O que foi a Primavera árabe? Como surgiu o Estado islâmico? O que tudo isso tem a ver com a atual situação do Oriente Médio? Para responder essas e outras perguntas, o professor Christian Deboita Medeiros conversou com Pity Búrigo e Mano Dal Ponte no Do Avesso dessa quarta-feira (19).
Um dos principais pontos ligados a essas questões é a religião. “A primeira coisa que é preciso frisar os conflitos é que eles ganham caráter religioso sem necessariamente envolverem diretamente as religiões”, alerta o especialista.
No Oriente Médio, existem três grandes religiões monoteístas (islamismo, cristianismo e judaísmo) que são utilizadas pelos conflitos, independente se de maneira direta ou indireta. “Em si, elas não tem participação, mas no Oriente Médio não se separa política de religião, então temos o uso da fé alheia como combustível para o conflito”, explica Medeiros.
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Portanto, segundo o especialista, as origens destes embates entre os povos do Oriente Médio são territoriais e econômicas.
“Então temos o uso da fé alheia diante das grandes dificuldades que uma parcela cada vez maior da população do oriente enfrenta, pra alimentar conflitos que não tem origem religiosa, a origem é territorial, econômica, as fronteiras foram forjadas a partir de interesses das potencias ocidentais da primeira guerra mundial”, explicou o especialista.
Não é de hoje
Os conflitos existem desde sempre. Entretanto, os historiadores apontam principalmente os mais recentes, que se iniciaram a partir do século 20. “Costuma-se mapeá-los a partir da Primeira Guerra Mundial, que foi um marco”, diz o professor.
Com a queda de impérios árabes, principalmente o Otomano, problemas sociais como a tensão entre diferentes povos, antes governados pelo imperador, começam a pipocar pelo Oriente Médio.
“Temos o encontro de vários povos e, quando o império cai, existe o problema de definir fronteiras, porque dentro do império as fronteiras não são importantes, e sim onde começa e acaba o poder do imperador”, coloca Medeiros. Além dos árabes, quem vive na região são os judeus, os persas, europeus, entre outros povos.
A divisão dos territórios, tarefa de França e Inglaterra, dois grandes vencedores da Primeira Guerra, foi pautada a partir de interesses ocidentais. “Então não se respeitou as vontades e problemas que a diversidade de povos da região apontava, e ainda aponta”, conta Medeiros.
Hoje, o Oriente Médio vive uma forte intervenção estrangeira. Tudo em função da conjuntura e do seu papel pra com o resto do mundo. “Ali ficam os principais países produtores de petróleo, que controlam mais da metade da produção mundial do combustível, exercendo grande papel na dinâmica economia mundial”, expõe o especialista.
Para conferir tudo sobre o Oriente Médio, confira o Programa do Avesso desta quarta-feira (19) no SoundCloud da Rádio Som Maior.