Famílias estão recorrendo ao mercado clandestino em busca de um remédio controverso utilizado em casos muito específicos de pacientes com Covid-19. Por estar em falta no comércio tradicional, o Actemra, medicamento da farmacêutica Roche, chega a custar mais de R$ 20 mil em alguns locais.
Na região de Criciúma, há relatos de uma família que chegou a pagar aproximadamente R$ 40 mil para trazer o medicamento diretamente de Rondônia. O remédio, no entanto, de acordo com o pneumologista Renato Matos, só pode ser prescrito por um médico em casos específicos de quadros avançados - e ainda sim gera dúvidas.
“Esse não é nenhum remédio mágico. Na fase inicial da doença existe uma multiplicação da Covid-19. Nessa fase é fundamental que o sistema imunológico esteja funcionando a pleno, e em alguns pacientes, uma minoria, essa reação de defesa é exagerada, o que chamamos de cascata inflamatória. Alguns pacientes desenvolvem essa cascata de forma muito intensa, o que faz com que eles piorem. Nesses pacientes que estão tendo cascata inflamatória muito intensa, existe uma potencial indicação dessa medicação, que não mata ou trata o vírus”, declarou Renato.
De acordo com o pneumologista, o Actemra só deve ser utilizado em pacientes que estão entrando em uma fase mais complicada da doença, quando existe um comprometimento pulmonar significativo do paciente. Uma diretriz do Ministério da Saúde confirma ainda que o medicamento só pode ser recomendado no caso de pacientes que estão precisando de alto fluxo de oxigênio e que, segundo Renato, estão indo para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
“Nunca pode ser utilizado em casa [o Actemra]. Temos lido nas redes sociais pacientes usando em casa e isso é algo criminoso”, pontuou Renato. “Essa é uma medicação que retira as defesas do organismo, o objetivo dela é reduzir a resposta inflamatória”, completou.
Em Criciúma, a Secretaria de Saúde já está ciente da procura do medicamento por parte de pessoas que, ao verem familiares em situação complicada da doença, e com a prescrição em mãos, apelaram para o mercado clandestino. O município, no entanto, também não conseguiu comprar o remédio.
“Temos recebido inúmeras pessoas desesperadas no momento. Imagine, um familiar precisando de você, sabendo que existe um remédio e que não consegue comprar. O SUS não oferece esse medicamento e há uma dificuldade enorme em conseguir, temos tentado de todas as maneiras, mas não temos tido êxito. É uma dificuldade tremenda e quando se consegue, é uma loteria”, ressaltou o secretário municipal de Saúde, Acélio Casagrande.
Segunda opção
Segundo Renato, a função do Actemra é, de certa forma, semelhante a dexametasona, medicamento usualmente muito mais barato, na faixa dos R$ 50, e que em ensaios clínicos se mostrou mais eficaz do que o remédio da Roche.
“Foi a medicação que se usa de rotina nesses pacientes, por isso que precisa de prescrição muito específica se temos uma medicação, hoje, extremamente barata [dexametasona], por menos de R$ 100”, apontou Renato.
“É importante que as pessoas saibam que essa medicação tem ação marginal, não é fundamental. Em alguns casos podem fazer a diferença, mas é um medicamento que tem que ser utilizado na hora em que o paciente está indo para UTI. É muito subjetiva essa indicação, o médico precisa ser extremamente cuidadoso nessa indicação. Pode ajudar algumas vezes, pode piorar outras, mas deve existir um consenso”, ressaltou o pneumologista.