O 1º turno das eleições gerais aconteceu neste domingo (2) e 48h após o fim da apuração ainda tem muita gente sacudindo a poeira. Além de muitos vídeos nas redes sociais dos candidatos eleitos e não eleitos, mandando um recado ao seu eleitor agradecendo pelos votos recebidos, nós também vimos outros recados nesta eleição. É bem verdade que as urnas não falam, as urnas simplesmente exalam o recado que vem do eleitor. Baseado nisso, fizemos uma breve análise do que elas disseram no domingo e compartilhamos aqui, com o nobre leitor.
1 - Catarinenses continuam campeões em Bolsonarismo
Santa Catarina concentra apenas 3,5% do eleitorado brasileiro, aproximadamente 5.5 milhões de eleitores. Neste primeiro turno, o estado deu a Jair Bolsonaro 62,21% dos votos (2.694.906 votos). Em Criciúma o percentual foi um pouco maior: 64,5% dos votos, o que corresponde a 75.743 votos, contra 26,79% de votos para Lula.
2 - Mulheres votam em mulheres?
Em Santa Catarina, não necessariamente. É que, segundo dados do TSE, as mulheres representam 52% do eleitorado catarinense, mas a representatividade feminina diminuiu nesta eleição. Em 2018 foram cinco mulheres eleitas entre os 40 representantes da Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina. Em 2022, foram três. Paradoxalmente, são duas mulheres as parlamentares mais bem votadas do estado: Ana Caroline Campagnollo (PL) com 196.571 votos e Luciane Carminatti (PT) com 92.478 votos. Além delas, Ana Paula da Silva (Podemos) fez 58.694. As três são candidatas reeleitas, ou seja, não houve nenhuma candidatura feminina eleita para exercer seu primeiro mandato na Alesc.
3 - Moisés não teria governabilidade
O governador Carlos Moisés da Silva ainda não se manifestou publicamente sobre a derrota que sofreu neste domingo ao não ir para o 2º turno. Enquanto ele encaminha o fim do mandato e começa a organizar a transição de equipe para o próximo governo, deve estar olhando a lista de parlamentares que estarão na Alesc em 2023 e agradecendo o resultado das urnas. Moisés teria dificuldades em seu governo, já que o PL fez a maior bancada aqui no estado, elegendo 11 deputados estaduais. Por lá, encontraria, ainda, Antídio Lunelli, o ex-quase-candidato ao governo pelo MDB que, ao ser derrotado nas prévias, lançou candidatura como deputado estadual e foi eleito com 74.500 votos.
4 - Salvarismo em risco?
O prefeito de Criciúma, Clesio Salvaro apoiou publicamente três candidatos nesta eleição: a deputada federal Geovânia de Sá (PSDB), candidata à reeleição, Acélio Casagrande (candidato a estadual) e Esperidião Amin (PP), candidato ao governo do estado. Nenhum foi eleito. Dada a influência política de Clésio Salvaro, o resultado ficou abaixo da expectativa.
5 – O apoio de João Rodrigues
Lembra que em março deste ano, João Rodrigues e Clésio Salvaro ensaiaram uma chapa para concorrer ao governo do estado? À época, a possibilidade chegou a causar um reboliço nos bastidores já que ambos são políticos influentes em suas cidades e têm alto nível de aprovação de suas gestões. Mas, assim como Salvaro, Rodrigues também não conseguiu transferir essa influência aos candidatos que apoiou. Prova disso foi o desempenho de Gean Loureiro (União), candidato a governador apoiado por Rodrigues, que ficou em 4º lugar em Chapecó, atrás, inclusive, do candidato do PT, Décio Lima. Além disso, o prefeito do oeste não conseguiu eleger sua candidata a deputada federal, Marlene Fengler. Isso não tira, em nenhum momento, o mérito dos líderes que são Salvaro e João Rodrigues. Mas mostra que o eleitor vota neles, propriamente, mas, mostra alguma resistência quando o voto é para candidatos que apoiam.
6 - Eleitor gosta de opiniões mais do que de projetos para o mandato
Se o nobre leitor fizer uma análise rápida dos eleitos nesta leva, vai observar que alguns dos que fizeram boa votação não apresentaram ao eleitor, digamos assim, nenhuma grande proposta. Eles entenderam que, melhor do que boas propostas, o eleitor gosta mesmo é de saber a opinião do candidato que irá receber seu voto. Planos para a educação, infraestrutura, saúde, emprego? Que nada. Quero saber o que você pensa sobre a família, hino nacional, constituição, etc. A essa altura do texto, talvez seja válido repetir o que disse lá no início: essa não é minha opinião. É apenas a leitura do que as urnas nos disseram no domingo.
7 – O Sul manteve suas oito cadeiras no parlamento catarinense
Uma das grandes preocupações da região sul nesta eleição era a possibilidade de diminuir a representatividade na Alesc, diminuindo o número de eleitos já que esta foi uma eleição com grande de número de candidatos. A pulverização dos votos poderia acabar “jogando contra” e elegendo menos deputados. Não foi o que aconteceu. Eram oito representantes em 2018 e permanecem oito em 2022. São eles: Jessé Lopes (PL), Julio Garcia (PSD), Volnei Weber (MDB), Tiago Zilli (MDB), Rodrigo Minotto (PDT), Estener Soratto (PL), Pepê Colaço (PP), Zé Milton Scheffer (PP).
8 – Na Câmara federal, nossa região manteve três cadeiras
Na Câmara Federal, o eleitor da região sul também ajudou a manter as três cadeiras que já a região já ocupava. Os representantes que estarão lá a partir de 2023 são: Júlia Zanatta (PL), Daniel Freitas (PL) e Ricardo Guidi (PSD).
9 – Amin em 5º lugar
Baluarte da política catarinense, o agora novamente senador, Esperidião Amin terminou a eleição num amargo quinto lugar. Com uma trajetória vitoriosa, acumulando no currículo os cargos de governador do estado, deputado estadual federal, prefeito de Florianópolis e senador, Amin não passou batido pelos debates entre os candidatos no 1º turno. O candidato do Progressistas marcou o que deve ser sua última disputa eleitoral por momentos interessantes de embate com seus adversários, mas não conseguiu convencer o eleitor de que poderia ser “a renovação que o estado precisa”. Em Criciúma, onde era apoiado por Clesio Salvaro, o pepista também teve baixo desempenho, ficando em 4º lugar.
10 – Não há bolsonarismo fora do partido de Bolsonaro
Essa lição foi a mais importante lição desta eleição e foi feita pelo colega Upiara Boschi. Em sua análise, o jornalista conclui que não adianta ser bolsonarista e pedir votos para si e para o atual presidente se não estiver no mesmo partido de Jair Bolsonaro. Exemplo disso aqui no estado foi a tentativa de vários candidatos em tentar colar sua imagem a Bolsonaro pra tirar casquinha dessa influência. Não funcionou. Portanto, não importa a sigla partidária – em 2018 foi o falecido PSL com o 17 – para ter alguma vantagem na urna, só se for o mesmo número do partido do presidente.
Por fim, respondendo a pergunta mais repetida desde domingo, com a devida licença poética, lanço mão desse momento histórico de Dilma Roussef que disse: “Não acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou perder. Vai todo mundo perder”.
Assista Dilma Rousseff em 2010:
(to brincando, gente). O segundo turno vem aí e ainda temos muito chão até dia 30 de outubro.