Através de câmeras ‘trap’, o olhar de um cenário um tanto quanto desconhecido em Criciúma. Animais, plantas e as belezas naturais que trazem encanto àqueles que os veem. Em meio à zona urbana da cidade-polo do Sul Catarinense, o projeto Faunativa Criciumense busca dar espaço e visibilidade à fauna silvestre e ao verde da Capital do Carvão. Perto do Dia Mundial do Meio Ambiente, lembrado no domingo, 5 de junho, a importância da conscientização que precisa, e deve, estar em evidência.
Vitor Bastos, biólogo de Criciúma, atua junto a colega de trabalho, Jade Martins, na página do Instagram Faunativa Criciumense. “Em 2020, após ela descobrir minha paixão pelos animais, me chamou para comandar o perfil. Meu TCC, que comecei em 2020 e finalizei em 2021, com foco nos mamíferos de médio e grande porte, ajudou muito no conteúdo, pois eu conseguia dezenas de filmagens inéditas por mês da nossa fauna e isso chamou a atenção de muita gente”, comenta.
Na página da rede social, é possível ver inúmeras situações que envolvem a fauna silvestre de Criciúma. “Filmagens inéditas, notícias de animais entrando na área urbana, busca de espécies presas em casas e jardins e suas respectivas solturas na natureza, casos de atropelamento e filmagens de drone das áreas verdes do município, são algumas coisas que trazemos semanalmente”, explica o biólogo. ”Meu foco principal é mostrar os animais que são filmados pelas minhas câmeras ‘trap’”, acrescenta.
Meu foco principal é mostrar os animais que são filmados pelas minhas câmeras ‘trap'", Vitor Bastos, biólogo de Criciúma
As câmeras estão espalhadas por diversos pontos estratégicos na natureza de Criciúma. “Os equipamentos são acionados por movimento, realizando para nós um "Big Brother" das matas criciumenses. Somente com elas é que consigo ter tanta filmagem e informação dos nossos animais, que são tão tímidos contra os seres humanos”, enfatiza Bastos.
“As pessoas só ajudam e protegem aquilo que elas conhecem”
O trabalho realizado através do projeto está ligado, diretamente, à conscientização ambiental. “Acredito fortemente que as pessoas só ajudam e protegem aquilo que elas conhecem. O conteúdo que a gente traz proporciona uma maior proximidade dos humanos com a natureza. Isso é muito importante, principalmente, para a população de Criciúma, já que muitas pessoas me falaram que antes da página, só sabiam da existência da capivara no município. Conhecendo esses animais, elas já criam um vínculo maior, ajudando a cuidar desses seres, que, muitas vezes, são totalmente indefesos”, pontua Bastos.
Acredito fortemente que as pessoas só ajudam e protegem aquilo que elas conhecem. O conteúdo que a gente traz proporciona uma maior proximidade dos humanos com a natureza", Vitor Bastos, biólogo de Criciúma
O biólogo acredita que, com conhecimento, as pessoas se aproximam da conscientização. "Conheço pessoas que eram caçadoras, e que hoje, depois que pedi ajuda a elas e mostrei as filmagens, me ajudam na pesquisa. O mesmo pode se dizer para quem acha que desenvolvimento é derrubar a mata nativa. Às vezes só é necessário analisar a situação de outra forma, e ambas as partes, o empreendedor e o meio ambiente, saem ganhando”, comenta Bastos.
Na visão do profissional, a preservação ambiental carece de atenção, mas já avançou nos últimos anos. “Ainda tem uma boa parte da população totalmente desconexa com a natureza e seus seres vivos. Que acha que o Gambá passa doença, que o Bugio transmite febre amarela, e que tanto faz se tem Quati e Gato-maracajá na mata. Óbvio, as pessoas não precisam se apaixonar por esse assunto como eu, mas acho uma pena quem não consegue analisar e perceber a beleza em ver os animais na natureza, exercendo suas funções em um ecossistema tão frágil, que são nossas matas e rios”, enfatiza.
Primeiro registro oficial do Gato-maracajá em Criciúma
Os registros são tantos, mas a memória de cada um deles está presente na vida do biólogo, que também conta com a ajuda de outras pessoas, como o primo, Felipe Rosauro. "[Lembro] de nós no meio da mata, analisando as filmagens e pulando de alegria. Recordo muito bem da primeira vez que filmamos um Gato-maracajá. Era o primeiro registro oficial em Criciúma. Ver aquela filmagem fez com que a gente pulasse de alegria. Já teve vezes também da Irara escalar a árvore e Quatis passando bem em cima do equipamento e deixando ele torto. Esses animais dão um show na frente da câmera”, finaliza Bastos.
A luta pela preservação ambiental no Sul
Preservar o meio ambiente vai além de cuidar da natureza. Diz respeito também ao cuidado com a vida humana e ao equilíbrio de todos os seres vivos. No Sul catarinense, órgãos e entidades têm o importante papel de fiscalizar e conscientizar a população sobre crimes ambientais.
Segundo o comandante da 3ª Companhia de Polícia Militar Ambiental, capitão Elton Roussenq Garcia, o desmatamento é uma das infrações mais frequentes. “No Extremo Sul Catarinense, até pela caraterística geográfica da região, é uma das ocorrências policiais ambientais que costumeiramente as equipes de fiscalização tem mais atendido nos últimos seis meses de nossa atuação”, informa.
No Extremo Sul Catarinense, até pela caraterística geográfica da região, é uma das ocorrências policiais ambientais que costumeiramente as equipes de fiscalização tem mais atendido nos últimos seis meses de nossa atuação", Elton Roussenq Garcia, comandante da 3ª Companhia de Polícia Militar Ambiental
Além disso, a Polícia Militar Ambiental também trabalha na fiscalização e autorização das atividades de pesca no litoral, especialmente no Complexo Lagunar. “Vivemos de esforços para realizar a fiscalização com ações preventivas e educativas nesse complexo, que é rico em biodiversidade. Assim, evitamos que infrações ambientais ocorram”, explica.
Quando o assunto é preservação do meio ambiente, a tecnologia é aliada. O sistema Mapbiomas traz informações essenciais sobre desmatamentos, por meio de georreferenciamento. “A partir do alerta gerado nesses sistemas de imagem via satélite, essas imagens nos chegam noticiando a supressão de vegetação”, comenta.
Assim que o crime ambiental for constatado, o infrator é responsabilizado com sanções penais e administrativas conforme prevê a Lei nº 9.605. Além disso, quem comete a infração pode ter que pagar multa e a obrigação de reparar o dano à natureza.
Nesse contexto, a população tem muito a contribuir na preservação do meio ambiente. Uma das formas de fazer isso é através de denúncia. Caso presencie alguma infração no momento, a indicação é comunicar às autoridades no número 190. Ou, também, pelo site do órgão.
Em parceria com a comunidade e entidades, a Polícia Militar Ambiental atua na preservação da natureza em ações e projetos. Dois exemplos disso são os programas Protetores Ambientais, aplicado aos adolescentes, e o Unidos pelo Meio Ambiente, destinado às crianças, que levam educação ambiental às escolas públicas e particulares.
“Esse papel é fundamental para a manutenção da vida saudável, preservando a existência de cursos d'água, mantendo a vegetação nativa, preservando o próprio ambiente em que todos nós vivemos”, enfatiza Garcia.