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Sobre aquele assunto: era, é e continua sendo fake news

Não foi o medo de defender o bom jornalismo que me trouxe até aqui, neste espaço que é aberto ao contraditório

Por Maga Stopassoli 09/05/2024 - 11:12 Atualizado em 09/05/2024 - 11:28

A recente tragédia pela qual ainda passa o estado do Rio Grande do Sul mostra que nós não aprendemos nada, nem com a pandemia e nem com o fatídico 8 de janeiro. Esses dois últimos foram momentos em que a racionalidade e a resiliência desapareceram por completo do convívio entre as pessoas. Se, na pandemia, o coronavírus disputava a letalidade com a desinformação, no 8 de janeiro, o país enlouqueceu buscando culpados por um dos episódios mais tristes da nossa história. Nos dois casos, uma velha técnica conhecida por quem entende do riscado funcionou perfeitamente e deu "lucro" a todos os envolvidos: a divisão do país. Desde que direita e esquerda entenderam como o algoritmo (e a mente humana) funcionam, ficou fácil demais conduzir o rebanho. É só analisar um pouco os dados digitais e "entregar" um conteúdo adequado ao que as pessoas estão fazendo na esfera digital.

Dou-lhes um exemplo. Até poucas eleições atrás, quem ditava as regras do jogo eram os partidos e os políticos. O eleitor apenas seguia os comandos. Aqui, me refiro à grande massa e não aos poucos que pertenciam ao grupo dos que tomavam decisão. Desde a chegada da internet e, por consequência, das redes sociais, essa lógica se inverteu. São as pessoas que dizem o que querem ler, assistir e/ou ouvir. Desse modo, são os partidos e os políticos que recebem essas informações e "devolvem" ao seu público, no formato mais adequado. É isso que explica uma série de comportamentos como, por exemplo, a migração partidária. Vamos pegar o caso do PL de Santa Catarina. O partido de Jair Bolsonaro foi o que mais filiou gente no último ano. A troca de partido, para muitos políticos, ocorreu por entenderem que aqui no estado, cerca de 70% das pessoas se declaram de direita ou centro-direita. Então não adiantaria insistir em permanecer em siglas partidárias para as quais, nesse momento, o eleitor torce o nariz. E esse mesmo fenômeno de dizer o que a grande massa quer ouvir acaba colaborando para manter acesa a divisão ideológica que nos trouxe até aqui. É o caso de quem repassa informação sem nenhuma responsabilidade. Desde segunda-feira, informamos aos nossos ouvintes, no programa Adelor Lessa, na Som Maior, que a informação de que estariam multando e/ou exigindo nota fiscal dos produtos transportados em caminhões com destino ao RS, era falsa. Foi o que bastou para reacender uma guerra virtual, adormecida desde o 8 de janeiro. Como assim, nós, jornalistas, não fizemos uma matéria com base nos comentários de vídeos que circulavam nas redes sociais? Essa foi uma das perguntas que o blog recebeu. Também questionaram por qual razão não entrevistamos nenhum caminhoneiro que tivesse sido multado por não a referida nota fiscal. E eu faço questão de responder: porque ninguém quis falar.

E você sabe por que, a mesma pessoa que publica um vídeo na internet com determinada informação, não aceita dar nenhuma entrevista? Porque a coragem que ela tem para publicar algo que, sequer, ela checou, nas redes sociais, é inversamente proporcional à coragem de quando se está na frente de um microfone. Para falar ao microfone, é preciso coragem e responsabilidade. Não há negociação para isso. Não existe nem meia coragem, nem meia responsabilidade. Portanto, não esperem deste blog, posicionamentos feitos de isopor. Não foi o medo de defender o bom jornalismo que me trouxe até aqui, neste espaço nobre que construímos e que é aberto ao contraditório. Foi a coragem de continuar defendendo a boa informação, mesmo quando ela é achincalhada por não dizer o que muitos querem ouvir.

"Maga, mas teve caminhão que foi notificado". O início de uma literal operação de guerra para tentar minimizar o estrago no estado vizinho, teve, ainda, outros percalços, não contabilizados. Como se todos os serviços públicos do Brasil não tivessem seus exageros. Em que mundo vivem as pessoas que se esforçaram para não entender isso? Os caminhões que, porventura, foram notificados por estarem acima do peso, foram 6, num total de quase 8 mil que passaram naquele posto de pesagem, segundo o diretor-geral da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres). O excesso de peso pode provocar acidentes, além de deteriorar a camada asfáltica. E é bastante óbvio que não era o momento para esse tipo de multa e todas serão anuladas. Pronto. Fim da polêmica. Nenhum caminhão com destino ao estado gaúcho foi impedido de seguir viagem ou de fazer suas entregas.

Mas, houve quem preferisse olhar as pulgas em vez de olhar o camelo. E, assim, mais uma vez, mobilizaram digitalmente uma multidão de gente para manter aquecida a disputa por narrativas. Ainda nesta quarta-feira, em contato com um colega repórter da Rádio Gaúcha, perguntei justamente sobre a informação que circulava nos grupos de WhatsApp, de multa aos caminhões de donativos. "Olha, Maga, essa informação não circula aqui porque não está acontecendo, então nem pautamos, estamos focados em levar informação em tempo real pras pessoas", me respondeu. Pude concluir, com isso, que repassar informação sem responsabilidade é coisa de quem não precisa se ocupar, nem ajudando os outros, nem reconstruindo a própria casa. É coisa de quem não tem muito o que fazer. Para encerrar e provar que a doença das fake news não se resume exclusivamente ao assunto dos caminhões, na noite desta quarta-feira, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) emitiu uma nota de esclarecimento dizendo ser falso um vídeo que circula nas redes sociais, sobre proibição de medicamentos doados às vítimas do Rio Grande do Sul. Se você não viu essa polêmica ainda, calma. Alguém ainda precisa medir se esse assunto rende um post com bom engajamento, senão, vai passar batido (risos).

Ah, e sobre aquele assunto: era, é e continua sendo fake news. Podem espernear à vontade.

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