Bolsa de Valores não é nenhuma novidade. Existe há séculos no mundo. Há casos clássicos que datam de 1630 (Mania das Tulipas, primeira bolha registrada no mundo) e 1929 (o Crash da Bolsa de Nova Iorque). Para se ter uma ideia, elas já existiam antes do carro e quase um século antes dos primeiros protótipos de aviões desafiarem a gravidade.
No Brasil, não é diferente. A primeira nasceu 1817, em Salvador (BA), seguida pela do Rio de Janeiro (RJ), em 1820, onde eram negociados câmbio, mercadorias, gado, escravos, seguros e fretes de navio. Poucos anos depois, em 1890, o presidente Emílio Pestana cria em São Paulo a Bolsa Livre, considerada o embrião da B3. Na década de 1960 eram 27 no país.
Atualmente, o Brasil conta apenas com a B3 (Brasil, Bolsa, Balcão), criada em 2017 pela fusão da Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo (BM&FBOVESPA), com a Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos (CETIP).
Em resumo, estamos falando de mais de 200 anos da mesma atividade no Brasil. Mas foi no século 21 que iniciou a popularização. Em 2002, eram pouco mais de 85 mil investidores. Em 2010, eram 611 mil. No fim de 2020, eram 3,229 milhões (multiplicou em 38x em 18 anos). Em abril de 2022, o número ja passa dos 5 milhões de pessoas (mais de 57% de aumento em menos de 18 meses).
Depois dessa nada breve introdução, chegamos ao ponto destacado no título: Por que a Bolsa ainda é vista como cassino no Brasil? Pela informação. E divido em dois pontos.
Primeiramente e principalmente por falta de educação financeira, seja de controle e gestão de dinheiro, seja na obtenção de dinheiro. Nasci em 1986 e segui o roteiro “normal” da época, que era concluir o Ensino Médio, prestar vestibular, iniciar o ano seguinte já em alguma faculdade, terminar a faculdade e procurar emprego ao se formar. Trabalhar? Apenas se necessário. Se não, apenas estude.
Há uma cultura que desestimula o trabalho na adolescência. Há quem considere exploração. Há, inclusive, em famílias que não precisam de reforço no orçamento doméstico, quem considere vergonhoso. “Imagina meu filho sendo atendente de lanchonete!”. Sem a experiência do trabalho, o jovem não cria responsabilidade com o dinheiro e não entende a dinâmica de uma empresa, dependendo do emprego, gastando tudo o que recebe e esperando a Previdência Pública para aposentadoria. Existe, inclusive, uma frase interessante nessa linha: “Pai rico, filho nobre, neto pobre”.
A segunda parte é a comunicação social (incluo aqui imprensa, publicidade, redes sociais e veículos digitais). Até pouco tempo, as informações sobre economia e dinheiro eram inacessíveis à população em geral, seja pela falta de disponibilidade, seja pela linguagem truncada das publicações, chamada carinhosamente de “economês”. Hoje, há um movimento para preencher a lacuna educacional, com uma linguagem mais facilitada e atraente, principalmente, para o público jovem.
Por outro lado, ainda se vê, principalmente nos meios de abrangência mais generalista (com foco em todas as faixas sociais), alguns dogmas antigos e batidos como esse exemplo da figura que ilustra essa página. A frase está correta, o assunto é relevante, mas a imagem da roleta de cassino é um péssimo sinal. Ela reforça a premissa errada que afastou muitas pessoas da gestão adequada do entendimento correto do que é investir.
A Bolsa, e qualquer outro investimento, pode ser um cassino? Pode, claro! Assim como comprar carro para revenda. Se você comprar muito caro ou não tiver para quem vender, seu dinheiro foi pelo ralo. Ou montar um negócio sem demanda, como uma loja de patins de gelo na Bahia.
A semelhança entre os dois casos acima é que, sem informação, qualquer movimento é entregue nas mãos do acaso. Por outro lado, com informação, montar um negócio próprio, negociar carros usados ou comprar ações de empresas são a mesma coisa: investimento.