Foi um furor de desinformação: o tão aguardado resultado dos estudos da Coronavac, produzido em parceria entre o Instituto Butantan e a Sinovac, farmacêutica chinesa, indicou uma eficácia de pouco mais de 50% contra o infecção de coronavírus - número que aumenta para 70% contra casos que necessitam de atendimento médico e chegou aos 100% contra as mortes. Sem politizar a vacina, focado na tecnicidade do assunto, o médico pneumologista Renato Matos falou no Programa Adelor Lessa dessa quinta-feira sobre as opções brasileiras de vacinação e demistificou os que querem confundir: "se analisarmos todas as situações, ela é uma boa vacina", resume.
Segundo Matos, a Coronavac teve uma linha de estudo um pouco diferente às da Moderna, cuja eficácia foi apontada em mais de 94,1% pela farmacêutica. "O estudo da Coronavac considera caso qualquer tipo de sintoma: apresentou um pouco de dor de garganta, diarreia, dor de cabeça, isso é um caso. Na Astrazeneca, considera esses sintomas leves, mais falta de ar, são casos mais graves, também o da Moderna. Estão se avaliando coisas diferentes", detalhou o médico.
"A Coronavac evita em 70% casos mais graves, evita internação e evita morte. Se hoje eu for acometido por uma infecção de coronavírus e não vou pro hospital e não vou precisar de oxigênio e nem morrer, eu estou feliz da vida. Essa vacina pode tornar uma doença potencialmente fatal em uma gripezinha. Isso é um grande negócio", completa Matos.
Alguns fatores favoráveis - apesar da eficácia menor do que as vacinas produzidas com a tecnologia de inserção do RNA - foram apontados por Matos à Coronavac, que insere o vírus morto no organismo. "A vacina RNA, da Pfizer por exemplo, produz uma única proteína: se essa proteína mudar, teremos que refazer a vacina. A Coronavac introduz o vírus inteiro, existem mais proteínas para serem atacadas", explica.
"Como se fizesse uma vacina que atacasse só os dedos das mãos. Se eu perco a mão, a vacina não funciona mais. Se eu tenho uma que ataca minhas mãos, pernas, troncos, caso eu perca as mãos, a vacina continua funcionando. A Coronavac tem uma amplitude maior de alvos para serem atacados", exemplificou o médico. "Apesar da eficácia geral ficar um pouco acima de 50%, se analisarmos todas as situações, ela é uma boa vacina, só que vamos alcançar o nosso objetivo (a imunidade coletiva) mais lentamente", conclui.
O governo federal vacila - mas ainda não vacina - em apresentar um calendário de imunização contra a Covid-19. O ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, indicou, por último, o dia 19 de janeiro para a realização de um evento no Palácio do Planalto, cuja intenção é vacinar um idoso e um profissional da área da saúde. No entanto, a data ainda não foi oficializada.
É consenso entre os especialistas em saúde que o Brasil fez poucas "apostas" enquanto estudavam-se as eficácias e efetividades das diferentes vacinas em elaboração pelo mundo: o governo de São Paulo colocou "as fichas" na Coronavac e o governo Federal na de Oxford/Astrazeneca.
"Há meses Israel (país que vacinou mais de 20% da população) pagou acima do mercado. Hoje sabe-se que custa 20 dólares a vacina da Pfeizer ou Moderna, Israel pagoum por exemplo, 25 dólares para reservar a quantidade. Canadá disse que reservou uma quantidade de 10 vacinas para cada paciente. O Brasil demorou muito para fazer isso", podera Matos.
O médico reforçou a dificuldade que o governo Federal terá para comprar vacinas da Pfizer ou da Moderna, como foi sinalizado anteriormento por Pazuello. "Nessa época, o mercado está saturado, não existe mais vacina, mesmo pagando acima de mercado", aponta o médico.
Confira a ent