Um levantamento da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc) concluiu que, entre as empresas que participam dos programas de fomento, apenas 25% são lideradas por mulheres. Para mudar esse panorama, a fundação lançará neste 8 de março o programa “Mulheres+Tec”, que vai destinar R$ 1,4 milhão para dar suporte a 24 startups catarinenses. A intenção é ampliar a participação de mulheres no mercado tecnológico e reforçar o papel de lideranças femininas como fundadoras e gestoras de startups.
Levando em consideração o contexto nacional, em que apontava menor participação das mulheres no setor de inovação, o presidente da Fapesc, Fábio Zabot Holthausen, decidiu criar uma comissão para analisar os programas de fomento da fundação e o equilíbrio entre os proponentes de projetos. “Identificamos maior prevalência de homens na inovação e um equilíbrio em outras áreas, como bolsas e pesquisa. Dessa forma, criamos algumas estratégias e uma delas é este edital. Estamos com uma ótima expectativa” , explica.
Cada empreendedora aprovada receberá R$ 60 mil para investir em sua startup, além de capacitação realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/SC). Serão contempladas quatro empresas de cada região (Norte, Vale do Itajaí, Sul, Grande Florianópolis, Serra e Oeste). Os recursos poderão ser usados para aquisição de equipamentos, materiais, serviços, consultoria e até contratação de bolsistas.
Segundo a gerente de Inovação da Fapesc, Gabriela Mager, o programa será lançado em parceria com o Sebrae/SC para apoiar as empresas de base tecnológica lideradas por mulheres. “Para incentivar e dar mais visibilidade à participação feminina no ecossistema de TI, nós desenvolvemos esse programa. Podem se inscrever empresas lideradas por mulheres, em que elas sejam sócias e também gestoras”, explica.
Se apenas uma em cada quatro empresas que pedem fomento da Fapesc são lideradas por mulheres, o contexto nacional é ainda mais desafiador. Segundo Tatiana Takimoto, uma das coordenadoras do Programa Mulheres+Tec, apenas 7% das startups têm mulheres como gestoras. “Por isso é muito importante a gente ter um novo edital exclusivo para mulheres porque isso abre oportunidades”, defende. “As mulheres são muito questionadas a respeito da maternidade, se terão condições de acelerar seus negócios e isso as impede de entrar no mercado e receber investimento.”
Essa dupla, tripla ou quádrupla jornada vivida por mulheres que precisam ao mesmo tempo serem pesquisadoras, empresárias, mães e donas de casa, emperram o avanço do empreendedorismo feminino. “Por isso elas não assumem o posto de CEO da empresa e acabam dividindo com os colegas”, explica Camila Nunes, que também coordena o programa. “Acredito que impulsionar negócios geridos por mulheres vai incentivá-las a buscar mais capacitações. Com essas capacitações, elas vão ter mais possibilidades dentro das empresas”.
Para concorrer aos recursos e às capacitações do Programa Mulheres+Tec, é preciso fazer as inscrições até 25 de abril na plataforma da Fapesc. Acesse o edital completo em www.fapesc.sc.gov.br. Ouça a entrevista de Gabriela Mager ao Programa Adelor Lessa desta terça-feira, 8, na Rádio Som Maior.
Desafios para a participação das mulheres em startups
Em Santa Catarina, a Fapesc tem sido uma parceira das empreendedoras e incentivado a aceleração de suas startups. É o caso de Ana Paula Leite, de Florianópolis, que desenvolveu a Mingoo - uma plataforma para turismo guiado por áudio.
Ana Paula submeteu sua ideia inicialmente no Programa Nascer, desenvolvido pela Fapesc em parceria com o Sebrae-SC. Depois de aperfeiçoar o projeto e ter um plano de negócios, participou do Inovatur II, também realizado pela fundação junto com a Agência de Desenvolvimento do Turismo de Santa Catarina (Santur).
"O Nascer me deu o apoio de fazer o plano de negócio, de entender aquela ideia. E o Inovatur está me dando toda mentoria e todo apoio para seguir com essa ideia e a verba também. A verba é o que possibilitou fazer a plataforma, que entra no ar daqui duas semanas”, destaca.
Somente com ajuda desses dois programas foi possível entrar nesse mercado e ter toda a orientação necessária para poder empreender e buscar investimento. “A tecnologia é um ambiente mais masculino. Desde que a gente nasce, é enraizado isso na gente. Mas isso não quer dizer que não pode mudar. E esses programas, como o Nascer e o Inovatur, ajudam muito isso.”, defende.
Mirian Thizon Berejuck, de Criciúma, também está adentrando no empreendedorismo tecnológico. Engenheira por formação, ela já estava acostumada com ambientes que são predominantemente masculinos. “Quando iniciei no mercado de trabalho também havia uma relação baixa de mulheres para homens, mas com o tempo foi aumentando. Ainda somos em minoria, mas a diferença vêm reduzindo com o tempo”, confessa.
Miriam foi aprovada no Programa Centelha, o que possibilitou a criação da empresa Medeor, da área de fortalecimento muscular e saúde. Ela se orgulha de todas as conquistas alcançadas até agora.
“A minha geração ainda carrega as responsabilidades de mulher, mãe e dona de casa. O desafio maior está em abrir mão disso pela divisão de tarefas. Soma-se essa função à dedicação que exige estar em um contexto de tecnologia, onde coisas novas surgem a todo o momento e temos que buscar novas soluções, mais a rotina operacional de uma empresa”
Por isso, Ana Paula e Miriam comemoram o lançamento do Programa Mulher+Tech da Fapesc e acreditam que isso vai incentivar ainda mais o avanço de lideranças femininas dentro das startups.