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Novas políticas do Brasil na relação com o mundo

Em época de endurecimento do governo para a chegada de estrangeiros, brasileiros que moram fora contam suas histórias de superação

Por Bruna Borges Criciúma, SC, 14/01/2019 - 07:23
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O presidente Jair Bolsonaro anunciou na última semana que o Brasil não fará mais parte do Pacto Global para Migração da Organização das Nações Unidas (ONU). O documento, do qual o governo Michel Temer foi signatário em 2018, traz diretrizes a respeito do tema e foi assinado por mais de 160 países. 

Ao explicar as suas motivações para retirar o país do pacto, Bolsonaro escreveu no Twitter que “O Brasil é soberano para decidir se aceita ou não migrantes. Quem porventura vier para cá deverá estar sujeito às nossas leis, regras e costumes, bem como deverá cantar nosso hino e respeitar nossa cultura. Não é qualquer um que entra em nossa casa, nem será qualquer um que entrará no Brasil via pacto adotado por terceiros. NÃO AO PACTO MIGRATÓRIO”. 

A decisão do governo foi alvo de elogios, mas também de críticas. Os que não veem com bons olhos a deliberação argumentam que, apesar de hoje o Brasil receber muitos migrantes, o país é conhecido por enviar nacionais para outros países. O número de brasileiros vivendo fora do país é, atualmente, maior do que o de estrangeiros morando aqui.

Brasileiros que migraram

No auge da ida de pessoas para os Estados Unidos, na década de 1990 e início dos anos 2000, Criciúma, ao lado de Governador Valadares (MG), destacou-se pela quantidade de moradores que foram buscar uma nova vida na nação americana. Ana Claudia Morais é de Itapeva (SP), mas namora um criciumense e conta que conhece muitos catarinenses em Maryland, Washington DC, onde vive há 14 anos.

Naquela época ela viajou em busca de sonhos não alcançados no Brasil e para conquistar sua independência financeira. O começo, segundo Ana, não foi fácil. “Cheguei com salto alto, unhas longas, e fui aprender como se fazia faxina, aqui na América “house cleaning”. Trabalho de imigrante nada muda sendo você advogado ou qualquer outra profissão no Brasil, aqui nos Estados Unidos sempre será muito difícil o início, pois o trabalho é de limpeza ou de babá”, conta. 

Ana Morais nos Estados Unidos

Ela viveu ilegalmente no país por oito anos, mas há sete é cidadã americana e se diz muito feliz com a escolha que fez. Nos EUA ela teve seus dois filhos que também têm a sua situação legalizada. “Hoje sou empresária no ramo de daycare - escolinha de cuidados infantis - de 0 a 5 anos. Também faço transporte escolar para as mães que trabalham fora da hora de escolas”, comenta. 

“E sou promotora de eventos para a comunidade brasileira. Tento levar alegria para os que têm saudade e nem podem visitar nosso país. Foi um longo percurso, muitas lutas, mas não me arrependo nem do primeiro dia que fui aprender”, enfatiza Ana.

Planos para voltar

Há menos tempo no país norte-americano, Sálin Eggres Brandão, de Içara, foi com o marido e a filha de dois anos de idade também buscar uma nova realidade financeira. Eles estão há dois anos morando fora e, diferente da Ana, pretendem voltar para o Brasil. O planejamento é estar novamente em casa daqui a três anos.

Lívia, a filha de Sálin e João Henrique

Sálin comenta que pensou que seria mais difícil encontrar e trabalho e se comunicar, mas que eles moram em um local onde há muitos brasileiros e que já na primeira semana conseguiram emprego. Ela conta que a rotina lá é corrida, o custo de vida é alto, mas que ainda é possível conquistar o velho sonho de juntar dinheiro para retornar ao Brasil.

Para ela, aqueles que têm a mesma vontade, devem tentar, mas estar preparados para sacrifícios. “Não basta só vir pra cá por uma vida melhor com mais segurança e tal, porque o custo de vida aqui é alto e os trabalhos disponíveis para nós são trabalhos mais ‘pesados’, então tem um preço essa vida melhor”, declara. 

“Fora ficar longe da família e amigos, que é a pior parte. Mas se for por um tempo, para juntar uma grana, eu encorajo, sim (a migração). Agora, para ficar aqui para sempre eu já não acho tão interessante, mas tem muita gente que mora aqui há muitos anos e não se arrepende, então depende de cada pessoa”, declara Sálin. 

Os EUA não assinaram o Pacto de Migração da ONU e o governo Donald Trump tem se mostrado fortemente contrário aos imigrantes. Apesar disso, Sálin alega que não sentiu o impacto dessa política e diz, ainda, que não sofreu preconceito por ser de outra nacionalidade.

“O nosso acesso a serviços é idêntico ao de um americano. Educação é gratuita – Ensino Fundamental – e saúde é tudo pago. Tem os planos de saúde ou então podemos pagar consultas particulares. Também relacionado a serviços, podemos tirar habilitação para dirigir, e abrir conta em banco”, exemplifica. 

Expectativas frustradas

Nem todos que buscam os Estados Unidos alcançam aquilo que imaginaram. Para Giana Silveira Teixeira, de Içara, os planos de ter uma vida diferente não deram certo. Ela foi com o marido, que é cadeirante, com a intenção de que ele pudesse ter uma vida mais tranquila em um país considerado de primeiro mundo, onde e acessibilidade é maior.

Eles foram morar na casa da cunhada de Giana e o marido trabalharia na empresa do cunhado. Eles estão fora há quase três anos. “Porém, a vida de imigrante não é tão simples. Como ele era cadeirante, só poderia trabalhar justamente com o meu cunhado, mas só esse dinheiro não era suficiente para nos sustentar pagando aluguel, os remédios e todas as outras despesas, mesmo eu também trabalhando em limpeza de casas”, relata Giana.

Giana pensando em voltar dos Estados Unidos

“A gente veio para os Estados Unidos com o intuito de ter uma vida melhor por causa da acessibilidade, realmente o país é de primeiro mundo nessa questão, porém, tem muita dificuldade para imigrante. O remédio é mais caro, tudo é comprado e, então, a gente não teve sucesso na nossa escolha e estamos pensando em voltar para o Brasil”, acrescenta. 

Uma nova casa no Chile

Não é só nos EUA que vivem os brasileiros migrantes. Outros países também oferecem oportunidades profissionais atrativas e foi no Chile que o criciumense Valmir Conceição de Jesus Junior encontrou sua segunda casa, em 2007, quando trabalhava em uma indústria química da cidade e foi transferido para filial chilena, onde trabalhou até 2011. Atualmente, é gerente de vendas de uma empresa americana e atua na capital, Santiago. 

Ele é feliz com o país onde vive. “O acesso à saúde é espetacular, se desconta em folha obrigatoriamente 7% do salário para ser destinado a um plano de saúde de nossa escolha, contribuímos para a previdência privada (não existe previdência social aqui) para se aposentar aos 65 anos, a sensação de segurança é muito boa, o chileno é um povo muito educado e adora brasileiro”, afirma. 

As regras para imigrantes, conta o criciumense, são rigorosas no Chile, mas ele entende como necessárias e concorda com um maior endurecimento do governo brasileiro em relação à entrada de estrangeiros. “Acho que realmente tem que endurecer, porque com a situação atual de Venezuela, Nicarágua e Haiti, há uma migração muito grande e o estado infelizmente não possui recursos para saúde e educação dessa gente, ainda mais nesse momento de crise, com 12 milhões de desempregados”, opina. 

“Aqui no Chile se fez um controle migratório para esses países citados, porque já havia pessoas morando na rua e o governo interveio fazendo um controle mais rígido”, complementa. 

Valmir, criciumense satisfeito no Chile

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