Dois minutos e quarenta e três segundos. Esse foi o tempo que o deputado estadual Júlio Garcia (PSD) usou na Assembleia Legislativa de Santa Catarina, na tarde desta quarta-feira (9), para mandar o recado mais contundente ao governador Jorginho, até o momento. Quem acompanha a política catarinense sabe que Don Júlio (leia como em espanhol, com o J com som de R) não costuma falar quando não tem nada a dizer. Pode parecer meio óbvio, mas achei necessário pontuar já que vivemos a plena era de parlamentares que falam demais, principalmente quando não têm nada a dizer. Júlio inverte essa lógica e se manifesta pouco na tribuna da Alesc. Tanto é fato que estamos aqui justamente repercutindo uma fala dele que, mesmo curta, deve estar ecoando até agora no salão quase oval com Jesus Cristo de braços abertos, olhando tudo lá de cima.
Julio Garcia é de fino trato. Nunca erra o lookinho do dia e jamais esquece o cuidado com o cabelo, sempre penteado pra trás, sem um fio fora do lugar. Ontem, antes de votar “sim” ao projeto de Lei que cria o TEV (que substituirá o antigo Pix do Moisés), o parlamentar achou que era hora de mandar um recado com nome, sobrenome e localização no google. O endereço era a Casa D’Agronômica e o destinatário, Jorginho dos Santos Mello, o governador do estado.
Como é praxe em seus discursos, Júlio foi breve. Brevíssimo, neste caso. Ele costuma levar entre cinco e sete minutos quando usa a palavra em algum evento público. Sim, eu já cronometrei. Ontem usou a metade disso. Foram 2min43. Primeiro veja o que ele disse, depois, a gente traduz o que ele quis dizer.
“Eu queria destacar brevemente aqui o protagonismo da Assembleia Legislativa. Três projetos importantes aportaram nesta casa neste ano. O da reforma administrativa, (que teve) a contribuição indelével, expressiva da Assembleia Legislativa, reconhecendo a vitória do governador Jorginho Mello e dando a ele as condições de governar da forma como ele entendeu, devesse ser a estrutura de governo. Depois tivermos o projeto da universidade gratuita. O protagonismo da Assembleia novamente foi fundamental para fazer as modificações e, mais do que as modificações, as negociações, no melhor sentido da palavra, para que chegássemos num entendimento e votássemos um projeto que pudesse ser conciliador e atendesse todas as instituições envolvidas e de modo especial pra entender o interesse do estudante. Novamente hoje, e me obrigo a dar esse testemunho, o protagonismo da Assembleia foi fundamental e quero aqui louvar a figura do nosso presidente Mauro de Nadal (MDB) que em momento adequado reuniu na presidência, o presidente da CCJ, o presidente da comissão de finanças, representação do TCE e também do governo através da Casa Civil e da Secretaria da Fazenda, para dizer alto e em bom tom, que os prefeitos não aguentavam mais a situação que nós estávamos vivendo e que precisaríamos encontrar uma solução. E foi a partir daí que se construiu um debate em elevado nível e que chegou ao entendimento que culminou com o projeto que nós vamos votar nesse momento. Esse é o papel da Assembleia Legislativa: representar. Essa representação que nós estamos fazendo, ela atende a todos os prefeitos do estado de Santa Catarina, mas mais do que isso, atende a cada munícipe, em cada município que tem um contrato pactuado, não com o governador fulano de tal. Um contrato pactuado com o estado. Essa é que é a verdade. Parabéns presidente Mauro pela condução”.
Em tradução livre, o discurso fica mais ou menos assim:
- Sr. Governador, nós aprovamos esses projetos que o Sr. enviou porque eles te darão condições de governar o estado e isso é importante pros catarinenses, mas foi porque a Assembleia quis, visse? Se não aprovasse o Universidade Gratuita, olha o tamanho do problema que o Sr. iria arrumar? Te ajudamos nessa. A reforma administrativa aprovamos porque ninguém emperra reforma administrativa. E o TEV nós não só aprovamos, como também fomos nós que mexemos nisso primeiro porque o Sr. ficou protelando. Essa é que é a verdade, governador. E essas aprovações são gestos, são recados. Chega de governar pra dentro. É hora de governar para todos os catarinenses. Senão a Alesc vai saber fazer o enfrentamento se for preciso. Tá dado o recado”. *
E foi assim que o deputado nascido sob o signo de áries, competitivo e com pouca paciência, por natureza, mandou seu recado ao executivo catarinense.
Esse foi o primeiro movimento sutil entre os dois líderes dos partidos que protagonizam o embate político hoje em Santa Catarina, PSD e PL e que se tornam a noiva dos sonhos para 2024. E tanto Júlio quanto Jorginho, experientes que só, sabem que essa disputa será um capítulo importante na biografia de cada um.
O vídeo com o discurso do deputado está nos stories do instagram: @magastopassoli ou no blog de Adelor Lessa, aqui neste site.
*Importante lembrar que essa é uma livre interpretação do discurso do deputado. Podendo ser interpretado de outra forma, por quem assisti-lo.