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Colecionadora que recupera e restaura bonecos raros do lixão doa parte do acervo à Unesc

Ivonete Duarte Comin impressiona com extraordinária coleção de mais de 3,5 mil brinquedos e colabora com o Museu da Infância 

Redação Criciúma, SC, 02/07/2023 - 09:30 Atualizado em 02/07/2023 - 10:19
Foto: Daniela Savi/Agecom/Unesc
Foto: Daniela Savi/Agecom/Unesc

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"Quando criança nunca tive um brinquedo e hoje mais de 3,5 mil 'filhinhos' já passaram pelas minhas mãos". A mensagem é da moradora de Maracajá, Ivonete Duarte Comin, de 66 anos, que encontrou uma maneira de mudar a sua realidade e transformou a trajetória em uma jornada marcada pelo cuidado, amor, perseverança e generosidade. 

Ivonete descobriu uma maneira única de resgatar a magia do brincar a partir de objetos descartados no Centro de Triagem de Resíduos Sólidos da cidade onde reside. Hoje, por meio de gestos generosos, ela compartilha parte de seu valioso acervo, doando peças que cativaram o seu coração. Recentemente, em mais uma ação nobre, ela presenteou o Museu da Infância da Unesc com alguns de seus preciosos objetos.

"Com habilidade e cuidado, ela os preservou meticulosamente, e agora, alguns desses brinquedos resgatados ganharão um novo lar no Museu da Infância da Unesc, onde serão devidamente musealizados e colocados para a apreciação dos visitantes e pesquisadores, enriquecendo a exposição e mantendo viva a memória desses adoráveis personagens", diz a coordenadora do Setor Arte e Cultura e do Museu da Infância da Unesc, Amalhene Baesso Reddig, a Lenita, que reforça que "Ivonete é uma verdadeira guardiã desses tesouros do passado, e sua coleção nos convida a refletir sobre o valor histórico e afetivo dos objetos que nos rodeiam". 

Para se ter uma ideia, um dos quartos da casa de Ivonete é exclusivamente dedicado aos brinquedos que ela seleciona cuidadosamente por tamanhos e em locais especiais da sua residência, seja em prateleiras, em cima da cama e até pendurados. Além disso, ela se dedica mensalmente a preservá-los, realizando uma limpeza minuciosa com grande atenção aos detalhes. 

"Meu apego é imenso e eles estão sempre limpinhos. Não sei se serei capaz de me desfazer de todos os que encontrei, restaurei e cuidei", acrescentou Ivonete, enquanto olhava atentamente para os bonecos doados aos Museu, aos quais dedicou tanto zelo e carinho ao longo dos anos. 

Segundo Lenita, a atitude da colecionadora demonstra não apenas a paixão pelos brinquedos, mas também o compromisso em preservar o passado e compartilhá-lo com as futuras gerações.

Para a pró-reitora de Pesquisa, Pós-Graduação, Inovação e Extensão, Gisele Coelho Lopes, a Universidade tem um compromisso contínuo em promover a excelência acadêmica e o desenvolvimento integral dos estudantes, proporcionando-lhes uma formação de qualidade que ultrapasse as fronteiras da sala de aula. 

"Os museus da Unesc, dentre eles, o da Infância, desempenham um papel fundamental nesse contexto, pois é um espaço privilegiado para a complementação do ensino, a promoção da pesquisa e a interação com a comunidade", enfatiza.

"Ao recebermos materiais para o nosso Museu, estamos enriquecendo o ambiente de aprendizagem dos nossos acadêmicos e visitantes. Esses objetos históricos não só despertam a curiosidade e o interesse dos estudantes, mas também os conectam com a história, a cultura e as tradições que permeiam o conhecimento que buscamos transmitir. Eles se tornam testemunhos tangíveis do nosso passado, instigando o pensamento crítico e estimulando o diálogo interdisciplinar", acrescenta Gisele.

Mais que a paixão pelos brinquedos

A história da maracajaense começou quando estava no Centro de Triagem de Resíduos Sólidos de Maracajá procurando roupas para o irmão com deficiência. Lá, encontrou a "princesinha", nome dado carinhosamente à primeira boneca resgatada. Aos poucos, ela achou outras partes, como a cabeça, as pernas e os braços e, com habilidade e dedicação, deu uma nova vida aos objetos que foram descartados. O amor pelos objetos rendeu-lhe o carinhoso apelido de "a mulher das bonecas".

"Todas as tardes eu pegava os materiais, lavava e restaurava. Quando não havia roupas adequadas, eu mesma as confeccionava", compartilhou Ivonete, lembrando ainda que quando pequena, costumava fazer bonecas de espigas de milho para poder brincar. 

Infelizmente, devido a problemas de saúde, Ivonete não pode mais ir ao Centro de Triagem para coletar novas peças como gostaria, mas com ajuda de amigos solidários, essa atividade ganhou um propósito especial, pois eles fazem questão de levar tudo o que encontram até a casa de Ivonete.

Novo significado

"É verdadeiramente impressionante ver o processo cuidadoso que ela realiza, desde cuidar e organizar a classificar e confeccionar roupas para os bonecos. É um material que, de outra forma, seria descartado na Central. Ela resgata esses brinquedos e lhes dá um novo significado", mencionou a coordenadora do Grupo de Pesquisa História e Memória da Educação (Grupehme) da Universidade, Giani Rabelo, que esteve na entrega.

"Nunca vi alguém com tanta dedicação e criatividade, mesmo com recursos limitados. Tornar isso conhecido pelas crianças e pelos pesquisadores é fundamental", acrescenta Giani.

Em 2022, Ivonete já havia feito doações de seis bonecos à Universidade, entre eles o exemplar de Saci Pererê que está no Museu da Infância. Os outros, como a Barbie Negra; o Fofão; o Peposo – urso da família Peposos; a Peposinha; o Dipsy do Teletubbie; o Bananas de Pijamas; e a boneca Guarda Chuva estão em exposição no Museu de Araranguá. 

"Com sua coleção, ela nos presenteia com a oportunidade de viajar no tempo, explorando diferentes épocas e apreciando a história por trás de cada brinquedo. É como se ela trouxesse à tona memórias esquecidas e nos convidasse a valorizar esses objetos que, de outra forma, poderiam ser descartados", rememora Giani.

Preservação da memória

A iniciativa de coletar e compartilhar os objetos, de acordo com Lenita, demonstra também o amor pelos brinquedos e a vontade de compartilhar essas preciosidades com o público, permitindo que outros apreciem e se encantem com essas figuras que fizeram parte da infância de muitas pessoas.

"Ela possui um verdadeiro espírito colecionador, pois não apenas recolhe os brinquedos, mas também os higieniza, limpa, costura, adapta e os expõe com orgulho em sua casa. Além disso, ela classifica os objetos, tais como grupos de bonecas e de pelúcias, por exemplo. Sabemos que nesse ato reside um dos princípios do campo museal", analisa Lenita.

Herança cultural

Lenita ainda relata que a oportunidade de conectar as crianças de hoje com brinquedos do passado possui grande valor, pois permite que elas conheçam e apreciem a herança cultural desses objetos e os significados que carregam. 

"Por meio dessa doação, o Museu se torna um espaço onde o passado e o presente se entrelaçam, incentivando a imaginação, o brincar e a reflexão sobre como esses brinquedos fizeram parte da infância de diferentes gerações", enfatiza a coordenadora.

"O museu agora tem o privilégio de preservar e exibir esses objetos, enriquecendo assim a narrativa da infância e possibilitando um diálogo contínuo sobre a importância histórica e emocional dos brinquedos em nossas vidas", complementa.

Doação

A entrega dos brinquedos ao Museu da Infância ocorreu na última semana. Entre os tesouros doados estão personagens icônicos como Bananas de Pijamas; Chapolin Colorado; Quico do seriado Chaves; e o adorável Bebi.

"O fato de termos agora esses bonecos aqui na Unesc é uma garantia de que eles serão bem cuidados e se tornarão algo amplamente reconhecido e valorizado", menciona Giani.

"A doação desses bonecos raros ao Museu contribuirá para enriquecer ainda mais o acervo e preservar a memória cultural relacionada aos brinquedos e personagens que encantaram gerações e oferece oportunidades valiosas para Pesquisa, Extensão e a troca de conhecimentos", sublinha Lenita.

"Além disso, o acervo do Museu é uma rica fonte de pesquisa para estudantes e pesquisadores da Unesc. O acesso a esses materiais proporciona oportunidades únicas de estudo e investigação, permitindo que nossos acadêmicos explorem diferentes abordagens, desenvolvam projetos de pesquisa inovadores e contribuam para o avanço do conhecimento em suas áreas de atuação", complementa Gisele.

Convite especial

A pesquisadora do Grupehme, Cristiane Santana, que participou da entrega, já estendeu um convite especial à doadora para visitar a Escola Municipal Maria Libânia Machado em Maracajá, onde ela trabalha. A intenção é proporcionar à Ivonete a oportunidade de compartilhar sua história e trajetória com os alunos, destacando a importância dos brinquedos resgatados do lixão, que foram cuidadosamente restaurados e doados para que as crianças possam brincar e desfrutar deles. 

Essa visita proporcionará um momento enriquecedor de aprendizado e conexão entre a generosidade de Ivonete e a comunidade escolar, reforçando os valores de preservação, criatividade e valorização do passado. 

"Ivonete se tornou a guardiã dessas bonecas e, generosamente, decidiu doá-las à escola, proporcionando às crianças a oportunidade de brincar e se deleitar com esses valiosos brinquedos, que incluem uma variedade de Barbies, bebês e outros exemplares raros. No entanto, gostaríamos muito que ela pudesse visitar pessoalmente a escola e compartilhar sua história, encantando as crianças da mesma forma que encantou a mim", comenta Cristiane. 

"Essa visita especial permitirá que as crianças conheçam de perto a história inspiradora de Ivonete e criem um vínculo afetivo com a doadora e seus preciosos brinquedos, promovendo momentos de encantamento e aprendizado", reforça Cristiane.

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