Eu ainda não sou mãe, mas como jornalista sempre que vou escrever sobre elas eu penso na minha. Quem me dera eu pudesse ser um dia para meus filhos o que a minha mãe é para mim. Minha mãe me teve com 21 anos, quando eu completei um ano e quatro meses fui promovida a irmã mais velha e mesmo assim nunca nos faltou amor, carinho e educação.
O que eu sempre admirei na minha mãe, além de todas as coisas, é o seu espírito empreendedor. Ao mesmo tempo que ela recém-casada cuidava de duas crianças pequenas, trabalhava com meu pai na roça e empreendia na venda de cosméticos, perfumes e jóias, no pouco tempo que restava. Ela sempre buscou complementar a renda familiar e auxiliar para que pudéssemos ter uma vida um pouco mais confortável.
Empreender sempre esteve na minha vivência materna. Quando vejo mulheres que como mães resolvem empreender, eu fico inspirada. Neste dia 9 de maio é Dia das Mães e nada melhor do que comemorar essa data contando um pouco sobre essas grandes mulheres que empreendem com a maternidade. Numa pesquisa rápida eu pude ver o quanto existem mães fortes na nossa região.
São mães empreendedoras de todos os tipos. Aquelas que depois dos filhos não conseguem se recolocar no mercado de trabalho ou aquelas que simplesmente optam por querer vivenciar mais a maternidade trabalhando perto das suas crianças.
O meu primeiro contato foi com a Cinthia Dias da Silva, mãe de um bebê de um ano e quatro meses. A chegada da Antonella fez com que também nascesse o seu projeto empreendedor, o Caseirinhos de Mamãe. Há nove meses ela vende bolos de forma online. A ideia surgiu primeiro no coração e depois se tornou uma das fontes de renda da família.
"Eu tinha esse desejo de ter algo meu, mas não sabia o que e nem como iniciar. Eu trabalhava como técnica em saúde bucal, em um consultório odontológico há 16 anos, amava o que fazia, mas lá no fundo eu tinha um sonho de ser mãe, lutei muito para isso acontecer e com esse sonho veio outra surpresa, minha própria empresa", lembra Cinthia.
Em 2018 a empreendedora foi diagnosticada com uma doença chamada endometriose profunda, a chance de engravidar naturalmente era quase impossível. Com a doença, todos os seus órgãos estavam afetados. "Intestino, ovário, útero, trompas, estava tudo colado. Quando recebi essa notícia eu fiquei sem chão. Eu já havia feito uma cirurgia em 2018, mas sem sucesso. Fazia dois anos que eu estava tentando engravidar", conta.
Em janeiro de 2019 Cinthia fez a sua segunda cirurgia. Foi uma incisão complexa, foram removidos 10 cm de seu intestino, ela passou ainda pela desobstrução das trompas, e dessa vez a cirurgia foi positiva. "Fazia 50 dias que eu estava me recuperando da cirurgia quando eu descobri a gravidez, meu sonho de ser mãe aconteceu. Passei uma gravidez tranquila, até que com 24 semanas descobri que estava prestes a ter um parto prematuro. Antonella estava querendo nascer, levei um susto, pensei várias coisas ruins, pensei até que ia perdê-la", descreve Cinthia relembrando da situação que passou.
Ela precisou ser afastada do seu trabalho e de todas as suas atividades. Era momento de repouso absoluto. E assim ela ficou até as 37 semanas de gestação quando não teria mais risco para o bebê. "Antonella nasceu com 39 semanas e quatro dias, parto natural e totalmente humanizado, como eu sempre havia sonhado. Me planejei para os cinco meses de licença maternidade. Quando chegou na hora de voltar, em maio de 2019, eu estava com o coração na mão. Ela não pegava bico, nem mamadeira, não tinha creche, estávamos em meio a uma pandemia. Eu sentia no meu coração que não deveria voltar ao trabalho, mas também precisava financeiramente", relembra.
Foi aí que Cinthia teve uma solução. "Comecei a orar e pedir a direção de Deus, que ele colocasse algo no meu coração, que eu pudesse passar mais tempo com minha filha. Eu sempre amei cozinhar, fazer bolos, sempre recebi muitos elogios, desde os nove anos de idade eu já cozinhava. Sempre amei inventar coisas diferentes, foi então em uma conversa com meu marido sobre empreender, que ele me motivou a iniciar. Mas o meu maior medo era largar os 16 anos de trabalho em uma outra empresa", recorda.
Com medo, mas com muita vontade de empreender, ela encarou o desafio. Com auxílio de uma colega, que estava desempregada, as duas tiraram do papel o Caseirinhos de Mamãe. "Ela ficou somente 15 dias comigo, em seguida ela já foi chamada para trabalhar em um local que ela havia feito uma entrevista de emprego. Naquela hora eu fiquei triste, achei que não fosse conseguir continuar sozinha, porque não tinha ninguém para me ajudar e com bebê pequeno seria bem complicado. Depois de um tempo eu entendi que ela veio para ser o meu trampolim, entendi que Deus usou ela para me impulsionar no meu sonho. E não só deu certo como o Caseirinhos de Mamãe virou sucesso e hoje é minha única atividade profissional", pontua.
E depois de um começo desafiador, hoje a Antonella é a parceira da mãe nas produções e também nas entregas dos produtos. "Eu produzo pela manhã e faço entregas a tarde, sempre eu e ela, juntinhas. As vezes meu marido está de folga e me ajuda com as entregas, compras e afins, mas a Antonella é quem está sempre comigo. Ela me motiva todos os dias. Decidi dedicar mais tempo a ela e isso não tem preço", reforça.
Sem muitas expectativas iniciais, somente fazendo o que gostava, hoje Cinthia já está em aprimoramento. "Ninguém da minha família trabalha com confeitaria. Todos os produtos são feitos na minha própria casa. Me considero uma pessoa perfeccionista e detalhista, amo fazer bolos e levar minhas doçuras para os clientes. Iniciei somente com bolos caseiros, fui me aperfeiçoando, melhorando cada dia, errando, testando. Fiz cursos e hoje faço também bolos de pote, brownies, brigadeiros, bombons... recentemente fiz ovos de Páscoa, foi um sucesso. Tenho mais planos de expansão do cardápio, e quem sabe iniciar com tortas", sonha a empreendedora.
Questionada sobre o que é a maternidade, prontamente ela responde, "Sou uma mãe empreendedora, se eu não fosse mãe não seria empreendedora e isso eu devo muito a maternidade. Eu amo ser mãe, nasci para isso e esse é o meu maior propósito. Tudo aconteceu como eu sempre sonhei, meu parto, consegui amamentar, estudei muito sobre maternidade e amamentação, sigo amamentando até hoje. Entre uma entrega e outra sempre rola uns 'tetes'", brincou a mãe.
Segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, 75% dos novos negócios liderados por mulheres são criados a partir de experiências da maternidade. Na maioria dos casos a falta de acolhimento, sensibilidade e respeito com as mães que retornam ao trabalho, com um novo bebê, faz com que as mães mudem de emprego. Por outro lado, às vezes é somente o empreendedorismo materno querendo aflorar. Esse também foi o caso de Raquel Guse Sartor, criadora da marca de produtos maternos Antônia Baby.
Raquel, mãe de duas meninas, a Antônia de cinco anos e a Joana, de um ano e cinco meses, é formada em farmácia. Ela parou de trabalhar na sua área de atuação assim que foi mãe pela primeira vez. Com a chegada da filha Antônia e com a necessidade de poder realizar seus afazeres com o bebê no colo, ela começou a usar o sling, espécie de tecido que sustenta a criança ao corpo de um cuidador. Do gosto pela peça, que traz mobilidade e otimiza tempo, a chance de empreender.
Hugo da Rosa, seu esposo, sempre soube que Raquel não gostaria de voltar para o seu antigo trabalho e que tinha o desejo de montar o seu próprio negócio. "Na farmácia eu tinha horários que eu não me via conseguindo cumprir, tendo um bebê em casa. Foi chegando ao fim da licença maternidade e eu resolvi o que eu iria fazer. Meu marido estava desempregado e começou a me incentivar. Ele começou a aprender a regular as máquinas de costura e com fácil habilidade acabou se tornando o costureiro oficial dos slings e também das fraldas de pano que usamos com a Antônia. Foi então que resolvi montar a Antônia Baby. Com cinco meses de vida da Antônia começamos a tirar a empresa do papel", relembra Raquel.
O primeiro modelo de sling veio de uma amiga. Usaram o molde e depois de um tempo Raquel foi fazendo cursos, se aprimorando e aprendendo sobre a ergonomia dos bebês, a forma correta de carregar a criança e assim poder ensinar outras mães. "Fui aprender o tipo de tecido certo, as melhores formas etc.. Comecei a fazer o trabalho na madrugada, depois quando a Antônia tinha dois anos ela ia meio período para escolinha, aí eu fazia nesse tempo, depois que veio minha segunda filha, a Joana. Ficou mais difícil, hoje faço nas duas horinhas que ela dorme à tarde. Depois a noite faço a Joana dormir, depois a Antônia e só assim vou trabalhar", conta.
Segundo Raquel, mesmo com o cansaço da jornada dupla, ver seu sonho dando certo é compensador. "Uma mãe me chamou perguntando a respeito de empreender com vendas. Eu falei: se for alguma coisa que você use e goste, vai dar certo. Se for empreender só pelo lado financeiro, pois vai dar dinheiro, nem comece. Eu usei sling, usei muito, todos que eu vendo eu uso, tem que gostar e acreditar muito naquilo ali. É por amor, não pelo financeiro", lembra a empreendedora.
Depois de quase cinco anos, Raquel possui um e-commerce, onde faz suas vendas online. Segundo ela, 2020 foi o seu principal ano na quantidade de vendas. "Os produtos são necessários, facilitam a vida das pessoas, levam facilidade para rotina louca que tivemos que enfrentar, principalmente em meio a uma pandemia. As mães ficaram mais com seus filhos em casa. Ser mãe acaba melhorando nossa relação com nossos clientes. Nos colocamos no lugar de outras mães, sabemos o que elas estão passando em determinado momento. A forma de responder o whatsapp é diferente, até o pós venda acaba sendo mais cheio de afeto. Pensamos nos filhos delas como pensamos nos nossos", revela.
Raquel já tentou revender outros produtos, mas acabou destoando do seu objetivo, hoje só vende produtos da sua marca e agora abre espaço em seu e-commerce para outras duas mães empreendedoras. Uma das mães é Maiara Zacarão Tybinkovski. As duas se conheceram na feira de mães empreendedoras Cria na Roda e continuam a parceria até hoje. Para Maiara, da mesma forma com que se escolhe o nome de um filho é escolhido o nome e os produtos da marca. "É um sonho que vai se concretizando. Você vai gestando e chega o momento de parir o próprio negócio também. Então a maternidade e o empreender estão conectados", completa Maiara.
Quando Ian, filho de Maiara, tinha apenas seis meses de vida, a psicóloga perinatal iniciou sua jornada no empreendedorismo materno. "Antes da maternidade eu trabalhava em uma empresa familiar, acabei não tento licença a maternidade, segui trabalhando. Meu lado empreendedor surgiu na convivência com o meu ex-marido. Ele sempre colocou mais fé no meu negócio do que eu. Ele já empreendia e me incentivou. O ateliê Toque de Mãe surgiu para eu ter uma renda para a festa de um ano do meu filho e está até hoje no mercado", recorda a psicóloga.
Seu primeiro produto foi a bolsa térmica com sementes. Ela conheceu no momento do seu parto, usou nos primeiros dias de vida do filho Ian. Sua família gostou e começou incentivar para que ela começasse a fazer o produto para a venda. "Minha primeira bolsa foi para uma prima que estava ganhando bebê, ela comprou e foi aí que começou. Hoje já tenho uma linha com travesseiros, máscaras, almofada cervical, bolsa para lombar e naninhas. Estou trabalhando com revendedoras e já estamos presentes em mais de seis países", salienta orgulhosa.
Da mesma forma que Raquel, Maiara também tem a madrugada como sua companheira. "Atendo minhas clientes quando o Ian já está dormindo, respondo as mensagens, hoje 98% das minhas vendas são pelo instagram. Já fiz entrega meia-noite, mães desesperadas com os filhos com cólica, a noite é longa, não passa, eu sei como é isso. Então estou sempre disponível. Aonde eu vou levo junto comigo uma caixa cheia de produtos, quando tem emergência elas vêm até mim. Meus produtos são meu segundo filho", evidencia.
Maiara conta com auxílio de sua ex-sogra na hora de costurar os produtos. "Ela faz no tempo que ela pode. O Ian está com quatro anos, então já começou ir para escolinha, é nesse tempo que eu acabo fazendo minhas entregas. Eu me divorciei no início da pandemia, o Ian estava em casa, sem escolinha, foi um ano difícil, mas 2020 foi um ano muito positivo para a empresa", expõe Maiara.
Cinthia, Maiara, Raquel, o que elas têm em comum além do empreendedorismo materno? A resiliência e a vontade de alavancar outras mães e mulheres. "Sempre digo, é preciso persistência, amor, gostar do que faz, procurar pessoas que já empreendem para trocar ideia. Estamos aqui para isso. Ter empatia com outras mães. Ajudar a divulgar. Sair de um emprego para empreender tem que estar bem decidida no que você quer. Eu não vejo mais a Maiara de antes, a maternidade foi uma transformação. A dificuldade vai vir, mas se você fizer algo que te realiza como mãe e como profissional, tudo vai dar certo", finaliza a psicóloga.