Inaugurado na segunda metade do século passado, o Complexo Termelétrico Jorge Lacerda é o maior expoente do segmento carbonífero no sul de Santa Catarina. Pode-se dizer, inclusive, que o setor carbonífero da região só sobrevive atualmente por conta de sua atividade - a qual está correndo o risco de fechar.
Tanto a atividade carbonífera quanto a usina começaram a ganhar força no mercado durante a década de 1990, com a abertura comercial do governo Collor. “De 90 a 92, somente a Jorge Lacerda é a consumidora do carvão regional. Em 1997 acontece a privatização do parque e é feito então um acordo com o Governo Federal de que, durante 10 anos, a Tractebel não pagaria nada pelo carvão produzido. E quando terminou esse prazo, todo ano ocorria uma negociação do carvão entre mineradores, empresas e o Governo Federal”, disse Alcides.
Anos após o fim do acordo com o Governo Federal, o grupo internacional Engie assume o complexo, tido como a maior usina termelétrica da América Latina. Acontece que inúmeras posições empresariais fizeram com que a empresa responsável pela Jorge Lacerda, colocasse-a a venda, o que pode culminar em uma possível desativação da usina.
“Essa é uma discussão que vem ocorrendo desde 2017, quando a Engie colocou à venda o complexo. Ela vem tentando fazer isso porque faz parte de uma estratégia empresarial de se descarbonizar a nível mundial. A Engie tinha ativos de carvão no mundo inteiro e vem se desfazendo disso, fechando alguns e vendendo outros. Já sabíamos que isso iria acontecer, mas o que aconteceu agora é que a Engie tornou público que não conseguiu vender os ativos e, portanto, com o fim da Conta de Desenvolvimento Energético em 2027, ela está vendo a dificuldade de se fazer essa venda”, pontuou o presidente da Associação Brasileira de Carvão Mineral (ABCM), Fernando Zancan.
São três as alternativas levadas em consideração pela Engie e que podem definir o futuro da Jorge Lacerda. A primeira seria prosseguir com o processo e conseguir vender o complexo, o que vem se mostrando cada vez mais difícil. A outra, a possibilidade de um acordo com a Eletrosul. Já a última alternativa seria a desativação escalonada do complexo, começando pelas duas máquinas mais antigas já em 2021.
Com a desativação da usina, milhares de postos de trabalho da região sul do estado acabariam fechando. “No setor carbonífero, na região, temos algo em torno de 3 mil trabalhadores. Mas levando em consideração toda a cadeia produtiva, passa de 20 mil postos de trabalho fechados caso se concretize essa catástrofe. É aquele trabalhador que fornece a marmita, aquela empresa que fornece equipamentos na área da mecânica, elétrica e insumos para as carboníferas. São todos esses trabalhadores”, colocou o presidente do Sindicato dos Mineiros, Djonatan Elias.
Na última semana, prefeitos da região, vereadores, deputados estaduais e federais, empresários e o próprio governador de Santa Catarina, Carlos Moisés da Silva, estiveram reunidos em busca de soluções para o complexo Jorge Lacerda. Uma das opções seria a própria mudança da lei federal de compra e venda do carvão, mas só isso não seria possível para salvar a usina, já que a Engie não quer mais operar.
De todas as possibilidades, um fator é unânime entre autoridades e especialistas quando o assunto é a salvação da indústria do carvão na região sul e o complexo Jorge Lacerda: o envolvimento do Governo Federal. “É preciso fechar uma equação junto com o Governo Federal, porque está na mão dele essa decisão”, disse Zancan. “A saída vai ser como sempre foi na história do Brasil: só o Estado vai poder salvar”, afirmou Alcides.