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Um presente do Vaticano para o sul de Santa Catarina 

Templo precisou atender a uma série de critérios para ser elevado a Basílica Menor

Rafinha Berg e Davi Brabos Criciúma, SC, 05/07/2024 - 06:29 Atualizado em 05/07/2024 - 07:37
Foto: Diocese de Criciúma/Divulgação
Foto: Diocese de Criciúma/Divulgação

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Desde o anúncio de sua elevação ao título de Basílica Menor, o Santuário do Sagrado Coração Misericordioso de Jesus, localizado em Içara, tem sido um dos assuntos mais comentados na região e também entre os peregrinos que visitam o complexo. Fiéis de diferentes lugares têm visitado o espaço, deslumbrados com a grandiosidade que envolve essa nova etapa, questionando-se sobre o que está por vir para o Santuário, as transformações que ocorrerão e o impacto que essa honraria traz para a comunidade de fiéis.

 O título marca o santuário como um local de especial importância para a vida litúrgica e pastoral da diocese e estabelece um vínculo mais próximo com a Igreja de Roma e o Sumo Pontífice. O templo passará por uma série de mudanças significativas.

Segundo o padre Giliard Cesconetto Gava, que concluiu os seus estudos em Filosofia e Teologia em Roma, na Itália, e hoje está na Paróquia Nossa Senhora da Conceição, de Urussanga, o local agora deve realizar algumas solenidades com maior júbilo. Datas importantes como o dia 17 de abril, aniversário da concessão do título, e o dia 22 de fevereiro, da cátedra de São Pedro (grande trono de bronze), serão celebradas com especial reverência. 

Uma das mudanças mais notáveis é a possibilidade de conceder indulgência plenária em datas fixas durante o ano. “Todas as pessoas que naquele dia vierem aqui, participarem da santa missa e cumprirem alguns passos, obterão a indulgência plenária", explica o reitor do santuário, padre Antônio Vander. Ele esclarece que a indulgência plenária permite uma “limpeza completa” do pecado, além do perdão já recebido na confissão. 

A prefeita de Içara, Dalvânia Cardoso, expressa seu entusiasmo pela elevação do santuário a basílica, destacando o impacto positivo que isso terá para a comunidade e para os visitantes de todo o mundo. “Este é um reconhecimento que traz não apenas orgulho para nossa cidade, mas também uma grande responsabilidade de acolher todos os peregrinos com a hospitalidade e o amor que caracterizam Içara”, afirma a prefeita. 

Para Dom Jacinto Inácio Flach, bispo da diocese de Criciúma, "é uma bênção divina que reflete o trabalho árduo e a fé inabalável de nossa comunidade. A elevação a basílica é um chamado para continuarmos nossa missão de evangelização com renovado zelo e dedicação". 

O santuário, agora Basílica Menor, é a primeira do estado de Santa Catarina, a sexta no Sul do país e a octogésima em território nacional. A celebração solene e oficial da elevação está marcada para o dia 14 de setembro, Dia da Exaltação da Santa Cruz.

Um verdadeiro complexo cheio de significados 

Com uma extensão de 13,5 hectares, o complexo do Santuário Basílica é mais do que seu imponente templo em forma de cruz latina, é um conjunto que inclui outras igrejas, trilhas para meditação e estátuas sacras. O padre Antônio Vander destaca que a verdadeira grandeza do santuário transcende suas fronteiras físicas, residindo no lugar especial que ocupa nos corações dos fiéis. É um convite para explorar os mistérios divinos através de sua simbologia rica e detalhada.

A Basílica em formato de cruz 

Segundo o padre Vander, a forma do santuário, uma cruz, lembra a mitra papal e a unidade dos fiéis com o santo Padre, e é o símbolo cristão por excelência, representando o sacrifício de Jesus e a promessa de redenção com três entradas lembrando a Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. Cada entrada, com suas três portas, evoca a imagem de Jesus crucificado entre os dois ladrões. Os quatro grandes pilares que sustentam o santuário são um tributo aos quatro evangelistas — Mateus, Marcos, Lucas e João — do Novo Testamento. 

A cúpula, elevando-se acima do santuário, é um lembrete constante do céu e da eternidade e simboliza a abóbada celestial e a promessa de uma vida além desta. As rosáceas, presentes em todas as direções do santuário, representam os olhos de Deus, sempre presentes e observando. 

De acordo com o padre Antônio Vander, “elas são um lembrete de que não importa onde estejamos ou o que façamos, estamos sempre sob o olhar divino”. Os vitrais, com sua transição do azul intenso para o azul claro, simbolizam o céu, com manchas vermelhas que representam o martírio e o sofrimento, elementos fundamentais da história cristã.

Acima, oito cenas retratam momentos significativos da misericórdia divina na Bíblia. Vistos de fora, os quatro pontos do santuário representam os pontos cardeais da Terra — Leste, Oeste, Norte e Sul — simbolizando a universalidade da mensagem cristã e o convite para todos serem acolhidos por Cristo. Finalmente, a linha reta traçada desde o início até o final das obras serve como um lembrete de que o caminho de Deus é direto e verdadeiro, contrastando com a via tortuosa da cruz.

Os caminhos e obras que compõem o complexo 

O complexo do Santuário é uma tapeçaria de caminhos que se entrelaçam, cada um carregado de significado e propósitos. Conforme compartilhado pelo padre Antônio Vander, estes caminhos são as veias do santuário, trazendo vida e espiritualidade a todos que os percorrem. Os caminhos dedicados a Mateus, Marcos, Lucas e João são uma homenagem aos autores dos Evangelhos, fundamentais para a fé cristã. O Caminho dos Santos Brasileiros celebra os quatro santos do Brasil: Santo Antônio de Santana Galvão, Santa Dulce, Santa Paulina e São José de Anchieta, e representa a santidade alcançada em solo brasileiro, inspirando os visitantes a refletir sobre a vida desses exemplos de virtude e devoção. O caminho da paixão retrata a via sacra da paixão de Cristo, e o caminho da luz a via sacra da ressurreição.

Em processo de construção, o caminho das dores e das alegrias de Nossa Senhora, um espaço para meditar sobre os sofrimentos e alegrias vividos por Maria, mãe de Jesus, simbolizando a dualidade da experiência humana.

A Igreja da Agonia é uma representação do Getsêmane, um lagar de azeite (lugar da prensagem, uma referência à agonia de Jesus) onde Cristo foi comprimido, machucado e ferido até dar a salvação à humanidade. Ao lado desta igreja encontram-se 33 pés de oliveira, simbolizando os 33 anos da vida de Cristo. Logo após, a Praça de Nossa Senhora, com estátuas dos 12 apóstolos e Maria no centro, lembrando o Cenáculo. 

Subindo o complexo encontramos a Igreja de São João Paulo II e Santa Faustina, que rememora o século XX, quando São João Paulo II instituiu o Domingo da Divina Misericórdia, no segundo domingo da Páscoa. A Igreja também faz uma homenagem a Santa Faustina Kowalska, a quem Jesus apareceu na Cracóvia, na Polônia, e pediu que pintasse um quadro dele, com dois raios saindo do seu corpo, representando água e sangue, simbolizando a Igreja e os sacramentos.

Além disso, o complexo abriga o velário, onde os fiéis acendem velas para pagar promessas. E a Capela do Senhor Morto, que lembra o enterro e sepultamento de Jesus. Nesse local sagrado os visitantes depositam seus pedidos, na esperança de que, assim como Cristo ressuscitou, seus pedidos sejam transformados e tragam uma nova vida.

Por Rafael Liesenberg e Davi Brabos | Acadêmicos do curso de Jornalismo da UniSatc

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