o estilo dele.
Inegável, porém, que o empenho dele e de seus pares foi decisivo para o terreno deixar de ser apenas um quarteirão com alguns gramados e passasse a CT Antenor Angeloni, com mais de 3 mil metros quadrados de área construída, seis gramados, um mini estádio e todo o serviço social e de formação esportiva ali instalados. Cabe lembrar que em 13 de abril, no dia da estreia do Criciúma na Série B, informamos em primeira mão lá de Goiânia que o clube inauguraria o CT e batizaria com um nome histórico, e desde então especulamos o nome do Angeloni. Que bom que deu certo!
Acertou em cheio a direção do Criciúma ao decidir pela homenagem. Estava eu no ar na Rádio Som Maior, por volta de 15h50min de ontem, batendo um papo com o presidente Jaime Dal Farra quando Angeloni chegou discretamente, vindo de um corredor em nossa direção, tendo ao lado o advogado Albert Zilli dos Santos, diretor jurídico do Criciúma. Aproveitamos a oportunidade. "Presidente, por acaso o homenageado aqui no CT hoje é aquele senhor que vem ali?". Dal Farra virou-se, olhou para Angeloni e de pronto lembrou do segredo que vinha guardando a sete chaves. "Daqui a pouco vocês vão saber".
A novidade nem tão nova veio ali pelas 16h50min, durante o discurso de Dal Farra. Foi o instante de uma interminável e justíssima salva de palmas. Era visível a emoção de Antenor, afinal ele recebia todo esse carinho exatos dois dias depois de ter completado 82 anos. Um baita presente de aniversário. E o melhor: ninguém é eterno, Antenor sabe disso, e ser eternizado naquilo que se fez dessa forma, é de fato algo muito digno.
Dal Farra lembrou, em seu discurso, que os mais de R$ 10 milhões captados durante a construção do CT, com os projetos federais a partir de 2012, tiveram na empresa de Antenor Angeloni a maior parceira, seja com recursos diretos, seja com contrapartidas buscadas junto aos fornecedores da Rede Angeloni. Sem contar todo o resto da colaboração.
Sempre que uma homenagem vem à tona, há quem lembre de outros nomes. É pertinente. Mas estava na hora de homenagear Antenor Angeloni. Como chegará o momento de outros históricos. E hoje já deixei minha humilde sugestão no Programa Adelor Lessa. O Criciúma vai construir um museu no Heriberto Hülse. E nesse museu haverá uma galeria de troféus. Que o museu se chame Jorge Zanatta, o mecenas de todas as horas em tempos idos, e que a sala de troféus tenha o nome do que mais taças levantou na história do Criciúma, Moacir Fernandes. Deixo as dicas: Museu Jorge Zanatta e Galeria de Troféus Moacir Fernandes. Tomara que daqui a alguns anos estejamos assinalando essas conquistas.
Antenor Angeloni bateu um papo conosco no CT. Antes de descerrar a placa, ele encarou com a humildade habitual a homenagem, dizendo que estava tudo bonito, tudo certo e que ele encarava naturalmente a ocasião. Garantiu que não volta para o Criciúma. "Não quero", e mencionou sua idade e o desgaste que a função exige. Associou-se às dificuldades vividas por Jaime Dal Farra, afinal "querem time de Série A e não ajudam". Tá no podcast abaixo a entrevista com o "Salvador", como diz o Ney Lopes:
Os políticos fizeram a sua parte na inauguração de ontem. A destacar a fala do governador Eduardo Moreira (MDB). Ele tem um vínculo com o Criciúma, é inegável. Nunca negou ser torcedor, embora o jogo de cintura natural de quem viva de disputar votos. Mas fez um afinado discurso, usando da sua memória para recordar que fechava o consultório nas quartas à tarde nos tempos das partidas do Comerciário sem iluminação no antigo Heriberto Hülse, e que era ele o cardiologista responsável pelos exames dos recém contratados. E que foi na gestão dele enquanto prefeito, em 1995, que a área para o CT agora inaugurado foi cedida. Vale conferir o que ele disse:
O ministro do Esporte encarou a dificuldade do alto rodízio da função. Ele é ministro a tão pouco tempo que a primeira agenda dele, no começo de abril, foi justamente com Dal Farra. Sim, a primeira audiência de Leandro Cruz ao assumir o Ministério do Esporte, no dia seguinte de ser empossado por Michel Temer, foi com o presidente do Criciúma. E na oportunidade ele se comprometeu a vir inaugurar o CT. E veio. Falou pouco, mas valorizou a função social de um investimento como esse que, querendo ou não, teve apoio da União. E recebeu mais pedidos do Criciúma para captações com seus projetos de formação tanto no futebol masculino quanto no feminino. Tá abaixo o discurso do ministro:
Também discursaram o deputado federal Ronaldo Benedet (MDB-SC) e o prefeito Clésio Salvaro (PSDB). "Isso aqui é padrão Fifa", disse Clésio, que certamente voltou a cobrar do governador Eduardo a verba para pavimentar as ruas do entorno do CT. Todas as autoridades sacudiram bastante em seus carros encarando os buracos e pedregulhos da região do Cristo Redentor. "Antenor, seu nome está no coração dos criciumenses", definiu o prefeito.
Homenagens feitas, agora é voltar à bola rolando. "E não podemos cair para a Série C. Se for para não cair até eu visto um calção e volto a jogar". A frase, que despertou muitos risos no ambiente, veio de Eduardo Moreira, e resume o temor que ronda o ambiente. Um CT de Série A para um time de Série C? É, a virada é pra ontem.