A eleição municipal deste ano, em Criciúma, será uma das mais disputadas de todos os tempos. A briga pela cadeira de prefeito não envolve apenas os fatos políticos ou as articulações entre os envolvidos, mas também aquilo que ocorre durante a pré-campanha ou a campanha propriamente dita. Um exemplo disso é a operação policial que abalou a cidade na última segunda-feira.
O MDB
Além disso, o desenho partidário influencia e contribui para o resultado de uma eleição. Nem sempre os que parecem estar em lados opostos, de fato, estão. É o caso do MDB. O partido está na disputa tendo o vereador Paulo Ferrarezi e o médico Aníbal Dário em chapa pura, depois de inúmeras tentativas de Paulo ser vice na chapa do PL, encabeçada por Ricardo Guidi. O vereador, inclusive, admitiu o desejo de ser vice até uma semana antes do fim do prazo das convenções. Com o insucesso na operação — que não foi liderada por ele — de compor com o PL, o partido o declarou candidato a prefeito. Sendo assim, Criciúma conta, hoje, com seis candidaturas à majoritária: Arlindo Rocha (PT), Jorge Godinho (Solidariedade), Júlio Kaminski (PP), Paulo Ferrarezi (MDB), Ricardo Guidi (PL) e Vagner Espíndola (PSD).
Apesar do número expressivo de candidatos, a eleição se encaminha para uma polarização entre Guidi e Vagner, com PL e PSD em lados opostos no município. Vagner entrou na disputa no final do mês de abril, tendo pouco mais de quatro meses como candidato do partido. Sua corrida contra o tempo é para se tornar conhecido da população criciumense, e ele vem fazendo um bom trabalho nesse aspecto, percorrendo os bairros da cidade e se apresentando aos moradores. Neste momento, não é possível prever o resultado da eleição, pois muitos fatores estão em jogo. É aí que a candidatura própria do MDB pode ser vantajosa para Vaguinho. Dividir a fatia dos votos apenas entre ele e Guidi pode não ser a melhor estratégia. Além disso, nessa eleição pode ocorrer o fenômeno do voto útil em Criciúma.
Voto útil é quando o eleitor vota, por estratégia, em um candidato que não seria sua primeira opção. Esse cenário leva em conta, por exemplo, o desempenho dos candidatos nas pesquisas. Com base nisso, ao perceber a possibilidade de seu candidato perder a eleição, o eleitor escolhe (e vota) em outro nome. No caso de Criciúma, o voto emedebista não iria para Vaguinho. Mas, se Ferrarezi não fosse candidato, o voto emedebista iria, em maior número, para Ricardo Guidi. Portanto, com Ferrarezi na disputa, esses votos ficam com ele, diminuindo a margem entre Guidi e Vaguinho. Dessa forma, a candidatura própria do MDB é interessante para Vaguinho.
Nos últimos dias, um fator acendeu a luz amarela na campanha de Ferrarezi. Foi seu desempenho no debate da Som Maior, na manhã da última terça-feira, considerado abaixo do esperado por integrantes do partido. Se ocorrer o voto útil, Paulo Ferrarezi (e o MDB) sairão da disputa menores do que entraram, já que a tendência é que a briga fique entre Guidi e Vaguinho.
Gaeco na prefeitura
Na análise do que interessa a quem, a operação do Gaeco da última semana também entra na conversa. Isso porque a visita do Gaeco foi à sede da prefeitura e à casa do prefeito Clésio Salvaro. A operação Caronte ocorreu na manhã de segunda-feira (5) e prendeu sete pessoas, entre elas, um ex-secretário do governo Salvaro, Bruno Ferreira. Além disso, os agentes realizaram buscas na residência de Salvaro, fato que evidenciou o impacto da operação. A investigação, portanto, não era sobre um mero servidor, mas sobre o chefe do Executivo. Politicamente, isso representa um revés para a administração municipal e poderá ser explorado pelos candidatos de oposição na corrida eleitoral criciumense.
Por quê?
Apesar de Clésio Salvaro ter afirmado, em vídeo, durante a segunda-feira, que havia determinado a abertura de uma sindicância interna para apurar os fatos, uma pergunta ficou no ar: por que o prefeito não afastou Bruno Ferreira em novembro do ano passado, quando o Gaeco apreendeu seu celular em cumprimento de um mandado de busca e apreensão, decorrente da mesma investigação? O afastamento teria permitido que Bruno se dedicasse exclusivamente à sua defesa, além de dissociar a imagem da administração municipal de uma investigação policial.
É nesse ponto que a operação desta semana passa a compor o cenário eleitoral em Criciúma. Isso porque o simples fato de ter ocorrido fará com que, tanto Salvaro quanto seu candidato à sucessão, dediquem tempo da campanha para dar explicações aos oponentes, além de dividirem a atenção entre a campanha e os desdobramentos da investigação, caso existam. E é por isso que o assunto é “bom” para seus adversários na disputa.
E pensar que tudo isso aconteceu numa semana que ainda nem terminou. Vale lembrar que a campanha começa oficialmente somente na próxima sexta-feira, dia 16 de agosto. Até lá, muitas emoções estão por vir.
Blog Maga Stopassoli
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