“A vida foi um pouco de cada, boa e triste, mas eu estou muito feliz”, assim Leonízia Munaretto Salvador, a Nonna Niza, traduz uma jornada que completa 100 anos nesta quarta-feira (12), quando celebra o aniversário. Trajetória que se entrelaça à própria história de Criciúma, município que também chegará ao seu centenário de emancipação política em novembro deste ano. Lúcida, sorridente, saudável e vaidosa, Nonna Niza testemunhou um século de transformações locais, nacionais e mundiais.

Família
Nascida em março de 1925, quando a Cresciúma de então fazia parte de Araranguá, ela passou a infância onde hoje é Içara. “Içara dava de contar as casas, não tinha mais de 10 casas. O comércio era o Procópio Lima e o Amaro Cardoso, os dois que tinham loja. O Amaro tinha a farmácia e o Procópio tinha o armazém. Aos 22 anos se casou com Domingos Salvador, de quem muito fala. Ela sabe exatamente quando a saudade passou fazer parte da memória. “Já faz 20 anos, eu era nova. Ele morreu em 2004”, recorda em precisão. Salvador, faleceu aos 70 anos e o casal teve quatro filhas: Maria 74 anos, Glória 70 anos, Maria Inez 65, Edite 60 ( in memorian). A família cresceu e são mais seis netos e quatro bisnetos.
O momento marcante da vida

Filha de imigrantes italianos, cresceu em meio a dificuldades, trabalhando na roça e ajudando a família. Quando conheceu Domingos, com quem se casou em 1946, sua vida tomou outro rumo. “Foi quando casei. Eu trabalhava na roça e casei com um da cidade, que era motorista, então eu não ia mais para a roça, eu estava feliz”, aponta como o momento marcante da vida.
Ela é quem manda
Nonna Niza, tem uma saúde invejável. Toma apenas três medicações preventivas para o coração e não abre mão da "siesta", o famoso soninho da beleza pós almoço. Enganam-se os que acreditam que ela já não exerce mais independência. "A última palavra é sempre dela", revela a filha Inez.

Ouça como é ser filha de uma centenária por Maria Inez Salvador Cesca:
Uma vida que se entrelaça com a cidade

Quando era criança, presenciou a Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder, alterando os rumos políticos do Brasil. “Foi muito triste quando ele morreu, nossa! Falecido meu pai e meu tio choraram muito”, relembra. Durante a adolescência, vivenciou os impactos da Segunda Guerra Mundial, que forçaram mudanças na economia brasileira e em Santa Catarina, onde a extração de carvão se tornou estratégica para a indústria nacional. O voto feminino era realidade quando ela tinha 07 anos.
Na década de 1950, quando já era casada com Domingos Salvador e iniciava sua família, Criciúma vivia um forte crescimento com a chegada de indústrias cerâmicas e a ampliação da malha ferroviária, consolidando-se como polo econômico do Sul catarinense. Nas décadas seguintes, Nonna Niza viu a Ditadura Militar se instaurar no Brasil, o homem pisar na Lua em 1969, o surgimento do Plano Real em 1994 e, mais recentemente, a revolução digital transformar a forma como nos comunicamos e vivemos. As missas, que antes ela frequentava na igreja agora acompanha diariamente pela televisão. "Nossa como tem padre hoje em dia! São tantos. Antes tinha um só", admira-se ao reforçar sua fé.
Tempo, vaidade e conselho
Ao completar um século de vida, Nonna Niza celebra sua história com a mesma elegância que sempre cultivou. Na entrevista, vestiu-se com esmero e exibiu um brinco de ouro com esmeralda e pérolas de mais de 200 anos, herança de sua bisavó italiana. Os familiares se organizam para atender os desejos e preparam comemoração em três momentos: No próximo sábado (15), uma missa na igreja do bairro Mina Brasil, já no domingo (16), uma comemoração intimista em casa com a família e no final do mês um grande encontro com presença de amigos e com todos os sobrinhos das duas partes da família, dela e de Domingos.
Sejam educados, não façam bebedeira e trabalhem porque uma vez muitos passavam fome porque não tinha serviço”, aconselha do alto de 100 anos de experiência.
Nonna Niza - Ano 100 - Contando e cantando, assista: