Corria o mês de março de 2016. O Criciúma jogaria com o Brusque no domingo, dia 13, no Heriberto Hülse. O presidente Jaime Dal Farra trouxe a Criciúma, por indicação de um amigo do Rio Grande do Sul, um médico de São Paulo chamado Augusto Ferreira. "Ele chegou com uma malinha se anunciando e dizendo que aplicaria medicamentos em jogadores nossos", lembra o diretor médico do Criciúma na época, Marinho Burigo. Ali começou uma crise recente que ganhou desdobramentos agora, quase dois anos e meio depois.
É que a prática do médico trazido por Dal Farra gerou uma denúncia de Marinho Búrigo ao Conselho Regional de Medicina (CRM-SP). A intenção de Augusto Ferreira era ministrar um tratamento de ozonioterapia em Róger Guedes, titular do Tigre na ocasião. "Eu não deixei", recorda Marinho. "Ele não quis dizer o que aplicaria". Aquela situação gerou um desgaste interno. "O presidente e o técnico (Roberto Cavalo) estavam me forçando a aceitar o tratamento. Fui irredutível".
No dia seguinte, outros dois jogadores, o volante João Afonso e o atacante Jheimy, foram encaminhados pela direção para o instituto de Augusto Ferreira em Sorocaba, interior de São Paulo, sem o aval do diretor médico do Criciúma. Marinho Búrigo lançou uma nota pública de desagravo, pedindo uma manifestação da direção do Criciúma, que optou por demiti-lo na segunda-feira, 16. Em seguida, já demitido, Búrigo lançou outra nota, alertando para os riscos que o Criciúma estava assumindo.
Pois bem. O CRM paulista acolheu a denúncia feita por Marinho Búrigo e ontem ele foi notificado da conclusão. "O CRM está sugerindo a condenação do médico Augusto Ferreira em cinco artigos do código de ética médica, entre eles a prática de doping e por infringir relações entre médico e médico e médico e paciente, por falta de informações".
Cabe lembrar que, nos dois jogadores enviados para São Paulo pelo Criciúma, a equipe de Augusto Ferreira fez aplicações que resultaram em agravamento das lesões dos atletas. "O João Afonso teve um abcesso do tamanho de uma laranja que levou meses para curar. O Jheimy também perdeu muito tempo por causa daquilo". Até hoje, não se sabe o que o médico de São Paulo aplicou nos jogadores. "Sabemos que ele retirou sangue, fez uma manipulação e reintroduziu esse sangue neles, e isso é doping", detalha Marinho.
O Criciúma correu alguns riscos. Se Róger Guedes tivesse recebido a aplicação, que era a primeira intenção de Ferreira e Dal Farra, teria enfrentado um quadro grave como foram os de João Afonso e Jheimy. O clube recebeu, tempos depois, a visita da Agência Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) e passou por uma investigação pela prática de doping. Acabou isento pois o episódio e a investigação do CRM esclareceram que o procedimento era adotado na clínica, e não no clube.
O médico denunciado será submetido a um julgamento no Conselho de Medicina em São Paulo e corre o risco de perder seu registro. Buscamos contato com ele e com os jogadores envolvidos e voltaremos ao assunto ainda hoje na Rádio Som Maior e amanhã no jornal A Tribuna. João Afonso está atualmente no Goiás e Jheimy disputa a Série B pelo Sampaio Corrêa. Marinho Búrigo foi diretor médico do Criciúma por 47 dias.