Pescadores artesanais do Sul do Estado estão acompanhando a safra da tainha passar sem poder colocar a rede no mar. As habilidades trazidas de geração em geração, vêm dando lugar à burocracia. Muitos profissionais, inclusive, estão desistindo da atividade ou tendo que trocá-la pelos chamados “bicos” para sustentar a família. É o caso dos integrantes da Colônia Z-24, de Balneário Arroio do Silva.
Se o mar não está para peixe, devido ao mal tempo dos últimos meses, fora da água o problema se agrava. “A situação está muito complicada. A burocracia para retirar autorizações e carteiras está cada dia maior. O ministério não trabalha, segue dificultando a vida dos pescadores. Está difícil para emitir documentos. Não temos mais a quem recorrer. As promessas continuam, mas solução que é bom, nenhuma. A crise é imensa. Estamos de mão atadas. Não tem como pescar sem autorização”, desabafa Paulo Souza, presidente da Colônia de Pescadores Z-24, de Balneário Arroio do Silva.
Seguro Defeso
O representante da categoria ainda adianta que o Seguro Defeso, que já deveria ter sido creditado nas contas dos profissionais, não está sendo cumprido por parte do INSS. O benefício é um acesso ao seguro-desemprego do pescador artesanal, previsto na legislação brasileira. Ele garante uma renda no valor de um salário mínimo mensal durante o período de defeso, ou seja, enquanto a atividade pesqueira é proibida para a preservação de espécies.
“Muitos pescadores estão sem receber o Seguro Defeso. Os pedidos feitos desde dezembro permanecem em análise. Não sabemos até quando vai isso, mas já faz muito tempo. Temos batido bastante nesse problema, porém, não sabemos mais a quem pedir ajuda. Já fizemos muitas reuniões com o Ministério do Trabalho, com o INSS, Mapa, contato direto com Brasília, e não se chega a uma solução. A coisa está muito complicada ainda. Já faz algum tempo que estamos nessa situação”, pontua.
Problema após problema
Paulo afirma que quando um problema é resolvido, mesmo que de forma parcial, outro surge para aumentar a crise do setor. “No começo, foi a emissão dos documentos para as embarcações, uma espera sem fim. Agora, mesmo não resolvendo toda a parte burocrática, tivemos uma safra que, para nós aqui no Sul, foi péssima. A tainha passou batida pela região, quase ninguém pegou nada. Se dependesse da tainha, ficaria todo mundo em uma crise ainda pior. O clima não ajudou, foi vento demais e o peixe acabou passando por fora. Sorte que tivemos algumas anchovas, papa-terras e pescadas. Nosso ganha pão diário está ameaçado e não podemos fazer nada”, finaliza Souza.