Não foi um pedido. Não foram dois. Foram dezenas. Os empresários amigos do genro Guto Fretta que estiveram na festa de 50 anos dele no sábado, no Caravaggio, pediram e muito que Antenor Angeloni, o sogro do aniversariante, aceitasse voltar a ser presidente do Criciúma. E são conversas sérias. "Ele não é mais aquela rocha intransponível quando se fala disso", nos contou hoje, na Som Maior, o colega Adelor Lessa, que estava na festança regada aos melhores vinhos na qual o Tigre foi, claro, assunto.
A lembrar que, hoje, Antenor está de aniversário. São 82 anos dessa figura histórica do Criciúma que mereceria, e muito, ser o homenageado com a placa que será descerrada quinta-feira, quando o CT do bairro Cristo Redentor ganhará um nome, em ato com a presença do ministro do Esporte, Leandro Cruz. O evento vai inaugurar o CT, que teve grande impulso para se tornar realidade na última gestão Angeloni.
Causou euforia entre os mais saudosos de Antenor no Criciúma a nota que o Ney Lopes colocou em sua página 27 de A Tribuna ontem. Diz a nota:
Quem acabou roubando a cena na bela festa dos 50 anos do Guto Fretta, sábado, foi sem dúvida o seu sogro, Antenor Angeloni, que foi o tempo todo assediado por alguns empresários presentes implorando para que voltasse a comandar o Criciúma. Não tive dúvida de que, pela sua emoção quando o assunto era tratado e apesar de ele afirmar que seu tempo já passou e que não tem mais força para comandar o Tigre, se houver uma mobilização forte de amigos, torcida e imprensa, é bem capaz de termos de volta o Salvador.
Tratamos do assunto hoje com o João Nassif no bate papo esportivo diário das 9h30min na Som Maior e o nosso comentarista foi no mesmo embalo. Contou que conversou com gente que estava na festa de sábado e que muitos apelos foram renovados para que o ex-presidente voltasse à rotina do Criciúma. "Houve apelos de gente de peso, empresários do porte do Ricardo Brandão que disse que, com Antenor de volta, colaboraria com ele e com o clube".
Uma vida no Criciúma
Antenor Angeloni nasceu em 15 de maio de 1936 em Turvo. Veio cedo para Criciúma, e logo se estabeleceu no comércio de secos e molhados. Com o irmão Arnaldo, abriu um mercadinho na rua 6 de Janeiro onde vendia pães, fiambres e de tudo um pouco. Ali nascia a Rede Angeloni, comemorando 60 anos neste 2018 como a maior redes de supermercados de Santa Catarina, a quarta do Sul e a décima do Brasil.
Circulando no Centro, logo se enturmou com os demais comerciantes e virou torcedor do Comerciário. Tanto que, muito jovem, em 1963, aos 27 anos, tornou-se presidente do clube pela primeira vez. Recebeu a presidência de Honório Búrigo e, no ano seguinte, repassou a Algemiro Manique Barreto, para se ter uma ideia de com quem andava aquele jovem comerciante vindo de Turvo.
Cresceu nos negócios e não se desligou do futebol. Tanto que em 1978 voltou a presidir o Comerciário. E foi com ele no comando que, no mesmo ano, a grande mudança ocorreu. Antenor liderou a transição para Criciúma Esporte Clube. Enfrentou as críticas dos comercialinos mais ferrenhos mas, ao fim das contas, provou que estava certo. Fomentou a reestruturação do clube, que andou por alguns anos licenciado do futebol profissional.
De 78 a 80, comandou o agora Criciúma pela segunda vez. Voltou em 84 para o terceiro mandato e, nele, mais uma revolução. Entendia que a mudança de identidade só estaria completa com novas cores e logomarca. Então vieram o amarelo, preto e branco a substituir o velho azul e branco que vinham desde os primeiros tempos do Comerciário, em 1947. E buscou com Carlinhos Lacombe, também, a nova logomarca, diferente e única. Pronto, estava feita a mudança plena. De novo com a digital do Angeloni.
Afastou-se. Ficou mais de duas décadas sem pisar no Heriberto Hülse. As razões? Muitas teses mas poucas certezas. O que importa é que, de novo, a necessidade bateu à porta, e aí veio ele. Antenor Angeloni retornou em 2010. O Criciúma vivia uma das piores fases da sua história. Empobrecido, endividado, com o estádio caindo (literalmente, fez uma imensa reforma no Majestoso), sem time nem dinheiro.
Sensibilizado pelos amigos, voltou. Pagou milhões em contas. Os credores faziam fila no Heriberto Hülse e saíam satisfeitos. Tudo quanto é tipo de dívida foram quitadas. Contratou Argel Fucks como seu primeiro técnico. Não montou um time milionário. Primeiro arrumou a casa. Mas não descuidou do campo. Era necessário sair da Série C. E conseguiu. Com Argel e um time operário, de Roni, Marcos Dener, Agenor & Cia, saiu da Terceira Divisão. A torcida veio junto, a lembrar aquelas 20 mil pessoas no jogo do acesso contra o Macaé.
Veio a Série B de 2011. O Criciúma já estava arrumado, mas o investimento ainda foi modesto. Suficiente para permanecer. Em 2012, o Tigre ousou um pouco mais. Com a estrutura ajustada, com o CT sendo erguido de vento em popa, com o estádio impecável, uma campanha dos sonhos e o acesso chegou. Antenor virava "santo", "rei" e vivia estado de graça. Mas como futebol é exigência, nem a permanência na Série A em 2013 livrou o "salvador" de críticas. Que se avolumaram em 2014 na campanha do rebaixamento no Brasileirão.
Nesse meio tempo, o Criciúma chegou a 15 mil sócios, marca inédita e histórica, e a camisa era coberta de patrocinadores. Todos, absolutamente todos, resultados do prestígio do presidente Angeloni e das relações dos seus negócios com o clube. Antes disso tudo, estava criada a GA, a empresa Gestão de Ativos que assumiu a co-gestão do futebol do Criciúma. Era a solução moderna para não voltar aos tempos antigos dos mecenas e pires na mão. E solução legal, avalizada pelo Conselho Deliberativo.
Em 2015 o Criciúma não cumpria boa campanha na Série B. Até que, lá por setembro, Antenor Angeloni anunciou que estava cansado, que era hora de passar o clube adiante. E ele apresentou o empresário Jaime Dal Farra como seu sucessor. A transição veio em outubro. O ex-presidente desligou-se do clube? Se não é visto mais em reuniões nem no seu camarote no Majestoso, não perde uma partida do Tigre na TV. "Vejo todas, e sofro muito", contou, em papo com o Adelor Lessa no sábado.
Parabéns, presidente Antenor. Vida longa e saúde ao senhor!