Era o dia 25 de agosto de 1983. Na esteira do antigo Correio do Sudeste, e se propondo a ser o grande jornal de Criciúma e do sul catarinense - como foi por um bom tempo - o Jornal da Manhã passava a circular. E vinha imponente, com investimentos, tendo à frente o casal João Pedro e Zuleide Herrmann. Com times e mais times de jornalistas de peso ao longo das décadas, usufruiu de confortável liderança no mercado por pares e pares de anos.
Porém, começou um vigoroso declínio nos anos 2000. A crise se acentuou na década atual. De voos em céu de brigadeiro por mais de duas décadas, com faturamentos polpudos e liderança editorial incontestável, viu a ponta ser ameaçada até acabar destronado há pouco mais de uma década pelo A Tribuna e, na sequência, pelo Diário de Notícias, dois que atualmente formam um só, o Tribuna de Notícias.
Em uma das grandes fases que viveu, teve o nosso diretor aqui da Som Maior e 4oito, jornalista Adelor Lessa, como cabeça pensante, líder na administração e no conteúdo. O JM viu surgirem e desaparecerem concorrentes, sem sofrer arranhões. Pelo contrário, vendo circulação crescer e arrecadação, idem.
Porém, a aguda crise financeira, uma série de problemas administrativos e a natural perda de bons valores para a concorrência foram, pouco a pouco, fazendo ruir o JM, que ainda lutou bravamente nos últimos anos.
Em um cenário com três jornais a partir de 2010, quando o Diário de Notícias, do empresário Edson da Soler, entrou em circulação, e com já nesta época o A Tribuna - descendente do velho Tribuna Criciumense, de 1955 - despontando, o JM teve dificuldades para encontrar espaço no mercado. A publicidade começou a minguar, os adversários apareciam cada vez mais bem estruturados, melhor equipados e com as contas sob controle, e o Jornal da Manhã dava claros sinais de cansaço. Àquela altura, se algum dos periódicos criciumenses deveria sair de cena por questões de sobrevivência, cada dia mais parecida que era o JM o fadado a esse destino.
Mas, claro, o leitor acaba sendo o último a saber quando uma crise dessa corrói um veículo. Até as últimas semanas, as evidentes dificuldades eram mais visíveis para quem efetivamente vivia o mercado. Seja os ex-funcionários, a essa altura credores de uma massa quase falida que se tornaria inviável, seja os funcionários de então, acossados pelos problemas.
Houve dois momentos em que o Jornal da Manhã poderia ter mudado de mãos na história recente, antes do fechar das portas. Ainda quando a crise era muito mais interna que pública, eram recorrentes as sondagens externas. Houve uma bem adiantada negociação para que a então RBS adquirisse o JM e fizesse dele a sua marca impressa na região. O acordo fez água. Anos depois, na última sobrevida do Jornal da Manhã, o empresário Henrique Salvaro o levou para sua sede de comunicações, na Próspera, ao lado da Rádio Eldorado, e ali o matutino operou por algum tempo, na expectativa de uma adição de recursos e de uma compra pelo Grupo Salvaro, o que por fim não aconteceu.
Seguindo nas mãos do empresário Augusto Cancelier, seu superintendente até o fechamento, o Jornal da Manhã partiu para sua última sede, uma sala no Centro, não muito longe do andar inteiro que ocupou por anos a fio na Rua 15 de Novembro, um prédio que encontra-se até hoje vazio, desde a saída do JM daquele espaço por questões econômicas - sim, a esse tempo já faltava dinheiro para pagar o aluguel -, isso lá por 2016. No fim do mesmo ano, migrou da Próspera para o último endereço onde, um semestre depois, mandaria à gráfica sua última edição.
Foi em 10 de maio de 2017 que o JM saiu às ruas pela última vez. Era a sua edição de número 9.871. Estaria hoje já com mais de 10 mil edições publicadas. Vivia o seu ano 33, fechou pouco mais de três meses antes do trigésimo quarto aniversário. Nesta terça-feira teria completado 37 anos, se circulando estivesse.
Quando do fechamento, o diretor era Milton Carvalho. Ele avisava ao mercado que se tratava de uma suspensão, que poderia ser breve, conforme os encaminhamentos dados. Não houve como retornar. Os investidores não apareceram, as dívidas se acumularam e já faz mais de três anos que o Jornal da Manhã ficou no passado, como consulta de acervo histórico. E que acervo! Foram grandes e premiadas reportagens, de equipes fantásticas, de editores de alto nível, repórteres qualificados, fotógrafos primorosos, diagramadores habilidosos, colunistas super bem informados e articulados... enfim, uma lacuna importante ficou aberta na história de Criciúma com a extinção do Jornal da Manhã.
É muito difícil prever o retorno do JM. Quase impossível. Eu, como colunista que fui em quatro períodos diferentes, e penúltimo editor-chefe da história do JM, não acredito, sinceramente, no retorno. O cenário é outro. Os jornais impressos precisavam se reinventar, e os que não se reinventaram em tempo, naufragaram. Que o diga o Diário Catarinense, grande título do estado, que virou digital fruto do custo do papel. Aqui temos o Tribuna de Notícias, como nosso principal representante da mídia impressa, fazendo seu bom trabalho mas sem concorrente local. É o que o mercado acolhe e permite.
Que o acervo do JM esteja bem guardado, em bom lugar. As futuras gerações merecem e precisam saber das coisas de Criciúma e região de 1983 a 2017 pelas linhas sempre bem colocadas do saudoso JM.