Um caso curioso da eleição para prefeito de São Paulo em 2016 tem tudo para acontecer de forma semelhante na disputa pelo governo catarinense este ano. Lá em terras paulistanas, o então prefeito Fernando Haddad (Pt) fazia campanha na periferia quando ouviu de uma senhora que tinha o hábito de votar nas candidaturas petistas uma pergunta de uma simplicidade brutal:
– Por que o Pt lançou três candidatos este ano?
Ela se referia à presença na disputa das ex-prefeitas Marta Suplicy (que estava no Mdb) e Luiza Erundina (Psol), ambas eleitas pelo Pt quando governaram a cidade de São Paulo. O eleitor que tem mais o que fazer além de viver o dia a dia da política, das disputas internas e interesses que dividem antigos aliados por diversas siglas, é a maioria a ser conquistada. É sempre bom lembrar isso. O Mdb catarinense, maior partido do Estado, pode viver uma situação semelhante à que viveram os petistas paulistanos em 2016.
O partido tem um pré-candidato, Antídio Lunelli, que luta para levar o 15 para a urna. Dentro do partido, mandatários – especialmente deputados estaduais e prefeitos – trabalham para que o partido componha com o governador Carlos Moisés (Republicanos), que ofereceria à legenda as vagas de vice-governador e senador em sua chapa. Na manhã de terça-feira, a executiva estadual convocada pelos moisezistas à revelia do presidente estadual Celso Maldaner propôs outra convocação: desta vez, do diretório estadual, para que sejam colocadas na mesa de forma oficial todas as possibilidades que o Mdb tem. As articulações de Antídio, a proposta de Moisés, encaminhamentos de Gean Loureiro (União) e Jorginho Mello (Pl), se houverem.
Saindo um pouco do cabo de guerra entre a direção estadual e os mandatários emedebistas, não é difícil imaginar que em outubro um eleitor acostumado a votar no Mdb pergunte por que o partido lançou mais de uma candidatura – como a senhora simpatizante do Pt perguntou a Haddad em 2016. Digamos que Antídio fique pelo caminho e os emedebistas apoiem oficialmente o Republicanos – ou seja, deixando o 15 fora da urna eletrônica na disputa pelo governo. Nesse cenário, teríamos a possibilidade de que esse Moisés apoiado pelo Mdb enfrente o ex-emedebista Gean Loureiro, o ex-emedebista Dário Berger (Psb) e, de quebra, o senador Jorginho Mello (Pl) com a suplente Ivete da Silveira (Mdb), viúva de Luiz Henrique da Silveira, no horário eleitoral chamando os emedebistas a votar no parceiro.
O que vai fazer o eleitor do Mdb? Note que eu não estou falando dos nove deputados estaduais e seus suplentes, nem dos três deputados federais, dos 97 prefeitos, dos 795 vereadores, dos 295 presidentes municipais do partido, dos cerca de 10 mil integrantes de diretórios e nem mesmo dos 187 mil filiados à legenda no Estado. Estou falando do eleitor que não vive o dia a dia da legenda, mas que costuma votar no 15. Um contingente que em 2018 deu à candidatura de Mauro Mariani (Mdb) 23% dos votos válidos na eleição catarinense mesmo com a Onda Jair Bolsonaro impulsionando o 17. Insuficientes para levar o ex-deputado federal ao segundo turno, mas expressão de resistência relevante do partido em seu pior momento político.
Talvez esse eleitor não entenda esse Mdb fragmentado, sem 15 na urna, e com tantas figuras familiares na disputa. E se o 15 estiver na urna, com Antídio, sem alianças, fará diferença? Essa é a pergunta que os emedebistas de carteirinha terão que responder nas próximas semanas e, em última instância, na convenção do partido dia 5 de agosto. Sem esquecer daquele emedebista sem carteirinha que não está preocupado com as disputas internas do partido. O eleitor do Mdb é maior que lideranças e caciques – e será disputado por todos os candidatos, inclusive o do Mdb, se houver.