Foram 10 anos de preparação para a chegada dos Votos Perpétuos, um período de discernimento vocacional realizado pela Irmã Jesica Benitez. Aos 33 anos, a religiosa iniciou essa década de caminhada na Argentina e finaliza este importante período em Criciúma, atuando no Hospital São José. No dia 25 de setembro, às 10h, na Catedral São José, ela dirá o Sim definitivo a Deus, à Igreja e à Congregação das Irmãs Escolares de Nossa Senhora em uma cerimônia aberta à comunidade e que contará com a presença da superiora geral da congregação, Irmã Roxanne Schares, dos Estados Unidos e também a provincial, Irmã Maruzânia Soares Dias.
Irmã Jesica nasceu na cidade de Santa Elena, na Argentina. "Sou de uma família muito católica. Meus pais iam sempre à missa, à catequese. Fui também para um colégio religioso, algumas irmãs foram minhas professoras. Então eu já conhecia a congregação. A questão vocacional tocou em mim quando eu tinha 14 anos. Um grupo de seminaristas veio para fazer vista no colégio e eles perguntaram: você quer ser feliz? E isso ficou na minha mente, afinal, a felicidade está onde? Acredito que todo ser humano quer ser feliz. Só que a gente só é feliz quando está no lugar certo. No meio da adolescência toda me questionei, será que existe essa felicidade para mim também? Eles falavam para perguntar para Deus onde está a felicidade e aquilo começou a ficar mais forte na cabeça", comenta Irmã Jesica.
Com a idade de 17 anos, decidiu fazer o curso de enfermagem com o foco principal de ajudar as pessoas. "A vontade de ser religiosa já existia, mas nunca cheguei a comentar com ninguém sobre. Já tinha traçado o que eu iria fazer da vida, que era me formar em enfermagem. Era inclusive uma vontade dos meus pais. Me dediquei aos estudos e no último ano de faculdade, aconteceu que faleceu um familiar e eu voltei também para a convivência da igreja. Tinha deixado um pouco de lado por causa dos estudos. E isso fez com que uma inquietude voltasse, aquela que já havia surgido", explica a religiosa. "Então fui falar com o padre, pedir uma benção.
Lembro que falei para ele que eu não estava bem, que eu tinha a minha vida toda planejada, e que a vida religiosa não estava dentro desses planos. O padre então chegou para mim e perguntou porque eu achava que isso era algo ruim. Respondi que para mim era uma forma de deixar as minhas responsabilidades, aquelas que firmei com os meus pais", esclarece a Irmã.
Foi então que o padre sugeriu que ela fosse conversar com as irmãs do colégio que estudou. "Conversando com elas, comecei a participar de algumas coisas, um retiro vocacional. Fiz toda uma preparação, participei de um encontro em Buenos Aires. Nunca foi algo forçado. Queria descobrir o que acontecia comigo e porque eu não conseguia ser feliz naquilo que eu pensava ser o certo para a minha vida. Foi então que resolvi fazer uma experiência na congregação. Quando decidi entrar, já no meio do discernimento vocacional, eu falei com o meu pai, porque tinha muito medo de decepcionar ele. Ele só chorou. Quando ele se acalmou ele disse: sabia que tinha algo diferente. Os filhos são presentes de Deus para mundo. E se ele está falando para você que quer isso para a sua vida, então vai. Isso acalmou o meu coração. Com a minha mãe e os meus irmãos foi mais difícil. Para ela, eu não voltaria mais. Era como se ela tivesse me perdido, afinal éramos muito unidos", explica.
Início da caminhada no Hospital São José
Irmã Jesica entrou na Congregação das Irmãs Escolares em 2012, no Aspirantado. "Depois veio a etapa do postulantado que iniciou em dezembro de 2012. Em 2013 fiquei sabendo que as Irmãs tinham um hospital e, para mim como enfermeira, foi uma grande felicidade. Foi então que comecei a conhecer a história do Hospital São José. A Irmã Cecília Martinello, que tem família em Criciúma, assumiu nessa época a província. E ela deu oportunidade para mim ainda lá na Argentina. Ela me acolheu e foi muito importante para mim na vida religiosa. A Irmã Líbera, que já foi diretora do hospital também disse para eu vir para cá. Elas foram falando do HSJosé até que elas chegaram em novembro de 2013 e disseram que eu viria para o hospital para conhecer a instituição", explica a Irmã.
No Brasil, a primeira parada foi em Feliz, no Rio Grande do Sul. "Lá fui recepcionada, na época, pela Irmã Isolene, que hoje é a diretora geral do HSJosé. Digo que ela é a culpada por eu estar aqui até hoje. Ela me recepcionou muito bem e fez eu acreditar em muitas das coisas que eu acredito hoje. Me fez acreditar na vida comunitária. Não me senti sozinha em momento algum. Me senti em família, dentro de uma vida religiosa, sendo que nenhuma delas me conhecia", explica.
Depois de uma semana em Feliz, Irmã Jesica veio pela primeira vez ao HSJosé. Chegar aqui na instituição, só fortaleceu ainda mais a minha vocação. A sensação que tive, depois de um mês que fiz a experiência aqui, é que quando fui embora um pedaço meu ficou aqui em Criciúma. Quando voltei para a Argentina, eu percebi que tudo era de verdade. Era exatamente isso que eu queria", afirma.
Preparação para os votos perpétuos
A próxima etapa na preparação da vida religiosa iniciou em 2014 com o Noviciado no Paraguai. "É uma experiência profunda com Deus. Não foi um período fácil, mas foi muito abençoado. Em 2016 retornei para a Argentina para fazer o tempo de preparação dos votos e fiz meus primeiros votos na minha cidade. Foi ali mesmo que fizeram o meu primeiro envio. Irmã Cecília chegou para mim e me disse que eu viria para o Brasil, inicialmente para a Comunidade Santa Catarina e, em 2018, vim ao Hospital São José, onde estou aqui até hoje", comenta.
A barreira do idioma e das culturas diferentes, segundo a Irmã, foi superada com o apoio das pessoas que cruzaram o seu caminho ao longo de toda esta trajetória. "As Irmãs aqui do hospital, tiveram muita paciência, foram acolhedoras. Passaram comigo momento bons e não tão bons e elas me entenderam. Estou há cinco anos e muitas delas acompanharam toda a minha trajetória até os votos perpétuos. São 10 anos desde o início dessa caminhada e, metade desse tempo aqui no hospital. Ao longo desses anos, tive ainda mais certeza que Deus escolheu certo. A vocação é um presente dele", reforça.
A trajetória no HSJosé iniciou atuando no Centro de Pesquisa da instituição. "Não sabia falar uma palavra em português e sou muito grata das pessoas não desistirem de mim. Depois de um tempo, em 2017, me passaram para o setor de auditoria e comecei a me envolver mais com as coisas. Foi então que cheguei ao centro cirúrgico e de lá não sai mais. Comecei a trabalhar com a enfermeira Denize Miguel Moretti, e ela me ajudou muito em tudo. Me ensinou até mesmo o português. Ela me corrigia, ensinava as regras do português, tinha paciência. Depois de um tempo fui também para o setor Central de Materiais e Esterilização (CME). Após tudo isso, eu tive a certeza que a enfermagem é a minha vocação também. O mais forte para mim dentro do hospital é que eu me encontrei como pessoa, descobri que posso ser uma pessoa melhor. E isso foi graças aqueles que caminharam comigo tanto dentro da vida religiosa, como aqui dentro da instituição", aponta. "Sou muito grata pelos desafios que tive que passar. Acredito que nos momentos mais tristes, quando mais dói, a gente cresce mais. No meio de toda essa história, a minha mãe faleceu em 2020, na pandemia, por Covid. Foi um período muito difícil para mim, mas as Irmãs conseguiram respeitar o meu jeito de expressar as coisas. A pandemia deixou uma marca profunda em mim, mas também me transformou", complementa.
O último ano foi de preparação para os Votos Perpétuos. Tive toda uma programação este último ano, até a chegada da cerimônia que vai ser realizada neste domingo. "Hoje posso dizer que posso responder aquela pergunta que o seminarista me fez lá no colégio na Argentina, quando eu tinha 14 anos se eu queria ser feliz. Eu sou feliz, eu descobri que a felicidade existe porque podemos amar e é Deus que coloca as pessoas certas no nosso caminho para aprendermos a amar, quando estamos com o coração aberto ele faz sua obra em nós", finaliza Irmã Jesica.
O que são votos perpétuos?
Para a Vida Religiosa Consagrada, quer dizer, dar o SIM definitivo, a Deus, a Igreja e a Congregação ou Instituto ao qual pertence. Neste caso a Congregação das Irmãs Escolares de Nossa Senhora.
É uma caminhada formativa de alguns anos de preparação. Findados esse período, se faz os Votos Perpétuos. Ir. Jesica dá o seu SIM definitivo ao chamado de Deus, sendo discípula missionária, onde quer que esteja.