Covid-19: João dos Pintos partiu

Ele foi a vigésima sétima morte por Covid-19 em Araranguá e a sexagésima da região da Amesc. Faleceu por volta das 23h30min desta segunda-feira, 17, no Hospital da Unimed, em Criciúma, o conhecido João da Silva, o João dos Pintos, 80 anos, de Araranguá. Ele esteve internado por dez dias e, mais recentemente, em coma induzido.

Natural de Tubarão, ele teve longa atividade política na Cidade das Avenidas. Foi um dos fundadores do MDB na cidade, pelo qual candidatou-se a prefeito em 1972, 76 e 82, não conseguindo vencer. O apelido, João dos Pintos, veio dos negócios, já que manteve uma agropecuária no Bairro Cidade Alta. Por último, estava filiado ao PSDB.

João foi secretário de Obras do prefeito Primo Menegalli, então do PSDB. Ocupou ainda cargos estaduais em governos do MDB. Um filho seu dedicou-se à política. Johni Lucas da Silva, que foi vereador em Araranguá. Aposentado, João vinha se dedicando a escrever livros. Gostava de contar histórias da política local e regional.

Adelor Lessa lembra

A trajetória de João dos Pintos foi lembrada pelo jornalista Adelor Lessa em seu comentário na manhã desta terça-feira, 18, na Rádio Som Maior. Confira:

Era garoto, estava na esquina da Gomes Garcia, local tradicional na época, no Centro de Araranguá, quando de repente se observa uma movimentação. E vem dezenas, e centenas de pessoas, todos de braços dados. Sem barulho, em silêncio. Mas juntos, de braços dados, caminhando. Foram de uma ponta a outra da Avenida Getúlio Vargas, coração da cidade.

Nunca tinha visto nada parecido. Aquela imagem ficou gravada, e a impressão é que era um mar de gente

Na liderança daquele ato estava um comerciante. Ele se lançava candidato a prefeito. Era um crítico da estrutura de poder predominante na cidade.

Seu nome: João da Silva. Seu apelido e sua marca: João dos Pintos.
Tinha uma agropecuária, trabalhava com pintos, por isso o apelido.

Mas, ali conheci o João, e comecei a admirá-lo. Pela coragem, ousadia, determinação

Foi perseguido, atacado, criticado, caluniado, mas sempre firme. Foi candidato a prefeito três vezes. Não se elegeu, mas fez a sua parte pela cidade. Mas foi vencedor pelo exemplo que deixou e pelas sementes que plantou.

Estimulou a resistência, a coragem de mudar e a luta,o enfrentamento aos grupos de poder. É um dos personagens mais importantes da história política de Araranguá.
Homem de sorriso fácil, de boa conversa, contador de histórias.

Pois o coronavirus levou o João. João guerreiro, melhor definição para ele e sua vida. Ele estava internado no Hospital da Unimed faz 10 dias, seu estado era grave e ele perdeu a batalha pouco antes da meia noite. 

O seu filho, Johny lucas, escreveu que seu pai viveu a plenitude da vida da maneira mais intensa que lhe foi permitida. Lutou batalhas diversas, a grande maioria venceu, mas nunca fraquejou ou deixou-se abater. E acrescentou: deixa um legado de fé e confiança na capacidade de se fazer sempre o melhor e de jamais desistir. Lutou pela vida até o último momento.

Eu perdi mais um amigo pra essa praga. Quantos mais?

E ainda temos que ouvir e ler arroubos de negacionistas, de quem insiste em dizer que nao é tudo isso, e de quem faz política com o assunto. Daqueles que insistem que é só tomar isso ou aquilo que está resolvido. Enquanto isso, perdemos mais o João dos Pintos. E antes dele foram mais três só ontem em Criciúma.

(Com informações do jornalista Everaldo Silveira)