Em 2012, Márcio Cabral, ainda tenente-coronel, era comandante do Batalhão da Polícia Militar em Criciúma e ficou detido por três dias.
O que ele fez de tão grave?
Chamou a atenção para a redução do efetivo policial da cidade.
O comando regional não admitiu e determinou a punição. Cabral não mentiu, não falou mal de ninguém, não praticou nenhuma ilicitude, apenas falou em defesa dos interesses do cidadão.
E por isso pegou três dias de “cana”.
Porque não era para falar!
Além da detenção, ele ainda ficou sete dias afastado do comando do Batalhão.
Isso comprometeu a sequência da carreira de Cabral, que era brilhante. Com a punição, ele teve seu crescimento abortado e promoção inviabilizada.
Para ascender a coronel, teve que pedir baixa (aposentadoria). E assim, encerrou precocemente a caminhada que o levaria até o comando-geral da Polícia Militar.
Mas, pelo menos não retiraram mais policiais do Batalhão de Criciúma.
Até aquele episódio, políticos “determinavam” a transferência de policiais para outras cidades, sem nenhuma garantia de reposição. E o Batalhão foi reduzindo o efetivo.
Contando as aposentadorias, licenças e afastamentos por motivos diversos, a situação chegou a ponto do insustentável. Cabral cansou de enxugar gelo.
Pediu apoio dos políticos, de todos, e não deu em nada. Porque para atendê-lo, os políticos teriam que contrariar os políticos. Espírito de corpo fala mais alto.
Era preciso, então, colocar o problema na rua. Para que a pressão fosse feita de fora para dentro.
Como eu estava acompanhando o assunto, anunciei os primeiros números, chamando para a necessidade de estancar a sangria.
O comando regional da PM deduziu que o comandante Cabral tinha me passado os números e foi para cima. Ele, sem titubear, confirmou. E deu no que deu.
Hoje, Cabral é colunista da Som Maior, consultor em projetos de segurança para prédios, condomínios e comunidades, e diretor do Sindicato das Indústrias do Carvão.
Nesta semana, uma década depois, o comandante da PM, tenente-coronel Sandi Sartor, disse com todas as letras que o efetivo da PM em Criciúma está “caótico”.
Quase toda semana sai uma policial do Batalhão, por aposentadoria, licença ou outro motivo, e não vem ninguém, não tem reposição. Ou seja, tudo igual. Nada mudou.
Olhei para o comandante Sartor e vi o mesmo semblante do Cabral de 2011. Sentimento de impotência, de não saber mais o que fazer para resolver, de estar cansado de enxugar gelo. Ou, trabalhar com cobertor curto.
Por isso, escrevi: “Que não prendam o comandante!”.
Que o efeito da revelação, com tom de desabafo, do comandante Sartor, não seja alguns dias de “cana”.
Que o comando-geral da PM entenda como grave a situação do efetivo policial de Criciúma que é o pior da sua história, guardadas as proporções.
Enquanto a bandidagem avança, fica mais ousada, o efetivo policial diminui.
Isso é grave.
A cidade não merece isso.
Que a coragem do comandante Sartor seja valorizada e reconhecida. Não punida.