Não restam dúvidas sobre a diferença de sensibilidade entre as pessoas.
Enquanto alguns deixam claro que simplesmente não se importam com as atitudes e comportamentos alheios, outros sentem - e sentem muito. E, depois de sentir, não conseguem esconder que estão sentidos.
Fala-se bastante sobre a hipersensibilidade das pessoas que estão atentas a tudo o que o outro pode despertar em si. São os chamados, pejorativamente, ofendidinhos.
Fala-se pouco, porém, das pequenas indelicadezas que, longe de chamar a atenção por fazerem grande barulho ou causarem grande estrago, agem silenciosamente e vão aos poucos roubando o pouco de ingenuidade que nos resta. A ingenuidade de acreditar que é possível relacionar-se sem frustrações com as indelicadezas com que nos cercam.
A informação que seria útil e que não nos repassam.
O gesto de gratidão - ou um simples obrigado - que não vem.
O e-mail pensado e enviado com carinho, que não é respondido.
A visita de retribuição que não aparece.
A mensagem enviada que fica sem retorno.
A manifestação de carinho sem reciprocidade.
O perdão que não nos é dado.
O apoio que não recebemos.
O colega que chega nos atropelando sem se importar com o que estamos pensando e sentindo.
A pessoa - a qual admirávamos pela simplicidade - que aluga nossos ouvidos para falar de sua genialidade.
O amigo querido que desabafou o nosso desabafo para o amigo querido dele.
Os mimos que tanto gostávamos e que se revelam cheios de intenções duvidosas.
A pessoa que aparece novamente, com novo interesse.
O comentário sutilmente maldoso - ou maldosamente sutil - que nos atinge em cheio.
Um 'chega pra lá' leve e certeiro.
Silêncios.
Ausências.
Esquecimentos.
O abraço que queremos receber num dia como esse e que não chega.
Somos adultos, sabemos que podemos conversar e pedir o que queremos. Mas sabemos, também, que se precisarmos pedir não terá o mesmo significado do gesto autêntico e espontâneo, o qual desejávamos.
Se você, querido leitor, sente-se afetado por essas indelicadezas preste mais atenção em seus sentimentos e, antes que se transformem num amontoado de mágoa e finalmente de angústia que você já nem sabe explicar de onde vem, passe a identificar o que o deixou assim entristecido. Tudo bem se foi algo tão pequeno que você nem tem coragem de falar. Escreva sobre isso, grave e ouça sozinho depois, converse consigo mesmo em frente ao espelho...Mas não acumule mágoa com essas pequenas indelicadezas.
A pessoas e seus comportamentos, situações recorrentes, fatos que não pode modificar. Não busque outra coisa a não ser sentir e identificar o que sente. Não confronte ninguém, enfrente a si mesmo!
O mestre Içami Tiba dizia: "Onde há um folgado, há também um sufocado." Eu ouso dizer que onde há alguém que sofre com a hipersensibilidade há também alguém que é no mínimo indelicado (pra não falar das insensibilidades).
É preciso sentir o que houver pra sentir assim como é preciso identificar o que/quem gerou o sentimento.
Sinta o que houver para sentir, identifique o que/quem gerou seu sentimento e valide-o!
E siga olhando para os gestos de delicadezas que ainda nos cercam.