16 de março de 1990. Fernando Collor de Mello (PRN) era o presidente da República havia um dia. Tinha tomado posse na véspera, recebendo a faixa de José Sarney (PMDB). Collor de Mello surfava em alta popularidade, fruto da histórica vitória na eleição de 89 contra Lula da Silva e outros tantos concorrentes. E tirava proveito disso para uma jogada ousada: confiscar os recursos da poupança dos brasileiros. Objetivo, conter a inflação de 80% ao mês que o Brasil encarava.
Agora, 30 anos depois, Collor pediu desculpas. Hoje senador de Alagoas pelo PROS, o ex-presidente é usuário assíduo do Twitter. Na rede social, expõe uma vertente mais leve do que aquele Collor sisudo e sempre ao ataque do passado. Tem sido até bem humorado. E numa das suas sacadas recentes, resolveu pedir desculpas aos brasileiros por ter confiscado as poupanças há 30 anos.
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Em entrevista há poucos dias ao jornalista Luiz Nassif, Collor contou detalhes da reunião, entre sua eleição em 89 e a posse em 90, na qual decidiu pelo confisco. "Foi numa conversa aqui em Brasília com o ex-ministro Mário Henrique Simonsen. Ele, o André Lara Rezende e o Daniel Dantas", disse. "Foi num período entre a minha eleição e posse, em que eu estava ouvindo diversos economistas e pessoas de fora da órbita da economia, saber deles o que imaginavam poderia ser o meu governo, quais medidas poderiam ser tomadas para a gente resolver o grande problema que acometia a todos nós, a inflação era de 80% ao mês", comentou. "Temos que acabar com a situação, e passar por um congelamento de preços. Mas congelamento com esse excesso de liquidez na economia, impossível. Teríamos uma quebradeira geral. Daí o Mário Henrique expunha essas ideias de congelamento, mas era muito difícil pela liquidez, não sabia como transpor isso", recordou.
Daí veio a ideia de conter a liquidez com menos recursos circulantes. A forma? Bloquear a poupança, ou o excedente dela. "Até que o André Lara Rezende sugeriu que a liquidez precisaria de um bloqueio. Daí o Daniel Dantas replica, perguntando se o André queria cumprimentar as pessoas com o chapéu alheio. Daí o André volta para o Simonsen e diz que essa pode não ser uma ideia das melhores, mas é a saída. E Simonsen disse que tecnicamente é a saída, mas politicamente era inviável, o bloqueio da liquidez, um cerceamento da liquidez para que o congelamento de preços pudesse funcionar e nós termos um espaço de tempo para podermos ir aplicando nossas medidas e controlando a inflação ao mesmo tempo", referiu. "Politicamente cabia a mim tornar viável. As medidas foram tomadas, o bloqueio dos ativos foi numa extensão muito maior que imaginávamos. Nós imaginávamos bloquear o overnight, de curtíssimo prazo, os títulos ao portador, todos os recursos que eram dirigidos à especulação, mas o mercado, como sabemos, é muito esperto, e traça diversos cenários para se antecipar a decisões do governo para ganhar do governo", completou.
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