O ex-presidente Fernando Collor de Mello foi um desses políticos que alterou sua postura nas redes sociais. E tem feito delas terreno fértil para abandonar a sisudez que sempre o caracterizou na vida pública, tornando-o um senhor mais afável, compreensivo com as críticas e até brincalhão. Nada a ver com aquele Collor que se notabilizou esbaforido, de língua afiada e altamente desconfiado em suas aparições pós impeachment, em particular ao longo dos anos 90. Não há como esquecer, por exemplo, a histórica entrevista à jornalista Sônia Bridi, em março de 1997.
Foi nessa entrevista que Collor disparou frases até hoje repetidas, como "isso é uma mentira, uma pantomima, uma patuscada", ou "eu repilo isso, com toda a veemência da minha força". Ele reclamava que, tão investigado que fora nas épocas da perda do mandato, entendia que se encontrava perseguido pela Justiça. "É uma mentira da Receita Federal, é uma mentira da Receita Federal, mentira da Receita Federal", repetiu, depois, quando indagado sobre a intrincada Operação Uruguai. "A seara de podridão que virou esse governo em termos de perseguição", apontou, a certa altura, em crítica ao então presidente Fernando Henrique Cardoso.
"Filhotinha, você está desinformada", chegou a falar, quando questionado pela jornalista sobre a possibilidade de concorrer à presidência em 1998. Vale relembrar a entrevista:
Collor ensaiou um retorno às urnas em 2000 quando, filiado ao PRTB (partido do bigodudo Levy Fidélix e do atual vice-presidente, Hamilton Mourão) tentou concorrer a prefeito de São Paulo. Chegou até a participar de debates mas acabou impedido de disputar a eleição. Voltou às urnas em 2002, ficando em segundo lugar na eleição ao governo de Alagoas. Elegeu-se senador em 2006, ainda pelo PRTB, logo migrando para o PTB.
No exercício desse mandato, proporcionou outra que foi para a história: um forte bate boca em plenário com o então senador Pedro Simon (MDB-RS) no qual fitava o colega de forma grave e disparava, bem ao estilo do seu vernáculo, respostas do nível "palavras que eu quero que o senhor as engula, e as digira como julgar conveniente", ou ainda "nem o senhor, nem quem mais esteja deblaterando como o senhor deblatera, parlapatão que é desta tribuna". Collor discordava de Simon que pedia a renúncia de José Sarney da presidência do Senado. Também vale recordar, para comparar com o Collor dócil nas redes agora.
Em 2010, voltou a concorrer a governador em seu estado, carregando o jingle "é Lula apoiando Dilma, é Dilma apoiando Collor". Não deu certo. Perdeu de novo. Reelegeu-se senador em 2014, começando o mandato que vai até 2002, transferindo-se em 2016 do PTB para o PTC. Em 2019, trocou de novo de partido, do PTC para o PROS.
De uns tempos para cá, o Twitter do ex-presidente vem sendo leitura obrigatória para quem é da política. Pela forma divertida com que interage e pelas respostas que dá às perguntas mais simples e até às mais desaforadas. Outro dia, pediu desculpas pelo confisco da poupança no início do seu governo, em 1990. Hoje, ele tratou de Dia Mundial do Meio Ambiente da seguinte forma:
"Cortina de fumaça para toldar o mastodôntico escândalo nacional", desabafou, ao seu estilo, a certa altura, naquela entrevista de 97.