A equipe de defesa do advogado Jefferson Monteiro, preso desde o dia 5 de agosto, na primeira fase da Operação Caronte, solicitou, nesta segunda-feira (9), a inclusão em seu processo de uma nota de repúdio ao vídeo divulgado pelo prefeito Clésio Salvaro, preso na última terça-feira (3). O documento é assinado pela Dra. Emanuela de Souza da Silva e seu conteúdo foi peticionado por solicitação do próprio Jefferson. No texto, Jefferson diz que Clésio Salvaro sabia dos fatos apontados pelo Ministério Público e que o vídeo que o prefeito gravou antes de ser preso “procura causar enorme clamor social com o nítido propósito político eleitoral”. O documento diz que Jefferson recebeu com estranheza a informação (contida no vídeo publicado por Clésio Salvaro), sobre a mensagem que ele enviou ao governador Jorginho Mello um dia antes de sua prisão e questiona se ele sabia que seria preso.
Leia na íntegra:
"A defesa de JEFFERSON DAMIN MONTEIRO, vem perante à Vossa Excelência, com o devido acatamento à ocasião, para MANIFESTAR REPÚDIO ao conteúdo do vídeo gravado pelo prefeito Clésio Salvaro – antes de sua prisão - que circula em diversos meios de comunicação. Isso porque, ao tentar se vitimizar, o prefeito procura causar enorme clamor social com propósito eleitoreiro, pouco importando se seu ato traz (ou não) prejuízos às pessoas que se encontram segregadas desde o dia 05/08/2024, e que há muito aguardam pelo julgamento dos pedidos de liberdade.
Um ato desrespeitoso não apenas com os demais investigados, há que se registrar. Seus ataques, que ainda repercutem, visam descredibilizar o poder judiciário catarinense, tudo com a finalidade de assegurar, em meio ao clamor público, uma pretensa vitória de seu correligionário partidário nas eleições deste ano. Repudiamos, ainda com toda a nossa veemência, os ataques ao Governador do Estado de Santa Catarina, senhor Jorginho Mello, sem deixar de manifestar estranheza às falas de Salvaro, quando alegou ter enviado mensagens ao chefe do executivo catarinense no dia anterior, a confirmar que já era sabedor de sua iminência prisão. Pois, é de se indagar: como ele sabia disso? Ressaltamos, ainda, que não aceitamos essa famigerada tentativa de terceirização de responsabilidade, tudo porque Clésio Salvaro é pleno conhecedor dos fatos que estão sendo apurados, os quais, diga-se, não foram forjados em questões políticas.
Ainda consignamos, que confiamos na justiça catarinense, desejando apenas exercer a plenitude de defesa sem interferência de afirmações levianas que possam, como já dissemos, prejudicar a análise tranquila dos pedidos de liberdade daqueles que desejam se defenderam dentro do devido processo legal e não nos palcos do pleito eleitoral. Por fim, Excelência, ratificamos as manifestações anteriores, acrescentando que a prisão do prefeito Clésio Salvaro, também, representa manifesta alteração fática, porquanto, com a sua ausência do paço municipal, os riscos de reiteração delitiva acabam se esvaindo, assegurando que a ordem publica esteja plenamente preservada, principalmente com a possibilidade de adoção de medidas cautelares, as quais desde já, se propõe a acatar o requerente. A propósito, o requerente assume compromisso de não manter contato com as testemunhas e demais investigados; e manifesta que não tem o denunciado a intenção de criar qualquer obstáculo à instrução processual e à boa colheita de prova oral, notadamente porque confiamos nas teses de defesa apresentadas em sede de resposta, as quais podem repercutir diretamente e positivamente no pleito de liberdade.
Termos em que a defesa se manifesta e suplica pela concessão de liberdade com a adoção de medidas cautelares diversas da prisão, previstas no código de processo penal.
Jefferson Monteiro está preso desde o dia 5 de agosto, quando o Gaeco deflagrou a primeira fase da Operação Caronte. Ele ocupava a função de presidente municipal do partido Republicanos e fazia parte da base de apoio ao candidato do prefeito, Vagner Espíndola (PSD). No mês de julho, com a troca do comando estadual da sigla, o Republicanos declarou apoio a Ricardo Guidi. Mesmo assim, Jefferson e Salvaro continuaram mantendo contato, conforme mostra o relatório de evidência de análise de evidências, do Ministério Público.
Clésio Salvaro foi denunciado pelo Ministério Público por organização criminosa e fraude em licitação envolvendo a prestação de serviço funerário em Criciúma. Segundo o MP, o prefeito atuou para alterar uma lei municipal que beneficiou funerárias que prestam serviço no município. O prefeito de Criciúma foi preso em casa, na última terça-feira (3).
O detalhe que pesou contra Clésio
Um detalhe chamou atenção durante as diligências na primeira fase da Operação, ocorrida no dia 5 de agosto. Agentes do Gaeco encontraram na casa do prefeito de Criciúma, documentos sobre a investigação classificados como sigilosos. O acesso a documentos desse tipo só é permitido aos desembargadores responsáveis pelo caso. O fato acendeu alerta sobre o interesse de Salvaro sobre o andar da investigação. Entre os 17 presos nas duas fases da Operação Caronte, está ex-secretário de Assistência Social de Criciúma e candidato a vereador, Bruno Ferreira (PSD). Tanto a defesa de Bruno, quanto a de Jefferson chegou a apresentar um Habeas Corpus no STF, para que eles fossem soltos. Ambos foram negados. A previsão é de no próximo dia 12 de setembro, ocorra o julgamento da decisão da desembargadora Cinthia Schaeffer que determinou a prisão dos 17 envolvidos no caso.