O dia em que a Nasa aportou no Sul do Estado

Aos 92 anos, Valdomiro Sartor, natural de Cocal do Sul, pôde conhecer pessoalmente um engenheiro da Nasa. Isso mesmo. Da Agência Espacial dos Estados Unidos. Apaixonado pelo universo da astronomia, ele acompanhou a primeira ida do homem à lua, em 1969, pelo rádio. A experiência em conhecer Gabe Gabrielle foi proporcionada através de uma parceria que possibilitou a vinda do profissional ao pequeno município Sul Catarinense. 

Você pode estar se perguntando… Por que essa visita a Cocal do Sul? Gabe Gabrielle, engenheiro da Agência Espacial, foi procurado por alguns representantes e autoridades do município. Ele esteve em várias escolas durante alguns dias, ministrando a palestra “Ao Infinito e Além”, que traz informações e curiosidades sobre a Nasa às crianças e adolescentes. O penúltimo encontro, no entanto, foi aberto a toda comunidade.

E lá, em uma das fileiras, estava Valdomiro Sartor. Entusiasmado com a palestra, com o assunto e, é claro, com o protagonista desta experiência: Gabe. “Sempre gostei da Nasa. Foi fantástico ver esse americano falar para Cocal do Sul. Quase sempre acompanhei a Agência, desde quando foram para a Lua. Gosto muito. Quando soube que ele viria para cá, fiquei surpreso”, comenta o sul cocalense.

Sartor comenta que soube da palestra pelo neto, através da escola. “Achei fantástico ouvir ele. Essa oportunidade, hoje, eu não vou esquecer. Um americano vir falar para Cocal do Sul, realmente, é um dia para marcar na história, pelo menos para mim”, disse, animado após o encontro com o engenheiro da Nasa. 

A reação do senhor não é à toa. Gabe trouxe encanto através das informações e experiências enquanto funcionário da Agência Espacial, na palestra intitulada To Infinity and Beyond, ou, Ao infinito e Além, frase famosa dita pelo personagem Buzz Lightyear no filme Toy Story. A animação foi criada para homenagear a segunda pessoa que pisou na lua, o astronauta Edwin Buzz Aldrin, da missão Apollo 11.

“A palestra é sobre a exploração espacial, sobre os lançamentos, a vida em Marte e os astronautas indo para a estação internacional. A outra parte é sobre a vida. As crianças, hoje, vivem sob muito estresse e esse é um momento muito difícil. Busco passar essa mensagem, de que elas tentem viver fazendo o seu melhor e dominando tudo isso”, conta o norte-americano. 

Há muitos anos, Gabrielle se dedica a viajar pelo mundo, contando sua história às crianças. E que história. O norte-americano, antes de entrar na Nasa, foi chapeiro do MC Donalds. 

“Eu estava na praia um dia e vi o lançamento de um ônibus espacial. Olhei e pensei: ‘Isso é algo que posso fazer’. E comecei a pensar e ver como poderia fazer. Tinha alguns amigos que trabalhavam na Nasa e perguntei como poderia entrar lá. Eles me questionaram: ‘O que você sabe fazer?’ E eu respondi: ‘Tudo ou qualquer coisa’, comenta Gabrielle.  “Eu era formado em engenharia e eles precisavam de pessoas com o meu conhecimento. Foi assim que eu consegui o emprego”, completa. 

Mas, antes de conseguir, de fato, a vaga, o norte-americano teve um longo caminho a percorrer. “Eu amo carros de corrida e queria fazê-los, além  de pilotar. Mas, não conseguia ter dinheiro suficiente. Até que fui à Universidade, depois de 12 anos do Ensino Médio. Levei oito anos para concluir a faculdade. Eu tento mostrar isso nas palestras, se eu fiz, as crianças também podem”, enfatiza Gabrielle.

A intenção do engenheiro é levar inspiração e reforçar que os mais jovens podem, sim, ser quem eles quiserem. “Tenho percebido, de maneira geral, que as crianças estão estressadas. Só que no Brasil, isso vem muito dos pais, porque acho que eles não as motivam a estudarem ciência e astronomia, querem que os filhos sejam médicos, advogados e que não atuem nessa área. Isso é um pouco negativo”, comenta. 

“Meu objetivo é despertar que as crianças façam o que elas quiserem e que entendam que podem obter sucesso e curtir, sem estresse, sem pressão. Esse é o meu intuito. Fazer com que elas desenvolvam uma crença nelas mesmas. E que tenham esperança no futuro e curtam cada dia”, frisa Gabrielle. 

Durante a palestra, tudo é baseado na vivência do próprio norte-americano. Seja na vida pessoal ou na profissional. “Eu falo de como eu fracassava e odiava a escola. Quero mostrar para as crianças como eu tinha problemas. O meu primeiro emprego foi no MC Donalds e eu saí de lá para a Nasa. Quero que elas saibam que são justamente como eu. Se eu consigo fazer, elas também. Isso é muito importante”, pontua o engenheiro. 

Na Agência Espacial, Gabrielle trabalhou por 17 anos como engenheiro civil, lidando com as estruturas, como elevadores, pontes e rodovias. “As pessoas às vezes acham que a Nasa é esse lugar máximo que parece não existir. Mas, quando você está trabalhando lá, é como trabalhar em qualquer outro lugar. Se você for um engenheiro em uma empresa comercial ou na Nasa, é a mesma coisa. Não é sobre o que você faz, é onde você faz”, pontua. 

Gabe Gabrielle já esteve 22 vezes no Brasil. Mas, no Estado de Santa Catarina, foi a primeira vez. “Aqui é fascinante. Estou adorando por causa das praias e da Serra. Mas, a melhor parte, são as crianças. Gosto muito porque elas são carinhosas, me recebem bem. Tenho uma grande paixão, eu sempre aprendo com as crianças, elas sempre fazem perguntas, então, eu levo para a minha vida”, ressalta.

A experiência do engenheiro da Nasa foi um exemplo para todos. E, com certeza, será levado adiante. Essa, pelo menos, é a intenção das professoras Vanessa Medeiros e Karine Mrotskoski, que implantaram na Escola Jorge da Cunha Carneiro, o projeto O Clube de Astronomia Estrelas Carvoeiras. 

“Desde 2018, a gente reúne alunos do Ensino Fundamental II, semanalmente, para falar e pesquisar sobre astronomia. E, neste ano, a rede municipal de ensino achou o projeto bem legal e nos convidou para implementar esse projeto em outras escolas”, comenta Vanessa. “A Karine é da matemática, eu sou da geografia, e a gente viu que essas duas ciências que parecem ser tão distintas, as humanas e as exatas, elas se complementam”, completa. 

Sobre a palestra, a professora define como motivadora. “Dá para ver que Gabe é apaixonado pelas crianças e o nosso projeto tenta fazer justamente isso, plantar essa sementinha nas crianças da ciência. Que ela é importante, que a pesquisa é importante, que as descobertas são importantes. E ele mostrou que também quer plantar essa sementinha. Uniu as duas coisas”, pontua. 

Para a professora Karina, “ele [Gabe] consegue trazer esse tema que parece ser tão complexo, com uma linguagem bem acessível para as crianças. E também mostra que nós, enquanto professoras e professores, podemos falar sobre isso com eles, durante os encontros e nas aulas. Não é um assunto que está distante, assim como não tem como não pensar na astronomia, porque ela faz parte do cotidiano. Todo mundo observa a lua, por exemplo, porque é algo que chama a atenção”, analisa. 

Gabe já visitou mais de 300 escolas pelo mundo e atuou como ex-diretor de Engenharia do Comando de Operações Especiais da Força Aérea dos EUA; ex-engenheiro da Nasa no Kennedy Space Center; membro da Nasa Speaker Bureau por 11 anos; palestrante internacional apresentado em 15 países; guia de visão para um triatleta que é cego.

O engenheiro da Nasa recebeu o convite para vir a Cocal do Sul da amiga pessoal Darlete Borba, a vinda de Gabe também foi organizada pelo vereador Pedrinho de Fáveri, a tradutora Marlene Dalló Ruzza (KNN e Key Word), a Secretaria de Educação através do secretário, Luis Carlos de Melo, e da jornalista Maria Luiza da Rolt.