No dia em que o bolsonarismo na Alesc deu a impressão de ter sofrido um pequeno revés, a deputada peelista, Ana Campagnolo, deu uma pequena amostra do que deve ser sua atuação no parlamento, pelo menos nesse primeiro ano de governo Jorginho: ideológica e estratégica.
A parlamentar chegou a figurar como o nome do PL, partido da base governista, para ocupar a vaga de 1ª vice-presidente na Mesa Diretora da Assembleia Legislativa. A proposição não vingou pois ela encontrou resistência dentro e fora de seu partido. Seria natural e até esperado que os partidos de esquerda da Alesc reagissem à indicação da deputada. O que acabou gerando algum burburinho foi a resistência dos próprios colegas de partido. Tanto é que o PL permaneceu com a vaga na Mesa, porém com outros nomes. Os deputados Maurício Skudlark e Nilson Berlanda foram os cotados para ocupar as duas vagas inicialmente destinadas na composição – uma delas seria ocupada por Ana. Após a confirmação da eleição da chapa, você viu que no fim das contas, Skudlark ficou e foi eleito para a vaga de 1º vice e, Berlanda, ficou fora da composição.
Ao abrir mão da briga pela vaga de 1ª vice, Ana Campagnolo não saiu de mãos abanando. Ela será membro e terá participação em comissões importantes da Casa Legislativa, entre elas, a Comissão de Constituição e Justiça, além da Educação e Cultura e Defesa dos Direitos da Criança e Adolescente. A escolha das comissões das quais deseja fazer parte, mostra que a deputada não deve baixar guarda sobre a pauta ideológica que permeia seu mandato. Após o fim das sessões que elegeu Mauro de Nadal e os novos integrantes da mesa, entrevistei Ana Campagnolo em seu gabinete, o 08.
A parlamentar reforçou que se precisasse abrir mão da vaga de vice para continuar ocupando a posição contrária à esquerda, faria isso mil vezes. “É compreensível que a esquerda tenha aglutinado primeiramente em torno do nome do Mauro, por causa dos movimentos que meu partido fez (seu partido apoiou o deputado Zé Milton (PP) e também é compreensível que eles desprezem completamente o meu nome pra assumir qualquer coisa ou representá-los. Não é novidade pra ninguém que eu tenho um posicionamento contrário à esquerda e se fosse preciso deixar de estar na vice-presidência pra manter essa posição, eu faria isso mil vezes. Eu mesma não iria querer um secretário ou presidente (da Alesc) que fosse esquerdista”.
A lealdade de Jorginho
Maga: A Sra. ficou chateada com o governador Jorginho Mello na condução das negociações da eleição da presidência?
Ana: o governador não se meteu, ele não tinha essa obrigação, governo do estado é um assunto, Alesc, é outro. Desde o início o governador disse que aceitaria o que os deputados decidissem. Eu não tenho reclamação sobre ele. Nunca me negou nenhum pedido dentro do partido. Ele indicou meu nome ao Mauro de Nadal (para a vaga de 1ª vice). Sinto que o governador foi extremamente leal a mim, como eu pretendo ser a ele e às pautas que ele vai mandar pra Assembleia.
O gesto ao governo
Quando citei, na abertura deste texto, que a parlamentar manteria uma postura ideológica e estratégica, era a essa resposta que eu me referia. Nos bastidores, é sabido que a deputada não gostou de ter de abrir mão da vaga de 1ª vice e esperava que Jorginho tivesse tido uma participação mais efetiva na negociação. Ao adotar esse discurso republicano, Ana faz um gesto ao executivo. E esse gesto vai ser cobrado assim que o governo precisar.
Outra compensação pela saída da mesa diretora, foi a indicação do novo presidente da Fundação Catarinense de Cultura. Ana Campagnolo pediu ao governador Jorginho Mello – e foi atendida – que nomeasse Rafael Nogueira para presidir a FCC.
“Não é um favor que eu pedi ao governador porque, no meu entendimento, quem ganha é Santa Catarina. O Dr. Rafael não precisa desse emprego e está fazendo um gesto em favor do nosso estado, de deixar sua terra natal pra vir pra Santa Catarina nos brindar com o conhecimento que já tem. É alguém que entende de cultura, é culto e é isso que eu espero da nossa Fundação Cultural. Governador já conversou pessoalmente com o Rafael Nogueira e nos próximos ele já está de mudança.
*Rafael Nogueira foi presidente da Biblioteca Nacional no governo de Jair Bolsonaro. Ele está de mudança para Santa Catarina e sua nomeação deve ser publicada no Diário Oficial do Estado até a próxima segunda-feira (6).