Em Criciúma, já faz praticamente dois meses que os profissionais da saúde estão tendo que lidar diretamente e indiretamente com o coronavírus, dedicando a atenção e estudos inteiramente para isso. São dias em função da doença, sempre acompanhados com muitas preocupações e perspectivas - algumas boas, outras nem tanto. Para falar sobre o Covid-19 e o dia-a-dia dos hospitais durante a pandemia, o Avesso desta terça-feira, 12, recebeu o pneumologista Fábio de Souza.
Por mais que a situação aparente estar mais “controlada” no município, o doutor destaca que as duas primeiras semanas foram catastróficas para os profissionais da saúde. “Chegamos a ter um período de 20 internações no hospital da Unimed, todos suspeitos de Covid-19, com sete pacientes na UTI. Desses, seis confirmaram depois. Era algo que nos preocupava, parecia que Criciúma ou o Brasil seria uma nova Itália”, disse o médico.
Fábio ressalta que muita da tensão das primeiras semanas era referente ao fato de não se saber exatamente com o que se estava lidando. Além disso, o medo somava-se ao contato com pacientes e colegas que contraíram o vírus, muitas vezes de formas graves, gerando um grau de incerteza aos médicos e enfermeiros.
“Um dos primeiros trabalhos que saiu de Wuhan apontava para a disseminação da doença de uma para três pessoas. É algo muito alto, inclusive os assintomáticos também transmitiam e tinham as pessoas com maior fator de risco. A sensação era: será que vou trabalhar? Será que vou voltar ao normal? Estão tendo colegas morrendo, agentes de saúde morrendo, pacientes graves que podem vir a óbito mais do que o usual. Esses pontos de interrogação nos afetavam psicologicamente”, disse.
As opiniões sobre o novo coronavírus volta e meia variam de profissional para profissional. Alguns são mais otimistas em relação a situação, outros completamente o contrário. “Não é nem o desespero pleno de caos e nem uma marolinha, tem que ser com o que temos: dados, o que é realista e é científico. O que podemos esclarecer é dentro do que é embasado cientificamente”, afirmou o doutor.
Sobre algumas dúvidas referentes à doença, o médico explica: há quem, mesmo tendo o contato com o infectado, pode não contrair o vírus. Tudo irá depender do sistema imunológico e da quantidade de gotículas lançadas sobre ele, e a quantidade de gotículas absorvidas. Para quem faz academia, o certo é trocar de máscara assim que esta começar a ficar úmida, a partir de 40 minutos.
Fábio ressalta que o isolamento social ajudou muito para que conseguíssemos amenizar a situação no município, mas que não é o momento para deixarmos de tomar os devidos cuidados - já que a pandemia ainda não passou. “Notamos que a gravidade da doença e o número reduziu, mas com mérito da própria população que aderiu ao isolamento, lavou as mãos e usou máscaras. Em contrapartida, temos mais casos sendo confirmados no município, porque estamos testando mais pessoas”, pontuou.