Viver a maturidade é muito bom, não é mesmo?
Eu gosto dela.
É como olhar para o mundo do alto.
Não nos enganamos mais tão facilmente.
Por mais bonita que seja a vista sabemos que nem tudo é lindo lá embaixo.
Longe de termos nos tornado seres iluminados, ainda fazemos incursões poço adentro.
E em algumas delas, eventualmente, chegamos ao fundo.
A desilusão é nossa maior motivadora na escalada, passo a passo, até o fundo do poço.
Temos consciência durante toda a descida de que quanto mais avançamos maior será o trajeto de volta.
Mas desafiando os perigos continuamos até sentir nossos pés lá embaixo.
E na escuridão e silencio absolutos, sentimos a proximidade do desespero.
Mas somos fortes. Fazemos poesias com sentimentos intensos e difíceis de vivenciar. Sentimentos que nos derrubariam facilmente quando éramos jovens.
Do desespero, no entanto, não damos conta. E quem dá?
Na verdade, nós o conhecemos pouco e já é o bastante.
Por isso, rapidamente iniciamos nossa escalada de volta. Agora sim, rumo ao ponto mais alto.
Na maturidade estamos sempre com nosso equipamento de segurança.
Escalar o poço até o fundo não é uma atitude irresponsável.
Consideramos os riscos.
Planejamos as ações.
Foi uma experiência que escolhemos viver.
Porque ainda precisamos ir até o fundo algumas vezes.
Para ver de outro jeito o que nos faz sofrer.
E lá, vimos que aquilo que chamamos de desilusão nada mais era do que a verdade que nós insistíamos em não aceitar.
E a verdade que nos motivou, passo a passo, escalada acima, é que não queremos o abismo.
Na maturidade nós preferimos o céu.