Santa Bárbara é a padroeira dos mineiros. Logo, nada mais justo que tenha especial evocação na Capital Nacional do Carvão. Afinal, é debaixo das minas de carvão que se encontram, na principal vocação regional, aqueles trabalhadores dedicados à lavra do ouro negro, grande riqueza de diversos municípios que, não à toa, compõe a região carbonífera de Santa Catarina.
Mas os tempos mudaram. Criciúma não é mais a Capital do Carvão na produção, título consolidado nos anos 50 pela persistência do então líder político e prefeito Addo Caldas Faraco. É uma honraria muito mais histórica que pontual. O passado assim o diz. O presente conta que não há mais minas sendo exploradas no município, o foco da extração migrou para Siderópolis, Treviso e Lauro Müller, Forquilhinha e Urussanga perderam um pouco de fôlego, Içara conta com alguma lavra e o futuro ponta nas regiões de Maracajá e Orleans.
É nesse momento que fé e economia acabam cruzando seus caminhos. Criciúma já tentou lançar a discussão sobre a validade moderna do feriado de Santa Bárbara, em 4 de dezembro. Forquilhinha chegou a levar o tema a debate na Câmara. Nas duas cidades, não há unanimidade. Mas lideranças criciumenses elevaram o tom do debate nesta semana.
Ocorre que, em visita ao Bispo Dom Jacinto Flach tendo em mãos o convite para a sua posse na presidência da CDL, realizada na quinta-feira – da qual o epíscopo participou – Andrea Salvalaggio levou o pedido, avalizado pelo presidente da ACIC, Moacir Dagostin, de uma benção: concordar com a alteração do feriado religioso, de venerar a santa no primeiro domingo de dezembro, e não mais no dia 4. Logo, abrindo mão efetivamente do feriado em dia útil como será em 2019, quando a data cai em uma quarta-feira.
“De fato, essas pessoas vieram até o bispo, conversaram, e Dom Jacinto até achou interessante. Ele não descartou. Mas ele comentou que, para chegar a uma conclusão, é preciso conversar com os padres da cidade. Não se trata de um simples feriado”, afirma o padre Joel Sávio, titular da Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe e que acompanhou Dom Jacinto na conversa com os dirigentes da CDL e ACIC.
“Oficialmente não tem nada. Se houver de fato uma motivação, nós, enquanto igreja, não estamos fechados para dialogar sobre isso. Foi só um bate-papo. O bispo não vai impor dificuldades, mas esse não é um objetivo agora. Temos um viés histórico e toda a tradição a analisar”, ponderou o sacerdote. “Não vamos mudar a data religiosa, mas a data civil, por provocação da prefeitura e Câmara, poderemos debater sim”, completou.
As razões colocadas
Entre as razões expostas por CDL e ACIC, além da questão da padroeira representar um segmento que perdeu espaço em Criciúma, está a pauta econômica. “Eles expuseram que há sim uma pauta comercial, 4 de dezembro é em período de compras de fim de ano, pode atrapalhar”, apontou padre Joel. No decorrer da conversa, surgiu outra proposta. “De trocar Santa Bárbara por São José, de então o feriado religioso ser em 19 de março, que fica em um período com menor apelo para o comércio e a indústria”, pontuou o padre, lembrando que São José é o padroeiro de Criciúma. “Mas foi só uma conversa amigável”, emendou.
O tema já foi discutido também com o prefeito Clésio Salvaro, que ainda não se manifestou a respeito.