Moradores do Recanto Verde, em Criciúma, convivem com um incômodo diário: a intensidade do som das buzinas de trens. O sinal serve para alertar os condutores e pedestres de que o veículo está se aproximando. Uma ferramenta de segurança. No entanto, os residentes da localidade afirmam que alguns maquinistas exageram e trazem desconforto à população, principalmente, durante a madrugada. A falta de lombadas na rua Luiz Netto, que recentemente recebeu asfalto novo, também gera insegurança no bairro.
“Tem uma situação que incomoda bastante, que é a buzina do trem. Eu comprei minha casa ali porque é próximo da cidade, trabalho com construção civil, só que alguns maquinistas avacalham. Não tem horário, é meia-noite, duas, três horas da manhã. Até tenho áudios gravados que eles seguram a buzina. Eu acho que teria alguma solução para esse caso, sendo que carvão em Criciúma arrecada uma grana”, desabafa o morador do bairro Recanto Verde, Júnior Eduardo de Carvalho.
O trabalhador afirma que há um grupo, onde outras pessoas também compartilham a reclamação. “Uma das soluções que pensei, e todo mundo comentou, seria um semáforo, que é uma coisa simples, eu acho. Ou ao menos para amenizar as buzinas, em alguns horários”, comenta Carvalho. Ele ainda conta que o barulho ocorre durante todo o dia, mas o horário que traz incômodo é a partir da meia-noite. “Alguns maquinistas exageram. A gente trabalha, sai 6h da manhã, chega às 21h, e quer descansar um pouco”, completa.
O que diz a FTC
De acordo com o engenheiro e gestor da Ferrovia Tereza Cristina (FTC), André Mendonça Guaresi, em toda a sinalização ferroviária existem normas específicas a serem seguidas. "Hoje, a gente obedece, principalmente, duas. Uma diz que os locais que têm a transposição, a passagem de nível, são obrigados a terem a instalação de placas de apito, antes de cada passagem, que orienta os maquinistas que naquele local tem uma interseção e, ao se aproximar, ele precisa buzinar para avisar os condutores que o trem está chegando", explica.
A outra norma, conforme o engenheiro da FTC, é específica para as buzinas. "Ela estabelece que os apitos locomotivos têm que ter uma potência entre 96 e 110 decibéis, para que o condutor rodoviário que está se aproximando, ou o pedestre, possam perceber essa aproximação do trem e, com isso, evitar os acidentes. Toda a sinalização é regulamentada. Somos obrigados a apitar para fazer esse aviso", enfatiza Guaresi. Quanto ao horário, não há restrição prevista na legislação.
"Nós temos uma concessão ferroviária, onde temos duas metas, uma é de segurança, onde há um número limitado de ocorrências. Para se ter ideia, podemos punidos se tivermos mais de 11 colisões em um ano. Outra meta é a produção, determinada pela ANTT. Temos uma demanda, o minerador, que produz o carvão e disponibiliza as caixas de embarque para fazermos o transporte até a Usina Jorge Lacerda, para produção de energia. Essa é a relação com os nossos clientes, por isso, não tem um horário específico. A gente tem que seguir todas as normas, então, independente do horário, temos que pitar, porque se houver qualquer colisão e não cumprirmos o que determinam as normas, nós somos punidos pelo órgão regulador", enfatiza Guaresi.
As caixas de embarque a serem levadas a Capivari de Baixo são carregadas sem horário determinado. Ocorre conforme a demanda. "Eles nos passam quando que a gente tem que entregar na Usina Jorge Lacerda. Trabalhamos quase em regime de 24 horas por dia. Por exemplo, no ano passado, tivemos uma seca brava, as usinas termelétricas estavam queimando a todo vapor. Então, tem que ter uma demanda maior de carvão para fazer essa produção de energia e não colocar em risco o abastecimento. Por isso, não tem um horário específico. Está no nosso contrato que podemos fazer o transporte ferroviário de acordo com a demanda do nosso cliente", pontua.
Portanto, é determinado, em quaisquer circunstâncias, que os maquinistas buzinem. "A supressão de aviso sonoro não está prevista em nenhuma hipótese nas normas regulamentadoras para travessias rodoferroviárias. Ou seja, independente de qual sinalização houver, é obrigatório o apito para avisar o condutor e os pedestres que há aproximação da locomotiva", ressalta o engenheiro.
Falta de lombadas também é um problema
Após passar por uma revitalização no asfalto, a rua Luiz Netto, também no bairro Recanto Verde, carece de lombadas. É o que informa a população, que teme pela falta de segurança no trecho. Segundo Júnior, a demanda foi encaminhada a um vereador da cidade, mas o parlamentar pediu para que o morador procurasse a Diretoria de Trânsito e Transporte (DTT). Até o fechamento desta matéria, o problema não havia sido resolvido.
“Foi feito asfalto novo e não tem nenhuma lombada. É um tráfego grande de veículos ali. Eu tive um cachorro há uns três meses atropelado, gastei mil e poucos reais para curar ele. Não tem respeito de velocidade, nada. O meu menino que estuda, eu fico preocupado, quando ele vai para casa, ao atravessar a rua. É um minuto de bobeira para acontecer um acidente grave”, finaliza Carvalho.