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O governo errou ao prometer zerar fila de cirurgia em 6 meses

Cronograma não será cumprido no prazo inicial

Por Maga Stopassoli 21/06/2023 - 10:56 Atualizado em 21/06/2023 - 11:03

No dia 7 de fevereiro de 2023, o Governo do Estado lançou o Programa Estadual de Cirurgias Eletivas com a meta de zerar, em até seis meses, a lista de espera por procedimentos cirúrgicos na rede pública de saúde do Estado. No dia seguinte, a Secretária da Saúde, Carmen Zanotto, apresentou o programa para a Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc). O orçamento previsto para o Fila Zero em 2023 é de R$ 235 milhões. Estão incluídas no Programa também as pessoas que aguardam por consultas cirúrgicas, exames e diagnósticos, assegurando atendimento prioritário aos pacientes oncológicos. A promessa era a de que mais de 225 mil catarinenses seriam diretamente beneficiados. Conforme informações do governo, o diagnóstico inicial identificou 105.340 pessoas esperando por uma cirurgia, do ano de 2017 até 30 de janeiro de 2023. Há também 4,7 mil pacientes em fila de espera para cirurgia oftalmológicas ambulatoriais e 117 mil pacientes aguardando consultas com especialidades cirúrgicas. As demandas mais reprimidas estão relacionadas a ortopedia (cirurgias de joelho, quadril, ombro, coluna); cirurgias para o aparelho digestivo (vesícula e vias biliares, hérnias e gastroplastia); procedimentos para o aparelho geniturinário (histerectomia, vasectomias, laqueaduras, cálculo renal); varizes, angioplastias e ablações.

No dia 6 de junho, durante entrevista ao Programa Adelor Lessa da Radio Som Maior, questionei à Secretária sobre o andamento das cirurgias e disse:

Maga: o governo anunciou que iria zerar a fila em seis meses e isso ainda não aconteceu e já passou seis meses. Nesse momento fui interrompida pela secretária que disse:

“Não, seis meses terminam agora. Não, querida, desculpa. 30 de janeiro, fevereiro, março, abril, maio, junho, julho. Eu tenho ainda 60 dias. Eu tenho certeza que a redução será absolutamente significativa. Faço um apelo as pessoas que estão na fila, que atualizem seus dados na unidade de saúde”.

Maga: eu vou refazer minha pergunta, então, Secretária. Até final de julho, qual vai ser o cenário? Qual será o percentual de cirurgias realizadas?

"Na cardiologia, na oncologia de certeza absoluta filas zeradas. Na cirurgia geral, em algumas regiões do estado, cirurgias zeradas, nenhum paciente anterior a essa data. Todos os relatórios serão apresentados. O volume de cirurgias nos meses de janeiro, fevereiro e março, de pacientes internados em comparativo ao ano passado, foi 31% a mais."

Decreto de emergência

Nesta segunda-feira (19), o Governo decretou situação de emergência em todo sistema hospitalar devido à alta ocupação de leitos por doenças respiratórias. Carmen Zanotto se manifestou por áudio e disse o decreto vai facilitar a melhoria estrutural em diversos hospitais como o Joana de Gusmão, Carmela Dutra, Celso Ramos, entre outros. A nota divulgada pelo governo está acompanhada de fotos que exemplificam os problemas citados pela Secretária.

Ocorre que nada disso é novidade. Nem o aumento de ocupação hospitalar por doenças respiratórias nessa época do ano, nem os graves problemas nos prédios dos hospitais. Todo governo que está começando tem a ânsia de solucionar os problemas deixados pela gestão anterior e, no caso da saúde, são muitos, como filas inacreditáveis de pacientes à espera de um procedimento e hospitais caindo aos pedaços, literalmente.

De posse dessas duas informações, não havia necessidade, por parte do governo do estado, de prometer acabar com a fila de espera por cirurgia. Enquanto os pacientes esperam por uma cirurgia de quadril ou de coluna, por exemplo, estamos assistindo a renovação de promessas de prazos. Outro ponto pertinente sobre este assunto é sobre as cirurgias de alta complexidade. Se são de alta complexidade, exigem equipe e estrutura adequadas. Vou dar o exemplo de uma cirurgia de escoliose, que é um procedimento para correção de graves desvios de coluna. O tempo de espera por uma cirurgia desse tipo é alto não só pela complexidade, mas por se tratar de uma cirurgia difícil e demorada, que usa material metálico de alto custo para fazer o “reparo”. Não existe solução simples para problemas complexos. O governo basicamente criou uma planilha no excel para dizer: “vamos zerar a fila de cirurgia em 6 meses”. Mas dentro da complexidade do sistema de saúde, não havia motivos para que a sociedade acreditasse na promessa. E a crítica não é por não terem conseguido. É por terem prometido algo que também mexe com a saúde mental das pessoas. Esperar por uma cirurgia e ouvir que a sua espera vai acabar em 6 meses mexe com as pessoas. Ainda, sobre cirurgias ortopédicas, importante destacar que não adianta credenciar unidades hospitalares apressadamente apenas para dar conta da fila. Nem todos estarão aptos para determinados procedimentos num curto espaço de tempo. É preciso, além de diminuir a fila, evitar que os mesmos pacientes voltem para a fila daqui cinco ou dez anos para fazer algum reparo por conta de procedimentos feitos na correria.

O governo prometeu o que não precisava e agora não vai conseguir cumprir. “Ah, mas vamos reduzir significativamente”. Mas não foi isso que prometeram. E embora houvesse uma grande boa intenção em solucionar o problema, e eu realmente acredito nisso, agora deixa a sensação de que lidaram com um problema de alta complexidade oferecendo solução simples. E essa conta, todos sabem, nunca fecha.

 

O Governador Jorginho Mello e a Secretária da Saúde Carmen Zanotto, participam de Coletiva de Imprensa para apresentação do Programa Estadual de Cirurgias Eletivas. Foto Eduardo Valente/SECOM

 

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