Com tantas perdas na tragédia no Rio Grande do Sul, cuidar do estado emocional das vítimas se torna um desafio adicional. Segundo a médica psiquiatra doutora Ritele da Silva, os impactos mentais devem se manifestar ao longo do tempo. Uma das principais medidas de prevenção é evitar o consumo constante de notícias sobre o desastre.
“A gente tem orientado que as pessoas evitem o contato direto, o tempo inteiro com as notícias, não é questão de se alienar, mas entrar em contato o tempo todo é bastante delicado, porque nem todo mundo tem estrutura para lidar com uma situação como essa. Para ficar mais tranquilo, tentar se desligar um pouco é importante. Tentar conviver mais com as pessoas, tentar socializar sobre esse sentimento, também auxilia bastante no processo”, frisou a especialista.
Pode ser comum que pessoas se sintam culpadas com relação à tragédia, mesmo assistindo de longe. A sensação de “ter tudo”, enquanto outros perderam tudo. “É importante que a gente entenda que isso não é responsabilidade específica de um indivíduo. Logo que o assunto sair da pauta, isso passa”, ressaltou Ritele.
Doenças mentais e traumas
Situações como essa podem desencadear diversos problemas mentais. Uma delas é a reação aguda ao estresse, caracterizada por um sentimento intenso de desesperança. Algumas pessoas podem entrar em estado de choque e sentir-se desconectadas da realidade. Indivíduos com maior sensibilidade ou com condições psiquiátricas pré-existentes podem experimentar um agravamento extremo de seus sintomas.
“É importante a gente pensar que é uma situação de luto, mesmo para aquelas pessoas que não perderam entes queridos, o luto não se restringe apenas à perda de alguém, mas à perda em geral. Nessa situação, as pessoas perderam casas, o bairro que moram, a cidade… Algumas pessoas podem desenvolver alguns quadros, como depressão, ansiedade, estresse pós-trauma… mas tende a passar, tende a aliviar”, disse a psiquiatra.
Ao longo do tempo, o impacto do ocorrido certamente aparecerão na vida das vítimas. Por isso, o acompanhamento é extremamente necessário. Neste momento, a Associação Brasileira de Psiquiatria está realizando uma força-tarefa no estado. Colegas locais, assim como alguns de Santa Catarina, estão se deslocando para a região para realizar o primeiro atendimento e evitar o desenvolvimento de transtornos e estresse pós-traumático.