“Investir em fundos é um exercício de humildade”. Essa é uma das frases que captei das minhas pesquisas do mercado financeiro em 2021. Ricardo Schweitzer, atualmente analista independente, depois de passagens pela Empiricus e Nord Research, puxa ela da manga vez ou outra para explicar que mesmo ele, que tem dezenas de milhares de "horas de voo” na análise de ações, também investe parte do patrimônio em fundos, por entender que não é infalível. E faço questão de abrir esse conceito que demorou para entrar na minha concepção de carteira.
Quem me conhece ou acompanha no rádio, nota facilmente que eu sou aficionado pela dinâmica dos investimentos. E, como em praticamente todos os campos de estudo que nos aprofundamos por prazer, o primeiro momento é guiado pelo desejo de “botar a mão na massa”.
Quando o foco do estudo é investimento em renda variável, isso se traduz em querer montar a própria carteira, estudando os múltiplos de cada empresa, comparando com os concorrentes, buscando opiniões e coisas do tipo. É o que chamam nos investimentos de stock picking (que é, simplesmente, “escolhendo ações”, em inglês).
Há, inclusive, uma tendência de influenciadores em caracterizar essa prática como “o jeito certo de investir”, já que o investidor é o dono do dinheiro e é quem tem que definir cada item da própria carteira. Outro ponto que incentiva esse raciocínio também é que cada 1% que aquele conjunto de ativos valorizar, será por mérito próprio, direto e exclusivo do investidor. Digamos que a dinâmica é mais “emocionante”.
Mas é importante ter em mente que a gigantesca maioria dos investidores gera a receita necessária para investir de um emprego ou negócio fora do mercado financeiro e, por conta disso, tem disponibilidade de tempo limitada para estudar os movimentos do mercado, as mudanças das empresas, cenário macroeconômico e tantas outras variáveis que impactam diretamente no desempenho da carteira. Comparados com atores do mercado financeiro, são jogadores de fim de semana frente a atletas profissionais.
Também é importante levar em conta o custo/benefício. Algumas casas de análise incentivam que no lugar de pagar o famoso “2 com 20” (2% de administração + 20% de performance sobre o que exceder um desempenho pré-definido) cobrado pelos fundos pelo serviço prestado, o investidor deve assinar as suas recomendações e montar a própria carteira.
Mas faça as contas com a sua carteira. Se você pagar R$ 40/mês numa assinatura razoável de uma research, serão R$ 480 por ano que, se levar em conta o padrão de 2% de administração de um fundo, passaria a valer a pena a partir de R$ 24 mil investidos. Além disso existem as taxas de corretagem. Então acrescentemos, arredondando pra baixo, numa carteira mais estática, uma operação de compra e uma de venda por semana, ao custo de corretagem de R$ 4,90. Os custos já sobem para R$ 990 no ano e já estamos tratando de um mínimo de R$ 49,5 mil investidos e pouco mexidos para que os custos sejam mais vantajosos que os de uma gestora profissional.
Avançando no raciocínio, com certeza todo investidor já se pegou lendo/ouvindo/assistindo a uma entrevista de um gestor de fundos como João Luiz Braga (Encore), Florian Bartunek (Constellation) ou Rogério Xavier (SPX) e pensando que “se esse cara cuidasse da minha carteira, eu ficaria rico”. Isso é natural! Eles são os profissionais. São eles que estão no jogo, que tem contato com os CEOs das empresas, que sabem calcular riscos, que tem as ferramentas mais avançadas e, o que faz muita diferença, tem mobilidade para entrar e sair de posições quando necessário.
Mas, se pararmos pra pensar, não é isso que fazemos ao investir em um fundo? Parafraseando de novo o Schweitzer, não é questão apenas de assumir sua limitação humildemente e delegar a quem tem mais capacidade a tarefa de multiplicar uma parte do seu patrimônio?
Se no lugar de ver a lista de fundos disponíveis que o site da corretora apresenta, você estive recebendo de algum desses gestores a seguinte proposta:
Eu administro seu dinheiro e me comprometo a fazê-lo render acima do mercado. Para isso, te cobro pelo serviço 2% ao ano sobre o patrimônio investido e 20% sobre os rendimentos que superarem o Ibovespa (índice que define o movimento médio da bolsa de valores brasileira).
Você assinaria embaixo?
PS.: Nada contra ter as próprias ações, escolhidas “a dedo”. Eu tenho também e acompanho com atenção de pai. Mas o desempenho da carteira melhorou bastante depois que passou a contar com a experiência de alguns gestores.