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"Notícias da Lua": Gravado em Criciúma e com Otávio Augusto, filme traz olhar autêntico sobre o autismo

Artista, que é um dos personagens do filme do cineasta catarinense Sérgio Azevedo, está na cidade para gravações em uma escola no bairro Próspera neste domingo (13)

Por Fernanda Zampoli Criciúma, 12/10/2024 - 15:43 Atualizado em 27/10/2024 - 12:52
Foto: Fernanda Zampoli/4oito
Foto: Fernanda Zampoli/4oito

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 Um dos maiores nomes da teledramaturgia, teatro e cinema do Brasil, o ator Otávio Augusto, com uma sólida carreira de 60 anos, está em Criciúma para as gravações do curta-metragem "Notícias da Lua". O filme, dirigido e roteirizado pelo catarinense Sérgio Azevedo, será inteiramente rodado na cidade, trazendo uma história sensível e inovadora sobre o autismo e a paixão pela astronomia. A reportagem do Portal 4oito esteve neste sábado (12), com o ator, que veio acompanhado da esposa e também atriz do primeiro escalão nacional, Cristina Mullins, e o diretor do filme, Sérgio Azevedo, que em entrevista, detalharam sobre a obra prevista para estrear em março de 2025. 

Neste domingo (13), as filmagens ocorrerão na escola Jorge da Cunha Carneiro, onde funciona o Clube de Astronomia, no bairro Próspera. No filme, a escola se torna o lar do personagem Astor, interpretado por Otávio Augusto. Astor é o zelador da escola, fascinado por ciências e astronomia, e será o responsável por ajudar o jovem protagonista, Luã, a descobrir o que aconteceu com a lua, uma metáfora sobre a busca por entendimento e pertencimento.


Eu acho que a preocupação maior do Sérgio com esse roteiro é o fato de se tocar de uma maneira mais humana, no cuidado que você tem com essas pessoas, nos relacionamentos que você pode ter, porque é uma coisa meio de estigma. Todo mundo já vê como uma deformação, mas não é. Isso é uma questão de compromisso humano, de você entender o que é, como é, como se tratar e tal. Então, isso é o lado que me cativou isso.  É importante que, nisso tudo, tem algo que o ser humano esquece muito, que é a ternura, o afeto. Essas coisas são partes muito importantes de uma convivência. Eu aprendi isso quando eu conheci Cristina. Eu entendi uma coisa no amor, que é você ter ternura, tá? Então, isso é muito importante", revelou Otávio Augusto sobre os motivos de ter aceitado o papel

Otávio Augusto/Foto: Fernanda Zampoli/4oito
Ator Otávio Augusto está em Criciúma onde grava o curta-metragem "Notícias da Lua", que será integralmente filmado na cidade.
Foto: Fernanda Zampoli/4oito

 A equipe e elenco esteve na manhã deste sábado visitando o Parque Astronômico Albert Einstein E=mc, no Morro Cechinel, de onde o ator saiu emocionado. Ele resgatou uma memória afetiva de quando o homem pisou na Lua pela primeira vez (1969), época em que fazia a peça Galileu Galilei, dirigida por José Celso Martinez Corrêa, no Teatro Oficina. No histórico dia, o companheiro de elenco à época, ator Cláudio Correa e Castro, pediu para que o filho dormisse também na casa dele, que morava perto do teatro para ver pela televisão o feito do homem na lua. Porém na hora o garoto se recusou e preferiu dormir o que quase arrancou lágrimas de Castro. 

"O Astor é um personagem simples, mas profundo. Ele se conecta com o Luã de uma maneira muito bonita, através da paixão em comum pela astronomia. Sou apaixonado pela minha profissão. Então, quanto mais toques eu puder ter dos relacionamentos humanos, relacionamentos de coisas, de ciência, tudo que tiver relação com isso eu acho importante. Para o filme, por exemplo, eu tive uma preocupação com essa coisa do astronauta e tal, da relação do mundo. Não é bem um mundo, como a gente fala, mas é universo. Sabe que, inclusive, agora nós estivemos aí no Planetário, e me veio uma coisa muito emocionante, porque eu vi como a gente não conhece onde a gente está. A gente não tem a melhor afeto por isso aqui. O planeta Terra que nós estamos destruindo não significa nada, porque o que está se fazendo com isso aqui, com os oceanos agora, é uma coisa bárbara. Porque se o oceano definhar, meu amor, a gente não tem mais oxigênio e todo mundo acha que isso é frescura. Não é, não. Hoje no Planetário eu entendi o sentimento do Cláudio", declarou Otávio Augusto, elogiando o projeto.
 

Equipe e elenco em visita ao Parque Astronômico de Criciúma.Foto: Guédria Motta
Equipe e elenco em visita ao Parque Astronômico de Criciúma Foto: Guédria Motta

O protagonista, Luã, é um menino autista de 11 anos, interpretado pelo ator catarinense Davi Berg, de 10 anos, que também é autista. "Ter um ator autista interpretando um personagem autista é uma conquista muito importante para o cinema brasileiro e para a representatividade no audiovisual", afirmou o diretor Sérgio Azevedo, que também descobriu ser autista aos 30 anos de idade. Segundo ele, o filme é uma forma de dar voz à comunidade autista e mostrar as complexidades e talentos das pessoas dentro do espectro. “Acabei escrevendo muito sobre mim na infância, é quase autobiográfico. É baseado em uma experiência que tive no Observatório Astronômico de Brusque, quando tinha uns 9 ou 10 anos, quando morava e estudava em Guabiruba”, relembra.

Nessa visita, no início dos anos 2000, o cineasta foi recebido pelo astrônomo Silvino de Souza. O tema despertou seu interesse, e ele desenvolveu um hiperfoco em astronomia. “Voltei para casa querendo ser o Silvino. Desenhei o sistema solar, coloquei meus amigos de rua para assistir à minha apresentação, e eu queria ter meu próprio observatório. Tive um pequeno hiperfoco, sem saber o que era isso”, conta.

Ouça a emoção do cineasta ao falar sobre a realização com o filme:

A conexão com com Criciúma pela estrelinha Benício

As gravações de "Notícias da Lua" seguem pelos próximos dias em diversos pontos de Criciúma, cidade escolhida pela conexão emocional do diretor com a região e por seu potencial como cenário cinematográfico.  Azevedo revela que a ideia inicial era gravar o curta no observatório brusquense, mas o local foi fechado, então a produção decidiu fazer as gravações em Criciúma, onde tem um planetário e uma forte conexão afetiva: Benício, o filho dele com a esposa Betina, que também é sócia dele na Café Preto Filmes. De um sonho, planejado junto com o filme, Benício virou uma estrela. Casados há 10 anos, Sérgio e Betina, moram no extremo Sul catarinense, em Passo de Torres, de onde vieram por diversas vezes a Criciúma em 2023 fazer o pré-natal. No dia 02 de abril, deste ano, Dia Mundial de Conscientização ao Autismo, Benício fez sua estreia no mundo, na terra do Tigre. O criciumensezinho passou feito um cometa pela Terra e se despediu 15 dia depois, vítima de uma doença rara descoberta após o nascimento. 

Nosso chão caiu, né, nosso mundo caiu. Ele faria parte, né, ele estaria em vida, presente no meio das gravações. A gente já planejava tudo, tinha a roupinha dele, da produtora tudo, mas a gente não podia parar. A produção do curta foi um gás, assim, para a gente continuar por ele. O filme é muito lúdico e tudo que aconteceu a gente faz uma conexão que tava, era para acontecer. Esse filme é para ele, declarou emocionada, Betina

 

Cineasta catarinense, Sérgio Azevedo, emocionado ao falar do filme e da conexão com Criciúma pelo filho que nasceu e morreu na cidade
Foto: Fernanda Zampoli/4oito

 

A obra será realizada com recursos do Prêmio Catarinense de Cinema 2023, Edição Especial Lei Paulo Gustavo, por meio da Fundação Catarinense de Cultura. No vídeo ele destaca o importante papel da arte, do cinema e da cultura como braço do desenvolvimento econômico e humano e os desafios dentro do contexto da desinformação, crescente nos úlitmos anos, assim como a retomada de políticas públicas culturais, após um período de retrocesso: 
 

 A estreia do curta-metragem está prevista para 2025, com exibições planejadas em festivais nacionais e internacionais e a intenção de Azevedo é levas às telas especialmente o autismo de grau 1. Ouça o que diz o cineasta:
 

 

 

O filme fala sobre sentir o que não se pode ver. Quando a lua desaparece no filme, ela está na fase nova. É uma analogia: o autismo é como a Lua Nova; nem sempre dá para ver, mas está lá”, finaliza Azevedo.

 

 O despertar da inclusão autista na sociedade

Tema cada vez mais relevante na sociedade, a inclusão de pessoas autistas em diversos contextos sociais é cheia de desafios, segundo a psicóloga e professora da Unesc, Thatiane Maccarini e ainda requer avanços, que passam pela preparação e precisam vencer as paredes das salas de aulas. 

A inclusão nas escolas e a importância do acolhimento
Na avaliação de Thatiane, as escolas estão cada vez mais assumindo o papel de acolher essas crianças e suas famílias, o que representa um grande avanço.  “As escolas, o trabalho e a sociedade precisam se adaptar a essa nova realidade inclusiva, permitindo que essas pessoas sintam que fazem parte da sociedade e desenvolvam suas habilidades, mesmo que não no formato tradicional de ensino. Enquanto algumas crianças aprendem de maneira eficiente com o uso do quadro, uma criança autista pode se beneficiar mais de uma música ou de uma atividade no chão da sala de aula, por exemplo", explica. Essa adaptabilidade no ambiente escolar reflete um processo que vai além do simples acesso à educação, mas que visa também a valorização e o respeito à diversidade de formas de aprendizagem. Porém, ainda há barreiras a serem superadas.

Desafios da inclusão no dia a dia e o preconceito
Ainda que a legislação tenha avançado, Thatiane ressalta que a inclusão social de pessoas autistas enfrenta barreiras que vão do preconceito à falta de preparo. “Muitos alunos autistas enfrentam preconceitos e estigmas na sala de aula. Às vezes, os profissionais de educação não possuem formação adequada para lidar com alunos autistas de forma inclusiva. E isso é um problema que se perpetua desde a educação infantil até a pós-graduação”, destacou.

Ela também revelou que ambientes públicos, como os estádios de futebol, ainda apresentam desafios para pessoas sensíveis a ruídos e multidões. “Imagine uma pessoa com autismo, que tem alta sensibilidade ao barulho, em um estádio lotado. Não há espaços sensoriais adequados, o que torna a experiência desconfortável e até assustadora. Isso limita o acesso dessas pessoas a um lazer que poderia ser muito prazeroso”, reforçou.

Práticas de inclusão para um cotidiano mais acessível
Ao abordar como a sociedade pode ser mais inclusiva, Thatiane enfatizou que, mesmo sem uma “receita pronta”, as adaptações podem ser feitas em vários espaços. “Se cada ambiente, no seu microespaço, for adequado para receber todas as pessoas, poderemos facilitar a vida de pessoas com deficiência. Os espaços comerciais, por exemplo, ainda são um desafio. Não é incomum ver prateleiras inacessíveis para cadeiras, o que faz com que ações simples do dia a dia se tornem quase impossíveis para algumas pessoas”, afirmou.

Uma nova abordagem nas formações profissionais


A psicóloga acredita que a atitude humana é o principal caminho para incluir pessoas com autismo no convívio social, por isso a importância de compensar o currículo de formação de futuros profissionais para incluir conhecimentos sobre autismo e outras deficiências. “Infelizmente, ainda é comum encontrar psicólogos ou médicos que não atendam pessoas com autismo. Como se um autista não tivesse as mesmas necessidades de saúde de qualquer outra pessoa. Incluir esses conhecimentos no currículo acadêmico pode tornar esses profissionais mais preparados para atender às diferentes realidades. “É fundamental que todos os profissionais estejam prontos para atender todas as pessoas, porque quando falamos de diferenças humanas, incluímos todos”, argumentou.", argumentou.

Espaços sensoriais em ambientes públicos: uma necessidade
Iniciativas como salas sensoriais em espaços de grande fluxo, segundo Thatiane poderiam proporcionar uma experiência mais confortável para pessoas autistas. “Um estádio de futebol, por exemplo, poderia ter uma sala com isolamento acústico, onde uma pessoa autista assistisse ao jogo sem o incômodo dos sons intensos. São adaptações que fazem toda a diferença”, completou.

Reflexão e empatia: o impacto de um filme verdadeiro sobre o autismo

"Ver um filme que mostra o autismo com sensibilidade e, principalmente, com um ator autista, nos ajuda a parar de ver pessoas autistas como inalcançáveis ​​ou estranhas. Elas têm suas próprias formas de expressar emoções e de se comunicar", reforçou Thatiane

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