Nos anos 70 e 80, a agitação sindical de Criciúma e região tinha como epicentro o Sindicato dos Mineiros, na Avenida Getúlio Vargas. Erguido pouco antes disso para ser um polo sindicalista, foi concebido com diversas salas. A meta era estabelecer não somente a representação sindical dos mineiros, mas também de outras categorias ali. O projeto fez água com o tempo mas, por anos a fio, a força dos trabalhadores da mineração de carvão esteve ali representada.
Com o declínio da atividade mineradora em Criciúma, e a consequente expansão para outros municípios, colaborou para um declínio do sindicato em si. A redução da massa trabalhadora, com a mecanização das frentes de lavras, também levou a essa queda aguda nas últimas décadas.
Por último, o Sindicato dos Mineiros de Criciúma vinha contando com cerca de 700 associados, trabalhadores de minas da região. E as dívidas se avolumavam. Com isso, a atual diretoria encontrou uma solução: vender a antiga sede por R$ 4 milhões. Assim foi feito. A Construtora Corbetta comprou.
Há poucos dias, na virada de março para abril, as aberturas do prédio foram removidas, à exceção da porta principal do antigo sindicato. De resto, as dezenas de salas na Getúlio Vargas e na rua Ari Barroso estão escancaradas, expostas, com seus interiores repletos de sujeira, detritos, restos. A história recente dessas salas está contada ali, entre os entulhos.
Na primeira sala localizada na extrema do prédio pela Ari Barroso, funcionava um consultório médico e odontológico do próprio Sindicato dos Mineiros. O que restou ali dentro mostra isso. No antigo gabinete dentário, até um velho equipamento resta atirado ao chão.
Na sala de espera, uma TV fixada na parede sobreviveu à limpa, ao menos por enquanto. E pouco abaixo, um guichê de atendimento com as recomendações aos pacientes em cartazes nas paredes ainda resiste.
Nas demais salas, há churrasqueiras, banheiros e, na esquina, o que restou de um bar, que por anos a fio operou ali. O balcão do bar e até algumas garrafas e prateleiras ainda jazem por ali, contando a história de um dos muitos ocupantes.
Descendo pela Getúlio Vargas em direção ao Centro, destaque para a sala que ultimamente era ocupada pela Central Única das Favelas, a Cufa. É o interior de salas com melhor sinal de organização, embora a muita sujeira. As paredes adaptadas para uma casa noturna ainda está ali, até com a bilheteria do pequeno pub que existiu por último naquele espaço.
Nas demais salas, sinal de que bares e lugares que vendiam bilhetes de loteriais resumem um pouco das funções finais dos espaços agora desocupados.
Sobre o fim do prédio, ele está bem próximo. É questão de dias. A demolição já está planejada pela construtora, que ainda guarda a sete chaves o projeto futuro. Certamente, vem aí algum empreendimento mobiliário que tirará proveito da excelente localização do prédio, a poucos quarteirões da Praça Nereu Ramos.
O terreno ocupado equivale a uma parcela significativa de todo o quarteirão. Será o início do fim do Sindicato dos Mineiros? Na realidade, não. Com o dinheiro arrecadado, a dívida de R$ 1,7 milhão com o INSS está paga. Os R$ 300 mil devidos em impostos municipais, idem. E o restante, o presidente Djonatan Elias investe no novo salto do Sindicato dos Mineiros: a estadualização.
Com a autorização pelo Ministério do Trabalho para incorporação de outras classes laborais, como trabalhadores de extração de outros minérios em praticamente toda Santa Catarina, a base territorial saltará dos 700 atuais para mais de 18 mil trabalhadores. Com isso, o sindicato terá uma nova sede em Florianópolis e uma subsede em Criciúma. Pelo visto, é o início de um novo início para o velho sindicato.