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Teve que dormir no diretório

Por Adelor Lessa Edição 24/06/2022
Foto: Divulgação
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Os 54 anos da Unesc, comemorados durante a semana, estimularam um mergulhar no passado.

Criada pelo prefeito Rui Hülse, em 1968, nasceu Fucri, para depois virar Unesc.

Rui havia assumido na campanha o compromisso com um grupo de jovens de criar uma faculdade na cidade.

Entre os “guris” estava Rodeval José Alves, que acabou recrutado para fazer parte da comissão de implantação e foi um dos primeiros funcionários.

Ele viu a primeira turma entrar na sala de aula. Duas dezenas de alunos.

Hoje, orgulhoso, fala das 20 mil pessoas que circulam diariamente no campus.

Em 1977, aprovado no meu primeiro vestibular, fui no campus tratar da matrícula e fui atendido pela professora Enedir Luiza Meller.
E durante todo o tempo que fui acadêmico da Fucri, a Enedir estava lá. 

E ficou muito tempo depois.

Nos primeiros 10 anos, a Fucri teve o professor Alfredo Veiga Neto, cabeça brilhante, um intelectual, homem à frente do seu tempo.
Da sala de aula, foi levado à cadeira de diretor presidente.

E o tempo passou, veio o movimento estudantil, que se organizou no final de década de 70, e teve participação direta em decisões marcantes, que fizeram virada de página, e fizeram a passagem para universidade com segurança e garantia de estabilidade.

O movimento estudantil começou a se organizar quando decidiram fazer o enfrentamento a um professor que só dava zero para os alunos. Todos eles. Em todas as provas. O ano todo.

Das duas, uma: 

Se todos ganham zero sempre, é porque todos (100%) são desqualificados, ou o problema é o professor.

A partir deste raciocínio, os alunos fizeram protesto, paralisaram o curso e exigiram a troca do professor.

A diretoria não estava acostumada com isso, e resistiu. Mas, os acadêmicos ficaram firmes, e conseguiram.

Outras peleias vieram, e foram vencidas, e o movimento estudantil deu um passo adiante.

Passou a brigar por causa das mensalidades.

Aí, mexeu no “cofre”, e o caldo esquentou.

A Fucri era vinculada à prefeitura. Na prática, comandada pelo prefeito.

O diretor era o chefe de gabinete do prefeito.

Um dia, incomodado com a “agitação estudantil", o prefeito chamou um representante do movimento para uma “conversa" no seu gabinete.

Chegando lá, a surpresa.

O acadêmico foi levado a uma sala, onde estavam as chamadas “forças vivas” da cidade.

Empresários, comerciantes, vereadores, o padre, o presidente da associação empresarial, e o da CDL.

Sala cheia, e o prefeito numa ponta da mesa oval. Na outra, o acadêmico.

O prefeito sustentou que o movimento estava prejudicando a imagem da cidade.

E seguiu uma pressão violenta. Mas, ficou ali. O acadêmico não levou aquele clima para o campus. 
Não deu o que prefeito queria. O movimento estudantil só cresceu.

Numa discussão sobre o aumento aplicado nas mensalidades teve uma greve que durou 43 dias.

Os líderes do movimento tinham que ficar “ligados" 24 horas. 

Um deles, Savio Girardi, teve que dormir várias vezes no diretório. 
Ele morava fora de Criciúma, e não conseguia ir em casa e voltar em tempo.

Depois, fortalecido por vitórias contabilizadas, o movimento decidiu avançar. Lutar pela autonomia da universidade. Para sair da área de influência dos políticos.

Isso passava pelo fim da ligação com a prefeitura.

Uma briga maior. Direto com a andar de cima.

Vários professores e servidores se juntaram aos acadêmicos.

O movimento encorpou.

A discussão saiu do campus. Teve que ir para os principais gabinetes da cidade.

E deu certo.

Demorou, mas saiu.

A Fucri passou a caminhar com suas próprias pernas, e falando por si. Sem vínculo, ou dependência.

Hoje, a Unesc tem orçamento maior que algumas prefeituras da região, com receitas vindas das mensalidades e de repasses conquistados de fontes externas, do poder público e da iniciativa privada.

A Unesc é respeitada, é um dos consensos na cidade, e cumpre uma infinidade de projetos de ações comunitárias.

Nos tempos recentes, sob o comando de Luciane Cereta, uma enfermeira que se preparou para ser gestora e virou referência no estado.

Outras universidades comunitárias do estado que não saíram da dependência (e interferência) de políticos, colocaram a corda no pescoço. Mergulharam no vermelho.
A Unisul, de Tubarão, que era a maior do Sul, teve que ser vendida para não quebrar.

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