Quem nunca ouviu falar do Teste do Pezinho. Quem não passou pelo Teste do Pezinho. Uma triagem importante para a saúde das crianças, pois é uma das principais maneiras de diagnosticar uma série de doenças, antes mesmo de aparecerem os primeiros sintomas. Por meio dela, doenças raras, de origem genética, podem ser detectadas, facilitando o tratamento precoce e trazendo mais qualidade de vida aos pacientes e suas famílias.
Agora, uma lei sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro amplia o número de doenças rastreadas pelo exame seis para 53. Nos últimos três anos, quase 2,5 milhões de bebês fizeram o teste do pezinho na rede pública de saúde.
A pediatra, Caroline de Moraes Penno, diz que atualmente existem três versões do Teste do Pezinho: uma básica e duas ampliadas. “A mais simples é capaz de detectar até seis tipos de doenças (fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito, fibrose cística, anemia falciforme, hiperplasia adrenal congênita e deficiência de biotinidase) e está disponibilizada no Sistema Único de Saúde (SUS). Já as duas versões ampliadas podem detectar de 10 a 50 tipos de doenças sendo encontradas apenas na rede de saúde particular”, explica.
O teste do pezinho básico é realizado através de gota de sangue, coletada no calcanhar do recém-nascido. O momento para a coleta não deve ser inferior a 48 horas de alimentação proteica (amamentação) e nunca superior a 30 dias, sendo o ideal entre o 3º e o 7º dia de vida.
Doenças atualmente identificadas no teste do pezinho básico disponível na rede pública:
Fenilcetonúria: É uma doença genética causada por falta de uma substância que transforma a fenilalanina em tirosina. Ocorre um acúmulo de fenilalanina que poderá afetar o cérebro e levar à deficiência mental. A frequência desta doença é de 1 caso em cada 10.000 recém-nascidos. O tratamento da fenilcetonúria é a exclusão de fenilalanina da dieta, com bom prognóstico neurológico, se iniciada antes de 3 semanas de vida
Hipotireoidismo congênito: Os hormônios produzidos pela glândula tireóide determinam forte influência sobre o crescimento e o desenvolvimento neuropsicomotor. A sua falta pode levar ao prejuízo no crescimento da criança e a um retardo mental. Ocorre um caso de hipotireoidismo congênito a cada 4.000 nascidos vivos. A avaliação inicial é feita de rotina pelo Teste do Pezinho através da dosagem de T4 e TSH (hormônios produzidos pela tireóide). Se detectada alteração, repete-se a dosagem, no soro, uma semana depois. Se os exames persistem alterados, as crianças devem ser encaminhadas rapidamente a um especialista para determinação da possível causa do hipotireoidismo e da estratégia do tratamento.
Anemia Falciforme: É causada por uma alteração na composição da hemoglobina, levando à formação de uma hemoglobina anormal chamada de S. O doente falciforme ou homozigoto SS é raro e atinge aproximadamente 8 indivíduos em cada 100.000 nascimentos. O RN não apresenta sinais da doença porque nasce com uma quantidade de hemoglobina fetal aumentada que protege contra os efeitos da hemoglobina S (anemia, icterícia, dores ósseas, articulares e abdominais, infecções de repetição) até os seis meses de idade. O portador (traço falciforme ou heterozigoto S) é mais frequente e atinge 500 indivíduos em cada 100.000 nascimentos. Existe necessidade de acompanhamento médico para todo o doente de anemia falciforme.
Fibrose Cística: É uma doença de origem genética autossômico recessiva. A consequência deste defeito genético é a diminuição da função de uma proteína da superfície das células que funciona como um canal que transporta íons, principalmente cloretos.
Em consequência desta perda de função, as secreções do corpo ficam mais espessas e a perda de sal (cloreto de sódio) pelo suor é excessiva. O pulmão geralmente é afetado na FC, mas ela não é uma doença exclusivamente pulmonar. Ela é uma doença sistêmica, que pode afetar vários órgãos, como pulmões, pâncreas, intestino, glândulas sudoríparas e sistema reprodutor. No teste do pezinho é realizado a dosagem de trispina imunorreativa que, se estiver aumentada, a dosagem deve ser repetida antes do bebê completar 30 dias de vida. Se na segunda dosagem o valor continuar acima da normalidade considera-se suspeita de FC e a criança deve ser encaminhada para investigação diagnóstica.
Hiperplasia Adrenal Congênita: A hiperplasia adrenal congênita é o termo utilizado para caracterizar um conjunto de doenças, de herança autossômica recessiva, potencialmente letais, resultantes da deficiência de uma das enzimas responsáveis pela síntese de cortisol nas glândulas adrenais.
Deficiência de biotinidase: é uma doença genética, classificada como erro inato do metabolismo, causado pela deficiência de uma enzima chamada Biotinidase. Esta enzima é responsável pela absorção e principalmente pelo reaproveitamento da Biotina, que é uma vitamina existente nos alimentos como gema de ovos, amendoim, nozes e outras amêndoas.A Biotina é responsável por acelerar várias reações químicas normais nas células humanas. Se o organismo não dispõe de uma quantidade adequada de Biotina, o funcionamento das células é prejudicado, em especial das células nervosas, os neurônios, provocando atraso do desenvolvimento, convulsões e com a evolução, sequelas neurológicas graves.
Como funcionará com a nova lei
A ampliação do teste se dará em três etapas com inclusão gradual de novas doenças. “Na primeira faze, o exame continuará detectando as seis doenças que são feitas atualmente, ampliando para o teste de outras relacionadas ao excesso de fenilalanina e de patologias relacionadas à hemoglobina (hemoglobinopatias), além de incluir os diagnósticos para toxoplasmose congênita. Na segunda etapa, serão acrescentadas as testagens para galactosemias; aminoacidopatias; distúrbios do ciclo da uréia; e distúrbios da beta oxidação dos ácidos graxos (deficiência para transformar certos tipos de gorduras em energia). Já na terceira, ficam as doenças lisossômicas (que afetam o funcionamento celular). Na etapa quatro, as imunodeficiências primárias (problemas genéticos no sistema imunológico) e, por fim, na etapa cinco será testada a atrofia muscular espinhal (degeneração e perda de neurônios da medula da espinha e do tronco cerebral, resultando em fraqueza muscular progressiva e atrofia)”, ressalta Caroline.
O texto sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro, após ser aprovado pelo Congresso Nacional, foi apresentado pelo deputado Dagoberto Nogueira (PDT-MS).
Aplicação
O prazo para inclusão do rastreamento das novas doenças será fixado pelo Ministério da Saúde. As mudanças propostas pelo texto entrarão em vigor 365 dias após sua publicação, ou seja, a partir de maio do ano que vem. O exame é realizado em quase 29 mil pontos no país, entre maternidades e postos de saúde.