A novela da compra do Twitter por Elon Musk, CEO da Tesla, (que ainda não terminou, diga-se de passagem) trouxe de volta uma das frases batidas de uma ala ideológica “antiempresariado”: “Os bilionários não deveriam existir”.
Junto com a frase/mantra surge, quase sempre, alguma correlação espúria que abastece a conta (do Twitter) Valuation Freestyle (@valuationfstyle), focada em exemplos de argumentos forçados para provar ideias que não fazem sentido, como quando falam que imprimir dinheiro não causa inflação porque vai pra mão do povo e não do empresário malvadão.
Mas não tratarei (de novo) dos malefícios financeiros criados pela cultura de agressão ao setor produtivo, que é quem emprega e gira a economia. Nem ficarei só na tese ampla hoje. Comentarei um tuíte (olha ele de novo…) que me chamou mais atenção nela onda recente.
Elon Musk tem uma fortuna avaliada em 219 bilhões de dólares. A Califórnia cobra 13,3% de impostos para bilionários. Isso daria em torno de 29 bilhões em 2021. Mas ele pagou apenas 15 bilhões, supostamente. Isso significa que em 3 ou 4 anos o cidadão americano pagará o Twitter.
Ou seja, como faz TODO bilionário, eles compram empresas com o dinheiro público e então se declaram donos delas.
Não julgo quem lê isso, acredita e se indigna com uma aproveitar como o bilionário Musk. E não o faço porque quem crê nesse raciocínio o faz por desconhecimento. E se é o seu caso, espero esclarecer bem a questão.
Há, por outro lado, quem divulgue essas informações sabendo as inverdades ditas. Nesse caso eu diria que se trata de mau-caratismo doloso, quando há a intenção de ludibriar e influenciar com interesses escusos. Nesses casos, não sei o que fazer…
Aos fatos
Vamos começar pelo cálculo tributário freestyle da manifestação acima. Ele faz o cálculo de imposto baseado no patrimônio. Pare pra pensar se faz sentido. Não faz! E eu explico.
A fortuna de Musk estava avaliada em novembro de 2021 em cerca de US$ 306,4 bilhões. Acontece que esse valor não é dinheiro. É patrimônio, que vira fortuna quando tem muitos zeros. E patrimônio, você deve saber, é a junção de tudo o que você tem. No caso de Musk, boa parte dele é composto pelos 23% das ações que detém da Tesla, que vale por volta de US$ 230 bilhões (dependendo da cotação do dia). Outra parte é a SpaceX, empresa de viagens espaciais avaliada em cerca de US$ 74 bilhões.
Note que, tirando essas duas grandes fatias do bolo de Elon Musk, e levando em conta outros vários investimentos, como a Boring Company (empresa de mobilidade urbana por túneis), sobra praticamente nada, certo?
Exatamente… Por incrível que pareça num primeiro momento, Musk não tem dinheiro à disposição. Nem mesmo pra comprar, o Twitter, que ele vai comprar por meio de… empréstimos.
Por que não faz sentido o tuíte acima?
Então, seguindo o cálculo apresentado no tuíte, teríamos que aceitar que o governo cobrasse de você imposto de renda sobre o valor da sua casa e do seu carro só por você tê-los, ao contrário do que acontece hoje, que esses valores são cobrados quando o patrimônio é vendido e vira… dinheiro, receita, renda.
Se você mora numa apartamento de R$ 400 mil e tem um carro de R$ 50 mil, e pegar uma aliquota ilustrativa de 15% (o IR varia de 7,5% a 27,5%), teria que pagar algo em torno de R$ 67,5 mil no ano ao Fisco.
Não faz sentido, certo? Afinal o imposto é de renda. Você paga baseado no que recebe de renda, não no que acumulou de patrimônio. Ele incide sobre o que vira dinheiro. Sem dinheiro, sem imposto.
Se não faz sentido pra você o cálculo do exemplo, por que faria no caso de Elon Musk