Primeira experiência democrática presidencial do Brasil republicano depois de 29 anos, a eleição de 1989 beira o indescritível. Teve cenas inimagináveis nos tempos atuais, e a mais emblemática, com certeza, envolve Sílvio Santos.
Como a história já conta e reconta com propriedade, Sílvio decidiu-se pela candidatura à presidência aos 49 do segundo tempo. Tentou abrigo no PFL mas Aureliano Chaves não abriu mão e o jeito foi, com pefelistas debaixo do braço, tomar o rumo do obscuro Partido Municipalista Brasileiro. Ocorre que o PMB, número 26, já tinha um candidato, o pastor Armando Corrêa, que não titubeou em abrir mão para a chapa Sílvio Santos e Marcondes Gadelha.
O que isso tem a ver com o deputado Valdir Cobalchini e o MDB de 2022 em Santa Catarina? Absolutamente tudo! Essa é a pauta das pautas do Parlatório desta segunda, a partir das 19h, na Som Maior e no 4oito comigo mais Adelor Lessa e Upiara Boschi.
Vamos aos fatos então...
Cobalchini entrou na disputa pela candidatura ao Governo do Estado aos 49 do segundo tempo. Inscreveu-se no dia fatal, nem tanto como um efeito surpresa, muito mais como um guardador de lugar. Embora ele negue, evoque suas tradições emedebistas para dizer, como disse hoje no Plenário com Adelor Lessa e Upiara Boschi que "não se prestaria a esse papel", está evidente que Cobalchini, o candidato da bancada emedebista na Alesc, está no páreo para impor uma fração, que pode ser majoritária realmente no MDB, diante das pré-candidaturas de Antídio Lunelli e Dário Berger, mas não para ter Cobalchini na cabeça, e sim Carlos Moisés.
O deputado deu uma pista disso na fala à Som Maior, ao afirmar que o MDB não pode ser levado aos radicalismos de um lado e de outro. Não é segredo que uma eventual candidatura Antídio posicionaria o MDB do centro para a direita. Já uma vitória de Dário colocaria o MDB do centro para a esquerda. E a bancada na Alesc, representante natural das bases pelos muitos votos dos nove deputados, não quer o MDB pendendo para qualquer lado que não seja o do grande mecenas das verbas que estão fazendo sorrir à toa prefeitos Santa Catarina afora. E esse mecenas tem um nome: Carlos Moisés.
Está tão claro quanto cristalina é a boa água que, com Cobalchini vencedor (e arrisco apostar no favoritismo dele, por inúmeros fatores), Carlos Moisés ganha o tempo a mais que precisa para aparar as arestas que deseja e, então, anunciar em março a filiação ao MDB e, finalmente, vestir o 15 que precisa para ser candidato. Está tão longe de ser uma surpresa uma não candidatura de Moisés pelo MDB quanto será extremamente surprendente que Cobalchini seja candidato a governador. Fiel que é a Celso Maldaner, deputado federal e presidente estadual com o qual compartilha base no Oeste, Cobalchini marcha para novo mandato na Alesc, com promessa de expressiva votação mais uma vez.
Voltemos ao Sílvio Santos. A batalha dele nos poucos dias que teve na campanha na TV e no rádio era dizer, naquele histórico novembro de 89, que o Corrêa era ele: "A maior dificuldade minha é que o meu nome não aparece na cédula. Vocês que desejam votar em mim, não vão encontrar o nome do Sílvio Santos. Quem pretende votar no Sílvio Santos deve marcar um x no 26, 26 Corrêa, só que não é Corrêa, é 26 Sílvio Santos. Pois o 26 é o Sílvio Santos".
Podemos dizer o mesmo agora. O convencional, e são mais de uma centena de milhares, que procurar as urnas do MDB nas 295 cidades catarinenses no sábado, 19, que votar no Cobalchini, estará votando no Carlos Moisés. É esse legitimar que Moisés espera para se sentir indiretamente ungido. E os prefeitos já estão mobilizados. Aqueles que apareceram sorridentes com o governador compartilhando os projetos e os investimentos futuros do Plano 1000 estão nos calcanhares dos emedebistas para votar em Cobalchini. Pois quem quer votar no Moisés votando no 15, deverá agora votar em Cobalchini. Por mais que ele negue, ele é o Corrêa 26 de 89, e Moisés é o Sílvio Santos. Até tem se parecido ultimamente, tamanha a quantidade de dinheiro que maneja ao governar o Estado.
O tempo dirá.