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“Passei por muitas coisas ruins, ouvi muito desaforo, recebi muitas ofensas, fui humilhada e apanhei muito. Teve uma época em que ele chegava do bar tarde e queria relação sexual, mas eu sempre negava, então ele me puxava da cama pelos pés, me batia tanto que eu sempre acabava sangrando muito". Esse é um dos muitos relatos de Maria Helena Porfírio, a primeira mulher de Santa Catarina que acionou a Lei Maria da Penha quando ela foi aprovada.
Técnica em Enfermagem de Siderópolis, Maria Helena tem 48 anos, é mãe de quatro filhos. Vereadora em exercicío no município, ela conta com o apoio de outro vereador, Clademir de Souza, o Peninha, que defende a bandeira dos direitos das mulheres. Ele ingressou com dois projetos de lei, um para divulgar o disque denúncia de violência contra a mulher nos locais públicos de Siderópolis e outro para criar o Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres.
Maria Helena foi casada por 21 anos e passou o que nenhuma mulher quer passar nesses tantos anos de matrimônio. Por duas vezes, quase foi estuprada, escondia tudo que acontecia da família, seu refúgio era o trabalho, seus pacientes e filhos. "Ele tentou me estuprar duas vezes, mas eu não tinha coragem de contar para a minha família, para as pessoas próximas, escondia tudo. Eu agradeço a Deus por ter o meu emprego, meus colegas de trabalho, meus pacientes e meus filhos. Tenho certeza que entraria em depressão e algo pior poderia ter acontecido", relata Maria Helena, emocionada.
Em 2006 foi sancionada a Lei Maria da Penha e, logo depois, ela foi à procura e fez a denúncia. Sendo assim, Maria Helena é a primeira mulher de Santa Catarina a denunciar o parceiro via Maria da Penha. Diante de todas agressões, o seu ex-marido foi preso e ficou por 20 dias na cadeia, pagando fiança e sendo liberado.
"Queria dizer para todas as mulheres não se envergonharem de denunciar seu parceiro. Vergonha é ser humilhado, ser maltratada, ofendida, nós temos que ter amor próprio, e isso eu não tinha mais por mim há um bom tempo. Então denunciem", conta Maria Helena sobre a denúncia. "Não se intimidem, não deixem os homens fazer de vocês o que fizeram comigo, não deixem os homens pensar que vocês não valem nada, meu companheiro dizia que eu não valia nem quatro reais em todos os almoços e jantares, com toda a família na mesa, para todos escutarem. Pessoal, vamos lutar pelos nossos direitos, pela nossa dignidade, vamos lutar por nós, seguir sempre juntas nesta luta que vai durar para sempre. Feliz Dia da Mulher para todas”.
Ouça o depoimento dela no podcast:
