Quando o Criciúma sagrou-se campeão do Brasil em 1991, logo após a bola ter parado no gramado do Heriberto Hülse na noite daquele 2 de junho de 91, no 0 a 0 diante do Grêmio, o saudoso Clésio Búrigo desfiava, a plenos pulmões, a orgulhosa campanha que acabara de levar o Tigre à Taça Libertadores da América. E lá pelas quantas (arquivos no Youtube provam isso) o consagrado locutor lascou na transmissão que ancorava na RCE TV: "Criciúma, a capital do futebol, por que não".
É. Claro que muita coisa aconteceu de lá para cá. O Criciúma colecionou acessos e descensos em nível nacional, é um dos mais frequentes nesse quesito. Mas amargou uma queda inédita em 2021, com evidentes reflexos agora. A quem é crítico dos campeonatos estaduais, eis a prova de que ruim com eles, pior sem. Aí está o Criciúma encaminhando-se para o fim de março com apenas dois jogos disputados na temporada. Enquanto isso, Avaí e Figueirense já atuaram 15 vezes em 2022. A Chapecoense, 13.
Catarinenses - Número de jogos em 2022 (até 19/3)
Avaí e Figueirense - 15
Chapecoense - 13
Brusque, Hercílio Luz, Camboriú, Concórdia e Marcílio Dias - 12
Barra, Joinville, Próspera e Juventus - 11
Criciúma - 2
E assim será até 8 ou 9 de abril (o desmembramento chega nos próximos dias) quando o Criciúma estreará na Série B do Brasileiro diante do CSA em Maceió. A saudade de casa é maior ainda. No Heriberto Hülse, a última vez do Criciúma foi em 31 de outubro. São exatos 139 dias sem a bola rolar no Majestoso. A última vez que o torcedor tricolor pisou no gramado do HH (literalmente) foi em 6 e 7 de novembro, na festança do acesso à Série B depois da vitória diante do Paysandu em Belém do Pará.
Esse jejum se espichará mais um bocado, já que a estreia na temporada em casa será somente na segunda rodada da Série B, diante do Londrina, em 15 ou 16 de abril. Ocorre que as duas únicas partidas de 2022 até agora, na recém encerrada campanha da Copa do Brasil, foram longe de Criciúma: em Nova Iguaçu (RJ) e Goiânia.
Essas amargas lembranças vêm à tona num sábado em que Brusque x Avaí e Camboriú x Marcílio Dias definem os primeiros semifinalistas do Catarinense 2022. E na véspera de um domingo no qual será a vez de Hercílio Luz x Figueirense e Concórdia x Chapecoense exercerem a mesma briga. No mesmo Estadual em que o Próspera foi de sensação a rebaixado, dando um péssimo sabor em dose dupla para Criciúma: duas temporadas, dois rebaixamentos para a cidade.
Série B do Catarinense
Ainda sobre saudade de Estadual, cabe lembrar que a Série B do Catarinense, inédita na vida do Criciúma (e que será a casa do Próspera em 2023), só terá o início da sua edição 2022 em 29 de maio, estendendo-se por três meses, até 28 de agosto. A tabela, portanto, será divulgada até o fim deste mês, seguindo a determinação do Estatuto do Torcedor, de divulgação dois meses antes do início da competição.
A competição é composta de turno único na primeira fase. Nove jogos para cada. Por questão técnica, Criciúma, Metropolitano, Nação, Carlos Renaux e Guarani jogarão cinco em casa e quatro fora. O contrário valerá para Atlético Tubarão, Inter de Lages, Atlético Catarinense e os recém promovidos da Série C, Blumenau e Caravaggio. Esses jogarão quatro em casa e cinco fora.
Feitos os nove jogos, os oito melhores avançam às quartas de final. Os dois últimos caem para a Terceira Divisão. Os oito que seguem fazem mata-mata em ida e volta até a decisão. Campeão e vice estarão promovidos. Logo, a jornada do retorno à elite exigirá do Criciúma passar por 13 partidas (as 9 da primeira fase, 2 da segunda, as quartas, e 2 da terceira, a semifinal). Daí virá a decisão em mais 2 partidas, totalizando 15 na Segunda Divisão. Só cumprindo esse roteiro o Tigre sai da Segundona.
Os adversários na Segunda Divisão
Sobre os adversários acima relacionados, o Criciúma nunca enfrentou três deles na história: Nação, Atlético Catarinense e Caravaggio. Contra os demais, tem histórico. Abaixo, um pouco mais de cada um dos nove concorrentes do Tigre.
Metropolitano: é de Blumenau, onde foi fundado em janeiro de 2002. Tem, portanto, 20 anos. Vem sofrendo com a falta de estádios nas últimas temporadas. Na elite em 2021, teve que mandar suas partidas em Ibirama depois do litígio com o Sesi, que deixou de alugar o Complexo Esportivo que mantém em Blumenau. Nos últimos meses, a prefeitura vem negociando a municipalização do complexo, que poderá dar uma casa para Metro e Blumenau, mas nada certo ainda. Foi rebaixado com o Criciúma. Conforme o Meu Time na Rede, Criciúma e Metropolitano já se enfrentaram 39 vezes na história. O Criciúma ganhou 20, empatou 7 e perdeu 12. No mais recente confronto, o Tigre conquistou a única vitória no vexame do Catarinense de 2021, 2 a 0 no Heriberto Hülse.
Nação Esportes: fundado em 2018 em Joinville, surgiu com a meta de ser modelo na formação de jovens atletas, e usar só jogadores com até 20 anos. Estreou no profissionalismo na Série C de 2019, terminando em terceiro lugar. No ano seguinte, foi vice-campeão da Terceirona assegurando o acesso. Na B de 2021 transferiu-se para Canoinhas, onde fez boa campanha. Brigou pelo acesso até as rodadas finais, sendo superado por Barra e Camboriú. Terminou em terceiro. Para 2022, o Nação Esportes voltou para Joinville, onde mantém um CT. Mandará suas partidas na Arena. Alegou que não teve receptividade do empresariado nem apoio da prefeitura em Canoinhas. Vai enfrentar o Criciúma pela primeira vez na história.
Carlos Renaux: contrapondo o caçula Nação Esportes, está o Carlos Renaux de Brusque, o vovô do futebol catarinense. Com seus 108 anos de história, é o clube mais antigo de Santa Catarina. Na B de 2022, é um dos três já campeões catarinenses na elite, a exemplo de Criciúma e Inter de Lages. O vovô levantou a taça em 1950 e 53. Em 2021 fez boa Série B, terminando em quarto. Depois de anos licenciado, voltou ao profissionalismo em 2019, sendo quarto na Série C. Conseguiu o acesso em 2020, em terceiro. Manda suas partidas no Augusto Bauer, estádio de sua propriedade em Brusque. Na história, segundo o Meu Time na Rede, enfrentou o Criciúma 24 vezes: o Tigre ganhou 13, houve 9 empates e apenas 2 vitórias do Carlos Renaux: no Catarinense de 81 por 1 a 0 e no de 83, 2 a 1, ambos em Brusque. O último confronto aconteceu em 29 de setembro de 83, no HH, com vitória do Criciúma por 2 a 1.
Guarani: o índio de Palhoça é outro veterano, tem 94 anos, mas só se profissionalizou em 2000. Manda suas partidas no estádio Renato Silveira. Estreou na elite em 2004, sendo o quarto do Campeonato Catarinense da Série A. Sofreu o primeiro rebaixamento em 2008. Voltou à Série A em 2014, caindo em 2016 de novo. Vai, portanto, para a sexta participação consecutiva na B, na qual as últimas campanhas não foram animadoras: quinto em 2017, nono e penúltimo em 2018, oitavo e antepenúltimo em 2019 e 2020 e quinto em 2021. O Meu Time na Rede lembra que Criciúma e Guarani de Palhoça já se enfrentaram 11 vezes, com 6 vitórias do Tigre, 2 empates e 3 derrotas. O último confronto foi vencido pelo Guarani, 2 a 1 em 1/4/2016 em Palhoça.
Atlético Tubarão: o Tubarão ficou em sexto lugar na Série B do ano passado. Lutou contra o rebaixamento, escapando na última rodada. Foi fundado em abril de 2005 como Cidade Azul. Ao conquistar o acesso à Série A de 2008, por pressão da torcida, mudou de nome, para Atlético Tubarão. Assim disputou a elite em 2008 e 2009, quando foi rebaixado. Jogou a B entre 2010 e 2015, sempre batendo na trave pelo acesso. Voltou à elite em 2016. No jogo do acesso, goleou o Porto por 9 a 1 jogando no Heriberto Hülse, em Criciúma. Em 2017 foi sexto na Série A, ganhou vaga na Série D do Brasileiro e faturou a Copa Santa Catarina. Terceiro do Estado em 2018, chegou à segunda fase da Copa do Brasil. Foi oitavo em 2019 e caiu no Estadual de 2020, em décimo e último lugar. Manda suas partidas no estádio Domingos Gonzales. O Meu Time na Rede aponta nove confrontos entre Criciúma e Atlético Tubarão na história, de 2009 a 2020. O Tigre ganhou 5, houve 2 empates e 2 vitórias do Peixe.
Inter de Lages: nessa Série B de 2022, é um dos três que já foram campeões estaduais na elite. Além do Criciúma (com 10 conquistas) e do Carlos Renaux (campeão em 1950 e 53), o Leão Baio foi o melhor do Estado em 1965. Tradição não falta ao Colorado lageano, fundado em junho de 1949, tem 72 anos e manda seus jogos no estádio Vidal Ramos Júnior. Tem 63 confrontos com o Criciúma entre 1978 e 2018, aponta o Meu Time na Rede. É o clássico dessa Série B que está por vir. São 28 vitórias do Criciúma, 16 empates e 19 vitórias do Internacional. Depois de 13 anos fora, o Leão Baio voltou à Primeira Divisão estadual em 2015 e, de quebra, fez grande campanha. Terminou em quarto e ganhando os três confrontos com o Criciúma, com direito a um 2 a 0 em pleno HH. Foi caindo de rendimento gradualmente: sexto em 2016, sétimo em 2017 e acabou rebaixando em 2019, nono e penúltimo lugar. Caiu em acirrada briga com o Hercílio Luz. Desde então, fez campanhas opacas na Segunda Divisão: quarto em 2019, sétimo em 2020 e repetiu a sétima posição na última temporada.
Atlético Catarinense: Caçulinha da Série B, foi fundado em 20 de março de 2020. Logo, completa dois anos neste domingo. É o primeiro clube profissional de São José, na Grande Florianópolis. Na temporada de estreia, mandou seus jogos em casa, no estádio Ênio Amantino da Silva, e deu certo: foi campeão da Série C. Guindado à B de 2021, foi forçado a buscar outra casa, já que a FCF apontou necessárias melhorias à casa do Atlético. Buscou abrigo no Orlando Scarpelli, alugado pelo Figueirense, e ali fez campanha fraca. Acabou quase rebaixado. Terminou a Segundona passada em oitavo com os mesmos 17 pontos do rebaixado Caçador. Só escapou pois alcançou 4 vitórias, contra 3 do concorrente. Será a primeira vez que o Atlético Catarinense enfrentará o Criciúma e, se tiver sorte com a tabela, virá ao Heriberto Hülse. Senão, será a chance de o Tigre jogar no Scarpelli pelo Catarinense de 2022.
Blumenau: é o atual detentor da marca BEC no futebol catarinense. Mas não é exatamente o original Blumenau Esporte Clube, aquele de julho de 1919 e hoje teria 102 anos, e que jogou Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e acabou fechando as portas em 1998. O atual Blumenau Esporte Clube é outro, fundado em novembro de 2003 como Sport Club Madureira, que evoluiu de time amador Fez campanhas inexpressivas entre idas e vindas até que, em 2017, já sem o Madureira no nome (adotou o Blumenau Esporte Clube em 2015) sagrou-se campeão da Série C estadual. Terminou em sétimo na Série B de 2018. Em 2019, com dificuldades, o Blumenau não conseguiu adequar o estádio Erwin Blaese, em Indaial, dando WO em duas partidas. Com isso, acabou excluído da competição e rebaixado à Série C de 2020. Acabou se mantendo afastado, só retornando em 2021. Daí, levantou a taça, batendo na final o Caravaggio. Logo, o atual BEC nunca enfrentou o Criciúma. Já o antigo Blumenau Esporte Clube, conforme o Meu Time na Rede, jogou contra o Tigre 79 vezes entre 1980 e seu último ano, 1998. Foram 45 vitórias do Criciúma, 22 empates e 12 vitórias do BEC. Se o negócio da prefeitura de Blumenau para municipalizar o estádio do Sesi vingar até maio, daí pode ser que o Blumenau jogue em casa. Senão, manterá o que fez em 2021, disputando o Catarinense em Indaial, no Erwin Blaese.
Caravaggio: além de Nação Esportes e Atlético Catarinense, o Caravaggio é outro adversário que entra para a história do Criciúma nesta temporada. Farão o primeiro encontro oficial, e com o gostinho de um confronto microrregional por uma Série B de Catarinense. O Azulão é herdeiro de uma tremenda tradição no futebol amador. Fundado em 1970, serviu sempre como elemento de união entre os moradores do distrito de Nossa Senhora do Caravaggio e carrega a fé na Santa na camisa, onde ela historicamente está estampada, além da onipresença no vestiário do estádio da Montanha, abençoando os atletas. O Caravaggio foi um dos grandes do amadorismo. Primeiro, na região, com 6 conquistas do Regional da LARM (1995, 96, 97, 2000, 2011 e 2017) e outras 6 na Copa Sul dos Campeões (2003, 2006, 2010, 2013, 2016 e 2019). Depois alçou voo estadual, com o bicampeonato do Catarinense Amador em 2013 e 2019, e ganhou ainda o Sul Brasileiro em 2014. Na estreia no profissionalismo, em 2021, fez bonito na Série C, sendo vice-campeão e garantindo acesso. Mandou suas partidas no estádio Mário Balsini, do Próspera, e levou a decisão contra o Blumenau para o Heriberto Hülse, cedido pelo Criciúma. Em 2022 está fazendo as adequações e disputará a Série B na Montanha. Ou seja, Nova Veneza terá, pela primeira vez na história, jogos de futebol profissional em seu território. E pode ser um Caravaggio x Criciúma!