Circulou durante a última semana um vídeo da ex-candidata à Presidência da República, Luciana Genro, manifestando seus motivos para votar contra a inclusão do ensino da educação financeira nas escolas públicas do Rio Grande do Sul, onde é deputada estadual.
“Manifestando seus motivos” é uma maneira delicada de afirmar que ela fez um discurso politiqueiro vazio, com argumentos ridículos (aproveitando o termo usado por ela mesma sobre a matéria) e que reforçam a improdutiva guerra entre classes empresarial e laboral, o rico explorador e o pobre explorado. Ou seja, melhor faria ao manter-se em silêncio.
Deixando clara a minha opinião logo de início, vamos ao vídeo…
O trecho apresentado começa com a deputada afirmando que é ridículo um projeto que trate de educação financeira porque “o problema das famílias que estudam em escolas públicas é de falta de dinheiro”.
Logo nesses primeiros segundos ela já apresenta o principal argumento furado (não mentiroso, apenas inútil), afinal de contas a situação financeira familiar de quem estuda em escola pública, assim como acontece nas particulares, não é igual a todos. Na carteira ao lado de aluno que tem em casa os pais desempregados e mal tem o mínimo para custear o básico pode estar outro que tem os pais trabalhando, talvez um deles com negócio próprio e por aí vai.
Se focarmos no primeiro caso, em que realmente falta dinheiro numa maneira que não há o que economizar ou investir, mesmo assim a educação financeira tem serventia, já que este aluno pode conseguir um emprego quando mais velho e, sabendo como administrar seus recursos, terá possibilidade de um futuro mais sustentável.
Se pegarmos o segundo caso, no qual a família tem renda confortável, não falta o básico e há margem no orçamento, esta lição se faz bastante necessária também. Tanto um assalariado, que pode ser demitido a qualquer momento, quanto um pequeno empresário, que pode ter uma súbita queda de receitas no seu negócio, terão muito mais condições de se reerguer se tiverem formado desde cedo estruturas financeiras como reserva de emergência e alguns investimentos.
Sobre efeitos da falta de educação financeira, exemplos não faltam!
Há quem ganhe uma “bolada”, seja na loteria, seja num reality show, e “torram” o dinheiro numa velocidade vertiginosa, com roupas, carros importados, vários tipos de extravagâncias e, muitas vezes, em negócios mal feitos, mal planejados ou fraudulentos, que seriam evitados com o conhecimento necessário. Em muitos desses casos, os milionários-relâmpago terminam mais pobres e endividados que antes do prêmio.
Outro exemplo também bastante recorrente, e mais preocupante ainda, é o uso dos recursos do FGTS após uma demissão. O Fundo, que foi tema de uma live no 60 Minutos nesta semana (clique aqui para assistir), foi criado com o objetivo de reduzir os danos da falta de educação financeira dos brasileiros, garantido um recurso para que o recém-desempregado possa se manter até arranjar outro emprego. Acontece que, ao ver esse dinheiro todo à disposição, muito trocam de carro, dão festas e gastos desnecessários, apenas por ter “aparecido do nada” aquele montante.
Em outro trecho do mesmo vídeo a deputada afirma que “seria embaraçoso para um professor ensinar educação financeira para esses alunos que não tem dinheiro para comprar um botijão de gás sem se endividar”. Mas vem cá (leia com sotaque gaúcho) Luciana, como é para um professor ensinar para esse mesmo aluno o que é um ribossomo, como era a escrita cuneiforme e onde fica o Estreito de Bósforo?
Entre aprender a Fórmula de Báskara ou como montar um orçamento familiar, qual parece mais útil?
Não estou aqui pregando a eliminação de matérias da ementa escolar, mesmo acreditando que algumas poderiam ser substituídas por outras. O objetivo de levantar esse assunto é, mais uma vez, mostrar como existe uma cultura que abomina o dinheiro, abomina o lucro e, por consequência, cria uma cultura enviesada à pobreza e má gestão de recursos.